Nascida no Rio de Janeiro.
Dezessete anos nas costas, trabalhando, e tendo a família perfeita. Prazer, Mariana. Na verdade não é só Mariana... é Maria Mariana.
A verdade é que essa minha "família perfeita". Não é totalmente minha. Quando tinha meses fui deixada no lixo, realmente no lixo. Até minha mãe, Kaiçara, me adotar.
Ela me encontrou lá e não pensou duas vezes, me levou pro hospital. Foi avisar a família quando as enfermeiras ja estavam me examinando.
Infelizmente ela não conseguiu meus dados, e nem me adotar de primeira. Fiquei um mês apenas na adoção. Meu tio, Vitor Hugo, que apressou tudo fazendo eu ser adotada mais rápido.
Eu sempre fui criada pela minha mãe, a mãe da minha mãe (minha vó) e Vitor sempre esteve presente. O problema é que eu sou um grude nele, diz ele que a minha primeira palavra foi "vito".
Minha vó só teve outras três filhas, elas moravam com a gente, mas já saíram de casa sobrando apenas nós quatro. Porém os filhos das minhas tias vem direto aqui. A casa nunca tá vazia.
Minha mãe trabalha de cuidadora e minha vó é aposentada, ela vende uns doces de Minas Gerais e é só Deus atrás dessa velha.
Vitor, infelizmente, é do crime. Ele é o sub do dono do morro, que não é ninguém mais que o meu best, xamã.
Ele é bem humilde, mesmo sendo dono do morro, trata todo mundo "normal".
── Vózinha, diz que eu não tô atrasada. ── murmuro descendo as escadas a milhão com minha mochila nas costas.
Incrivelmente, eu e Vitor dormimos no mesmo quarto. Porém em uma beliche, eu em cima e ele embaixo.
── Se eu disser que não, vou tá mentindo. ── murmura olhando uma revista ── As menina vão te deixar sem emprego, não sei pra que essa demora!
── Meu cabelo não é fácil de arrumar. ── reclamo e pego uma bolacha colocando na boca ── Sobrou café? ── pergunto embolado.
── Quase que não, seu tio bebê café igual bebe cachaça. ── reclama e eu tive que rir.
Coloco o café em um copo de plástico, se eu levo um copo dessa senhora pra fora de casa... aí de mim.
── Beijo, te amo. ── beijo sua testa.
── Se cuida, pelo amor de Deus! ─ me grita.
Concordei e saio de casa. Moramos mesmo que no topo dessa favela, coisa boa é a vista que tem do meu quarto.
── Apressada por que? ── Vitor me aparece em cima da moto.
Meu "tio" é aquele tipo de traficante que não fica acabado. Ele tem uma cara de quem fuma, mas não do tipo que fica com cara acabada e os caralho a quatro.
── Eu trabalho, meu anjo. ── falo andando apressadamente e ele me acompanha com a moto.
── Sobe na garupa do pai, ce não pode ficar afobada não.
Infelizmente eu tenho asma, Vitor dorme no mesmo quarto que eu, com medo de eu ter um ataque e não conseguir pegar a bomba.
── É meu caminho de todo santo dia, relaxa. ── explico.
── Você tá toda afobada, sobe essa bunda nessa porra de moto logo, Mariana. ── manda sério e paro para o encarar.
── Por causa do seu tom, eu não vou subir. ── ele passa a mão na testona e voltei a andar.
── Vou contar até dez...
── Conta até cem porra, que até lá eu já vou ter chegado. ── grito como já estava longe.
Oh raiva que eu tenho desse corno manso, ele quer mandar até na minha respiração. Fico puta com isso... mas meu lado de leitora aprova tanto...
── Por pouco. ── Milena fala quando entro no salão.
── Relaxa que eu to sempre na hora, gata. ── pisco pra ela.
Meu trabalho aqui é cabelo, e eu amo! Nosso salão é o mais "famosinho" da favela. Bastante gente vem aqui, e quando eu digo bastante... é a favela toda.
── Vai ter baile esse fim de semana, quero nem ver o quão lotado aqui vai ficar. ── Mi diz fazendo a unha da mulher a sua frente.
── A gente vai né? ── pergunto. Nem sou festeira.
── Se o seu tio não estragar tudo como da última vez... ── Raissa murmura enquanto faz o cabelo de outra mulher.
Nem preciso falar nada né? Baile passado a desgraça do Vitor acabou com a festa porque viu um menino dando em cima de mim. Fique três dias se falar com ele também, o bichinho quase que chora pra eu "parar de drama".
── Relaxem, gatas. ── pisco para as duas.
── Ele acabou com um baile todo, por causa... dela? ── a loira, que não conheço, fala enquanto Mi faz as unhas dela.
── Sim. ── Milena murmura.
── É a mulher dele? ── pergunta com desgosto e quase que gargalho.
── Não meu anjo, só sobrinha. ── pisco.
── Gente... que gato. ── escuto as vozes.
── Quem? ── pergunto quase quebrando o pescoço.
── Minha nossa... ── Milena quase baba.
Olhei na direção que ela tava olhando, vi Vitor sem blusa a mostrar as suas tatuagens. Apenas com uma bermuda preta de moletom, que eu que comprei, e o tênis da Nike.
Ele faz um sinal com a cabeça enquanto me olha. Pedi licença pra minha cliente e sai do salão parando de frente pra ele.
── Você tá boa de levar uma surra. ── me estica a bombinha.
── Ah, que dama delicada, é que ele tá com sono bem. ── imito aquele tiktoker que faz de Maria Alice ── Obrigado, meu bem.
── Quando eu falar que é pra você ir comigo na moto, você tem que ir. ── reviro os olhos ── Fica com essa não Mariana, vou te dar um cacete qualquer dia.
── Você não é meu pai, nem minha mãe pra me bater. ── cruzo os braços o desafiando.
── Mas é eu que te dou comida todo mês, que compra seus remédio e ainda por cima, cuido de você.
── Deixou de cuidar de mim a muito tempo.
── Eu não vim aqui atoa. ── aponta pra bombinha ── E você esqueceu sua marmita em casa, me espera aqui na hora do almoço.
── Eu não vou te esperar! ── falo um pouco mais alto já que ele estava se afastando.
── Fica nesse então, em casa nois conversa.
Arrepiou até os cabelo do cu? Sim, mas não abaixo a cabeça pra macho não, muito menos pra esse corno manso.
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Terça De Tarde
FanfictionNão a nada que possa fazer, quando duas almas estão destinadas a ficarem juntas. Esse é o caso do Vitor Hugo e Mariana, o destino uniu os de uma forma "estranha", porém isso não modificou o sentimento que um tem pelo outro. ━━ Terça de Tarde, ela...