De onde vem esse som ensurdecedor de chuva se o dia está limpo como meus olhos?
Porque me sinto tão pesaroso e envolto em um patético fatalismo, como se visse realmente o céu chorar?
De onde vem esse som, cada vez mais alto de chuva?
Mas não qualquer chuva, uma chuva áspera e vermelha nunca antes vista, de onde vem isso se não estou vendo nada?
Em uma tentativa desesperada, abro minha boca e grito por ajuda, porém nenhuma palavra sai, só uma poça enorme de um barro rubro asqueroso e fétido, e junto dele o som antes descrito sai mais alto, porém dessa vez sei de onde veio.
Esse dia inutilmente belo, quente e reconfortante, com milhares e milhares de cabeças se banhando em suas bençãos luminosas não é mais o suficiente.
Não é suficiente estar envolto de beleza e de potenciais felicidades.
Eu não preciso de nada disso.
Nem sol, nem lua, nem beleza e nem mais porra nenhuma conseguirá me salvar de um iminente afogamento nessa enchente causada de lágrimas de sangue que lentamente entopem todas minhas artérias até que eu caia.
Caia, me deite e me lembre de uma antiga lembrança: Um lindo céu ensolarado, limpo e inocente e de olhos tão limpos e inocentes quanto.
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Solilóquios
PoetryPequeno emaranhado de textos e meditações. Arte da capa: Título: Christ with Crown of Thorns Artista: Khalil Gibran (1883-1931)