Capítulo 1 - A Chegada

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Acabada de chegar, olho à volta, respiro fundo e levanto a cabeça. Começa agora uma nova etapa da minha vida.
De malas e bagagens mudo me para cuidar da minha avó, ela no ultimo ano teve dois inícios de avc. Dos quatro netos fui a única a voluntariar-me, porque? Nem eu sei ao certo... mas acho que precisava de encarar a vida de outra forma e na altura mudar-me para um pais tropical foi o melhor que se arranjou.

Mal sabia eu para o que estava guardada, a minha avó vive num morro!? Como assim!?
O táxi deixou-me à no inicio de uma grande subida e apenas disse-me: 
- Moça eu não subo ai não, olha sua avó vive mesmo no fim dessa subida lado direito, numa casa azul.
- Mas vai me deixar aqui assim? - conforme acabo de lhe responder ele arrancou a uma velocidade medonha, olho à minha volta e vejo chegar cinco jipes seguidos, todos pretos e de vidros escuros.
- Quem é você? - perguntou-me um homem careca e com uma grande cicatriz no rosto.
- Neta da dona Emília. - respondi meio a medo.
- Vai querer uma ajuda com as malas gata!?
- Não, obrigada.

Os jipes arrancaram e eu já to meio com vontade de voltar para a minha rica casinha. Começo a subir a rua e rezo para conseguir chegar a casa da minha avó sem que nada aconteça, levei uns vinte minutos mas cheguei.

Bato à porta e sou recebida com o melhor abraço do mundo, a minha avozinha estava tão feliz que se eu não soubesse desconfiaria do quadro de saúde dela.
- Ainda bem que foste tu que vieste minha querida! Não tinha vontade nenhuma de ouvir os sermões da tua mãe.
- Como é que a avó se sente?
- Bem melhor agora, mas temos tanto tempo para falar de mim, conta me como foi a viagem?
- Por viagem, a avó conhece os vizinhos?
- Sobre isso vamos ter mesmo de falar, eu não quero que te assustes, mas cada morro tem o seu 'dono'. Ele é que decide quem cá mora, pagas lhe uma renda e se for preciso fazes uns trabalhos para ele.. isto para ficares protegida dos outros e dos gangs que por ai andam. - Contou-me a minha avó de uma forma muito natural.
- Avó, eu vou começar a procurar uma casa no centro, os pais podem ajudar e eu também começo a trabalhar. - digo isto pegando no telemóvel, a minha avó pega na minha mão e trava-me.
- Achas que lá fora é melhor? Aqui nunca me faltou nada e há mais segurança do que na cidade, confia  em mim.. O Mateus não vai deixar que nada te aconteça a ti também.
- Quem é o Mateus? - perguntei rezando para que isto não passasse de um desvaneio ou algum tipo de colapso pelos inícios de avc que a minha avó teve.
- Ora o Mateus é o dono do morro, vais ter tempo para o conhecer.

Comecei a arrumar as coisas no meu quarto e abri a janela, comecei a observar as pessoas na rua.. estavam felizes e não me pareciam antipáticas como os vizinhos de Lisboa. Comecei-me a rir ao lembrar-me da conversa feita pela minha avó.. só ela para imaginar tal coisa. 

Desci as escadas e deparo me com ela estendida no chão e inconsciente.
- Avó, avó consegue-me ouvir!?
Entretanto entra-me casa a dentro uma vizinha
- Vinha ver como a sua avó estava, já chamou uma ambulância?
- Já sim.. - disse entre lagrimas. 
- Corre lá para baixo então, se não tiver lá ninguém não vão deixar a ambulância subir. Eu fico com ela não se preocupa, vai!
Eu ao certo ainda não sabia bem como lidar com este choque de culturas e encarar a maneira de viver neste lugar, muito menos lidar logo com mais desmaio da minha querida avó Emília.

Corri o mais rápido que conseguia e quando cheguei a ambulância tinha acabado de chegar.
- Não vai entrar não! - disse o tal homem careca e de cicatriz no rosto.
- Vai sim! - disse eu empurrando o homem e chorando já quase em desespero.
Sinto-me ser agarra e puxada pelo braço, olho e vejo um rapaz, cara tranca e não aprecia querer ajudar.
- Quem é você? - perguntou.
- Eu sou neta da dona Emília, por favor deixem a ambulância subir, por favor.. - disse já me faltando o ar.
Ele apenas assentiu com a cabeça e os outros deixaram passar.
- Entra no carro, eu levo você até lá.
Não fui capaz de dizer nada, apenas soluçava, logo no primeiro dia este turbilhão.
Quando chegamos a minha avó já estava a ser assistida e já estava consciente, olhou para mim e sorriu.
- Sua avó precisa de descanso, precisa de se alimentar direito e pedi logo para uma enfermeira amiga mandar para você as receitas dos remédios que ela não tem tomado. Assim que possa tente comprar, sei que são caros, mas ela precisa.
- Sem problema, muito obrigada!

Depois dos paramédicos saírem sentei-me junto dela e perguntei o que se passava, confessou-me que desde que descobriu que eu vinha tenha feito uma geral na casa e os remédios tinha se esquecido. Dona Cidália, vizinha que apareceu no momento de aflição dirigiu-se a mim:
- Se quiser ir à cidade comprar eu posso ficar com ela.
- Obrigada, vou aproveitar sim, assim também trago algumas coisas que já vi que fazem falta. Como é que eu posso chamar um táxi?
- Não precisa, eu vou com você.
Olhei para a porta e lá estava o rapaz que deu permissão para entrada da ambulância, encostado à ombreira da porta.
- E você quem é?
Ele soltou um leve riso e baixinho a minha avó respondeu : - Mateus, o nome dele é Mateus!

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