Migalhas de Luriel
-Você cortou o cabelo.- a sentença saiu quase como um surruso estrangulado.
Azriel estava parado em frente a sacada de sua casa. Nas mãos ele segurava uma garrafa de vinho da corte noturna e duas taças de cristal. Um cheiro característico suave e cítrico de flores de uma noite de primavera impregnava o ambiente daquela sala, fazendo com que as narinas do mestre espião dilatarem e suas sombras dançarem uma música calma ao seu redor, elas sentiam e apreciavam o cheiro e a sensação de estar em casa.
Como eu senti falta disso - pensou assim que colocou os pés no antigo apartamento.
O lugar parecia estar do mesmo jeito que deixou a um mês atrás, as almofadas e o lençol azul que havia trazido da corte noturna ainda formavam uma pequena bagunça no sofá. Livros e canecas espalhadas pela mesa de centro e os mesmos casacos de seu uniforme pendurados ao lado da porta.
Lucien havia lhe mandado uma carta pela manhã enquanto estava cercado de pilhas e pilhas de documentos de guerra, o rei solicitou a presença de seu mestre guerreiro em sua casa para tratar de assuntos particulares. O bilhete carregado de formalidade nas letras bem desenhadas, trouxe ao illyrano um pouco de esperança para um entendimento entre eles.
Mas agora, na sala de estar, parado como uma escultura de pedra, toda aquela certeza sobre seu casamento desapareceu quando seus olhos pousaram no macho à sua frente. Seus cabelos estavam mais curtos, na altura do maxilar, as bochechas rosadas e olhos, aqueles por quem se apaixonou a anos atrás, havia mudado seu brilho, tinham um ar sério e cansado que deixou o illyriano certamente desconfortável.
Vestia uma calça clara, robe florido e não parecia estar usando nada além disso, apoiada no sacada a pele morena parecia se iluminar com as luzes da cidade para qual o ruivo estava olhando quando Azriel chegou.
Havia muito diferente em Lucien, algo que o coração do encantador de sombras julgou ser incapaz de julgar.
-Você acredita que é a sexta pessoa que aponta isso só hoje?- Lucien soltou um riso baixo ao voltar a se apoiar e olhar a cidade iluminada que se estendia a sua frente.
-É só que…- as palavras pareciam fugir de sua boca.- Ficou diferente, sabe? Ficou…
-Esquisito?
-Expetacular.- a palavra simples tirou um sorriso singelo do ruivo, mas forte o suficiente para que o coração de Azriel se aquecesse.- Me chamou aqui?- disse depois de coçar a garganta.- Disse que queria conversar.
-Bem, sim. - Lucien se posicionou ereto e gesticulou para que o moreno se aproximasse.- Não nos vemos desde… você sabe.
-É sobre isso que quer conversar?- Lucien acenou brevemente.- Ainda não mudei de opinião em relação a nós. E definitivamente, não estou desistindo do nosso casamento Lucien.
-Não é só isso Az. - A breve menção do apelido fez com que o coração do mestre espião palpite se, ele se sentia um adolescente naquele momento.- Muita coisa aconteceu e não acho que tenhamos tratado o assunto com a devida maturidade.- suspirou.- Eu não tratei com a devida maturidade. Apenas eu falei, não escutei o que tinha a dizer.
Em um gesto tímido, o ruivo pegou a mão do moreno e o levou ao sofá, sentando-se um de frente ao outro.
-Então é a minha vez de falar?
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Corte da Irmandade
FantasyE se vinte anos depois da sua morte, a rainha dos vivos e dos mortos e segundo ela, a fêmea mais poderosa dentre os féericos, saísse das sombras com um único objetivo, pegar o que um dia teria sido dela? Ela queria e ela teria. Mas para isso precis...