Capítulo 13

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Thomas estava caído no chão cinzento sem se mover. Minutos já haviam se passado, mas eu permanecia no mesmo lugar, sem entender o que havia acontecido.

Sangue escorria do pescoço de Thomas, onde a tesoura estava cravada, e uma poça avermelhada já havia se formado perto de seu corpo. Eu não conseguia desviar o olhar do cadáver à minha frente e ao mesmo tempo eu preferia morrer a continuar olhando para aquilo. Como isso havia acontecido? Eu não entendia como o homem que há um minuto estava pronto para me matar, resolvera acabar com a própria vida tão depressa.

Quis gritar e chorar até que minhas lágrimas borrassem a imagem do garoto pálido sem vida, mas não conseguia fazer nada além de encará-lo. Levei meu braço livre a boca e o mordi com força. A dor era excruciante, mas eu precisava me livrar da ansiedade e do medo que sentia e a dor me ajudaria com isso. Como aquilo foi acontecer? Perguntei-me novamente. De alguma forma eu sabia a resposta. Sabia que Thomas não faria isso consigo. Não sem que algo o obrigasse a fazê-lo.

Parei com a mordida assim que senti o gosto salgado do sangue. Balancei a cabeça tentando me tirar daquele transe. Eu precisava sair dali o mais rápido possível. Não demoraria muito até alguém me encontrar. E se havia alguma dúvida em alguém sobre eu ter matado Vicenti, essa dúvida seria sanada no momento em que vissem o corpo de Thomas caído a minha frente.

Criei coragem e tentei alcançar com a mão livre a chave que estava presa no cós da calça de Thomas, mas ele estava longe demais. Com os pés, alcancei seu tronco e puxei-o para mais perto. Sentir a pele macia ainda quentinha de Thomas fez a minha ânsia de vomito aumentar e eu fiz força para não ceder.

O sangue se espalhava ainda mais pelo piso a medida que eu arrastava seu corpo para perto. A chave ficou acessível e eu consegui me desprender.

Levantei-me. Havia um jaleco jogado em uma cadeira ao meu lado e eu o vesti. Ao menos eu cobriria minha roupa suja de sangue e não chamaria tanta atenção quando saísse para o corredor. Ponderei em pegar ou não a tesoura do pescoço de Thomas, mas não tive coragem de me reaproximar do corpo.

Saí porta afora sem saber exatamente para onde ir. Assim como quando Thomas havia me trazido, não havia ninguém por ali. Passei cuidadosamente pelos corredores, torcendo para não esbarrar em ninguém. Virei em uma esquina e senti uma leve brisa que vinha da minha direita. Se houvesse uma saída, era naquela direção.

Percorri todo corredor quase que correndo. Queria chegar o mais breve possível lá fora. Mas quando estava mais próxima eu pude ver a tão desejada porta de saída com dois guardas junto dela. Virei em um corredor a direita e parei. Precisava pensar em algo que eu pudesse fazer para me livrar daqueles dois e tinha que ser rápida. Eu já havia identificado câmeras espalhadas pelos corredores e as evitava a todo custo. Tinha sorte de até agora ninguém ter me encontrado e impedido a minha fuga. Talvez o jaleco tivesse me ajudado de alguma forma. Todavia, isso não iria durar para sempre. Uma hora ou outra iriam descobrir o corpo sem vida de Thomas e viriam atrás de mim.

A saída estava logo ali, mas os guardas também. Se o que Thomas havia dito sobre Mark estar negociando minha saída era verdade, então os guardas não poderiam atirar contra mim. Se ao menos eu tivesse tido coragem de tirar a tesoura do pescoço de Thomas e trazido comigo, isso me daria mais chances em uma luta corporal contra aqueles dois.

Mas no que eu estava pensando? Eu não era como Mark ou Tom, não sabia lutar ou tinha poderes, pelo menos eu achava que não. A cena da morte de Thomas surgiu em minha memória como um redemoinho. Será que eu havia feito aquilo? Como? Mas isso é impossível! Contudo, eu também achava que era impossível Mark ter parado o carro com o poder da sua mente e eu estava errada.

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