- Sim eu aceito!
Foram as três palavras que me fizeram o homem mais feliz durante 5 anos, durante 5 anos eu fui casado com a mulher da minha vida, a dona do sorriso mais lindo que eu já vi, aquela que me completava em cada detalhe, bom pelo menos era oque eu pensava, até chegar o dia de assinar o nosso divórcio.
Cecília, esse era o nome daquela que em muitas vezes tirou meu sono, algumas noites de prazer outras perdido nos meus pensamentos, nosso casamento ia mil maravilhas, o amor que tínhamos era necessário, também era oque eu pensava, até ela vir com a história de termos um fruto do nosso amor, mas eu não poderia, eu não seria capaz, eu nunca aprendi oque é ter amor de um pai, eu nunca seria um bom pai, então preferia sempre que fosse apenas eu e ela.
Enxergava as pessoas ao nosso redor realizando o sonho da minha esposa, e sabia que eu nunca iria proporcionar isso a ela, então tomei a pior decisão da minha vida, deixa ela ir, deixar ela ser feliz e realizar o sonho dela com outra pessoa.
- Você tá maluco Matheus, não vamos terminar por isso!! Eu amo você, eu não sei viver sem você Matheus, pelo amor de Deus pensa bem se é isso que você quer.
Ela não entendia... Ela nunca entenderia, eu não posso...
- Eu não posso porra!! Entende Cecília, eu nunca vou ter um filho, eu não quero!!
Ver os olhos castanhos dela totalmente vermelhos, me quebrava por dentro, e o pior é saber que eu sou o causador disso tudo.
- Meu amor, eu te amo, eu entendo... No futuro quem sabe a gente pode...
- Não Cecília, a gente nunca vai ter filho, nem nosso e nem adotado eu não quero!! E eu não quero te ver infeliz também meu amor, por isso eu tô terminando, eu quero ver você feliz Cecília me entende!!
- Nunca vou entender você Matheus, nunca mesmo!
Ela tentou sair, mas segurei ela.
- Me perdoa Cecília.
Vi a mulher da minha vida sair pela porta sem nem mesmo olhar pra trás, mas oque eu queria? Afinal eu que terminei com tudo.
Mais uma vez ele chegava bêbado em casa, eu era só uma criança...
- Meu filho, porque você não vai pro seu quarto?
- Mas eu tô com fome mamãe.
- Dorme meu amor, a fome passa, você vai ver.
Minha mãe me pegou no colo e me levou até o quarto, onde todas as noites eu ficava acordado ouvindo os gritos dela, na verdade era onde eu vivia.
Mas naquela noite eu não dormi, minha barriguinha doía de mais, eu precisava de pelo menos uma bolachinha para parar de doer.
Sai do quarto, e fui tentando me esconder para mamãe não brigar comigo, mas aí o meu pai me viu.
- EU FALEI QUE NÃO QUERIA VER ESSE MOLEQUE PELA MINHA CASA!!
- Sebastião pelo amor de Deus, bate em mim, ele é só uma criança!!
- Criança que vive as minhas custas, nem sei se é meu filho, tu deveria ter morrido seu demônio!!
Sebastião era nome dele, meu pai, naquele noite aquele que deveria me proteger e cuidar de mim, me espancou na frente da minha mãe, até eu perder os sentidos, eu quebrei o braço e tive a mandíbula deslocada, e ali entendi porque minha mamãe me escondia dentro do quarto, meu pai ele não gostava de mim.
Acordei assustado mais uma vez depois do pesadelo, pesadelo não... Das lembranças que me sempre me atormentaram.
A violência do meu pai não acabou por aí, com o tempo fui crescendo e entendo o porque nunca tinha comida em casa, ele bebia e usava drogas então nunca sobrava dinheiro, entendi o porque minha mãe vivia machucada e o porque eu nunca podia sair do meu quarto, ele não queria me ver, ele não queria que os outros soubessem de mim, pra ele eu era um animal que deveria viver trancado, não pude ir para escola como uma criança normal, não poderia ter amigos, minha única amiga era a minha mãe.
As vezes eu ficava pensando, oque uma criança tão pequena e indefesa fez para merecer tanto sofrimento.
Até que um dia, quando eu completei 13 anos minha mãe fez um bolinho pra mim e para ela comemorar, e ele chegou mais cedo em casa.
- Que porra é essa Vera???
- Calma Sebastião, Matheus vai pro quarto amor.
- Mas mãe o bolo...
- Vai Matheus, mamãe leva daqui a pouco pra você.
Fingi que fui para o quatro e fiquei no corredor escondido.
- Bolo? Animal não come bolo Vera!!
- Não fala assim do teu filho Sebastião!!
- ELE NÃO É MEU FILHO, EU SEMPRE TE FALEI VAGABUNDA QUE EU NÃO QUERIA MERDA DE FILHO!!
Assisti Sebastião jogar a minha mãe no chão.
- EU TO CANSADA! VOU PEGAR O MATHEUS E IR EMBORA DAQUI.
O desgraçado riu, como se minha mãe contasse uma piada.
- E vai pra onde?
- VOU PRA PUTA QUE PARIU!!
Sebastião assumiu um olhar de raiva intensa e partiu pra cima da mamãe, ela gritava eu vi sangue saindo do rosto da minha mãe, não fiquei parado, vi uma faca em cima da mesa e decidi que iria acabar com todo o sofrimento, mas ele viu.
- Vai me matar animalzinho? Mata!
- Matheus para... Filho...
- Se tu não me matar, quem te mata sou eu resto de aborto, animal, filho do demônio, tinha que ter morrido, só me deu gasto todos esses anos, eu te odeio.
Vi meu olhar embaçar, lágrimas caindo, e então corri na direção dele, acertando fatalmente meu próprio pai, com 13 anos assassinei meu pai.
Me responde agora, como eu seria um bom pai? Como eu poderia? Essa parte da minha vida ninguém sabia nem mesmo Cecília.
E ninguém nunca saberia... Ninguém nunca me entenderia.
Personagens
Cecília, 30 anos, Advogada.
Matheus, 32 anos, Delegado da PF do RJ
Bem vindos a uma nova história, história curta de 10 capítulos.Boa leitura!