Primeiro Oceano

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  Eu olhava com uma mistura de sentimentos conflitantes o cais se afastar do alcance dos meus olhos enquanto o iate entrava em mar aberto. Se por um lado eu sentia animação e um pouco de ansiedade de estar voltando para a ilha dos meus antepassados para pegar minhas coisas mais preciosas, também sentia certo pesar de estar partindo de Enseada Rubra, afinal aquele agora era o meu lar, lar dos meus homens, o lar onde eu iniciaria uma família.

Aquela foi a terra escolhida para o imperador reiniciar seu lar. Aquele lugar era igualmente precioso...

Braços enrodilharam minha cintura e eu sorri.

Jeff.

— Você parado aí com esse olhar distante me faz ter um déjà-vu, sabia?

— Ah claro, o Bonitinho do pijama, hein?

O provoquei quando ele me abraçou mais e riu enquanto abaixava a cabeça para repousar o queixo no meu ombro:

— Nosso destino estava atrelado com as bençãos do mar, não é mesmo? A sereia que roubei e agora preciso pagar com minha vida por esse ato de assalto! Uma vida toda de dedicação e fidelidade...

— Gostei da coisa da dedicação, Jeff Mercin. Continue.

Falei levemente brincalhão me virando e o abraçando de volta porque afinal os braços daquele homem eram sempre convidativos. Jeff não era só bonito e simpático, ele era afável e carinhoso. Ele era um coração de manteiga que eu tive a sorte de roubar para mim:

— Você está com uma carinha de sono de dar pena.

Disse a ele enquanto me soltava um pouco dele e o olhava mais atentamente.

O sono e exaustão dele não era em vão: Jeff teve de fazer o trabalho de um mês em um dia para deixar tudo pronto para a sua ausência de meses e ainda ajudou com o reabastecimento do Rainha Gelada já que para o primeiro trajeto que era cruzar o oceano Atlântico dali até Cabo Verde que era o menor trecho entre os dois continentes, o iate precisava de plena e segura autonomia e para uma tripulação de seis pessoas, nós quatro e mais duas capitãs: Bárbara e Bianca, a irmã gêmea e também 'corvo' do Daniel, água, comida e outros itens precisavam estar devidamente carregados. Fora o combustível e peças de manutenção extra. Aprendi que preparar uma viagem daquelas não era em nada para amadores, e que embora Daniel fosse o lobo do mar 'chefão' do rolê, Jeff entendia muito da coisa toda também, afinal sua família era de mercadores, estava também em seu sangue afinal.

Mas mesmo na correria que inclusive eu me envolvi de cabeça, tudo deu certo e agora estávamos indo para aquela viagem de 'recuperação de itens' como Cai apelidou e também para uma lua de mel prévia, como Jeff disse noite passada em nossa última ligação e ele estava mesmo todo empolgado por telefone. Claro que embora nós dois estivéssemos mancomunados em tornar a viagem uma núpcia, tínhamos que ter cooperação e esses detalhes deixamos para acertar no 'andar da carruagem'. Eu dormi noite passada na mansão até porque Daniel também passou todas as horas depois do nosso café da manhã resolvendo o assunto viagem e todos concordaram que com o Cai eu ficaria menos estressado.

Na verdade, eu deveria ter era dito que com Cai eu ia ficar era na beira da piscina sozinho mesmo porque ele também foi trabalhar dois meses em um dia e eu até mesmo não o vi voltar para casa de noite. Mas o fato era que eu era o único que dormi de todo mundo e me sentia meio que culpado no momento.

Quer dizer, eu parecia ótimo aquela manhã e Bianca também.

Primeiro de tudo eu tomei um susto em saber que a toda malvada Bárbara tinha uma irmã gêmea, depois me assombrei mais ainda em saber que ela também era capitã. Não só capitã, mas ex 'navy' norte americana. Ela tinha voltado ano passado para Enseada Rubra e aceitado trabalhar com a irmã como forma de 'passar o tempo'.

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