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Eram quatro da madrugada, e eu realmente havia perdido as esperanças de ter um sono reparador antes de ser levado ao inferno verde que Hobi tanto insistiu em ir.
Não me leve a mal, eu amo o verde. Sério! Eu sigo medidas de uso consciente dos recursos naturais, entre outras coisas que busco fazer no meu dia a dia, já fui voluntário em uma ongs de preservação ambiental, escoteiro e sou bruxo!
Eu realmente tento fazer a minha parte à mãe natureza. Porém fazer trilha às seis horas da manhã toda vez que meu melhor amigo tem um dramático término de relacionamento, é muito desgastante! Considerando que sofro de insônia desde os meus quinze anos, é ainda mais desgastante.
Me virei na cama umas vinte vezes até acordar com Hobi se jogando em cima de mim. Maldita hora que lhe dei a chave do meu apartamento para emergências. Nunca tive uma e passo raiva sendo acordado cedo contra a minha vontade, mas ele compensa quando faz meu almoço aos domingos antes do tradicional boliche dos amigos da época de colégio.
Meu melhor amigo é um amorzinho e eu definitivamente não sei dizer não pra ele, o que já me meteu em muitas situações complicadas. Gosto de pensar que nos rendeu boas histórias pra contar às próximas gerações. Claro, dentre tantas, uma em particular não nos orgulharíamos de contar, embora parecesse ser necessário sempre que alguém questionava o porquê das tipóias atadando meus braços. Me pergunto até hoje porque perguntam isso? Esperam que eu compartilhe algo pessoal com uma pessoa estranha, como quem entrega um ingresso em uma bilheteria esperando assistir a um show? Patético. Mas eu sigo dando essas e outras explicações sobre a minha vida e me questionando porque as dou.
Foi em um acidente de carro. É isso. Assim, seco. Eu respondo assim e geralmente tendem a aceitar, lançar o olhar de "poxa" e seguir a vida deles, mas há algumas almas que questionam se "tem jeito", a questão é que se tivesse, talvez eu já teria tentado ao menos lançar mão né? Na verdade, não. Eu estou numa interminável lista de espera de um hospital, pra que pela terceira vez eles me abram como um sapinho, me dessequem, me fechem de novo e meu corpo continue "fazendo a egípcia", insistindo em não responder. A questão é, se meu cérebro desistiu de enviar comandos aos meus braços, eu também estava começando a desistir de tentar lutar contra isso.
Nesses anos, até antes do acidente há um ano, eu desisti de tentar muitas coisas, uma delas foi o tal do amor. Nossa, como diz Hobi, esse aí eu desisti antes mesmo de tentar, mas na verdade eu tentei sim, porém quando achei que era ele, não era. Fui traído por quem tanto confiei, então não confio mais. Por isso não entendo quando ele insiste em tentar achar isso com alguém romanticamente. Meus conselhos sempre são pra que ele aproveite os momentos com quem está e pare de idealizar demais, porque se o amor já existiu, claramente desapareceu há décadas e hoje só nos restam os livros, doramas e seja lá o que mais sirva pra dar significado a palavra e provar a existência pra quem quer ou precisa acreditar.
Eu sei, ok? Eu sei que parece que eu tô' me lamentando muito e sempre tem alguém com a vida pior que a nossa, mas essa aqui é a minha história então segura o desabafo aí que ele vai servir como contexto pra o que vem depois.
- Yoongi! Pronto para mais uma aventura? - dizia afoito se sacudindo em cima de mim.
- Se eu disser que não, você desiste de me arrastar até lá e me deixa dormir? - eu tentei, mas ele é implacável quando o assunto é me tirar de casa.
- Obviamente que não meu caro. Vamos! Levanta! Namjoon está no carro esperando por nós! - levantou, me puxando consigo.
- Namjoon de carro? Quanto tempo eu dormi? - Namjoon não dirige, na verdade, se pudesse ele iria de bicicleta e "viação canela" pra todo lado.
- No banco de trás. Sentadinho e esperando a margarida, então acelera! - enquanto abria meu guarda roupa, sacando um conjunto preto, de um tecido fresco, contava sobre a sua frustração pós termino. Seria um dia longo pra mim e para Namjoon, com certeza.
Hobi tem sido mais que um braço direito, tem sido meus dois braços, literalmente, em tudo. Ele mora no prédio ao lado e vem aqui me ajudar nas tarefas diárias. Aos domingos cozinha a comida para toda a semana, as congela e vem todos os dias fazer todas as refeições comigo. Na verdade ele só não se muda pra cá porque diz gostar bastante da liberdade de levar seus "amores", que eu carinhosamente chamo de "contatinhos", pro apartamento dele e não se sentiria a vontade para fazer isso aqui. Na verdade nem eu, a lista dele é extensa, faz inveja até em libriano.
Já no carro, comprimentei Namjoon e seguimos pra cidade vizinha, para a tal trilha que tanto falou. Disse que encontrou na Internet, que o lugar era lindo, que haviam mil espécimes de árvores e espécies de animais pra se observar, que era mágico, com relatos reais de pessoas que saíram de lá com uma compreensão da vida mais elevada. Eu só queria ir ver as plantinhas com Namjoon, andar sem rumo, rir com meus amigos e tirar fotos de alguns pássaros. Amo observa-los, ver como o vento passa por dentre suas penas, como suas asas domam o ar e por momentos é como se pudesse usar meus braços de novo, é como voar.
Chegando ao local da trilha eu desci do carro dando graças a Deus! Mesmo sendo alguém que perdeu a fé, quase acreditei novamente nos deuses quando Hobi parou o carro no estacionamento da reserva florestal. Ele decidiu ensinar Namjoon a dirigir e por mais da metade do caminho foi ele quem conduziu, depois de muito me ouvir gritar pra parar no acostamento e trocarem de lugar, eles o fizeram e chegamos a salvo, mas esse é um trauma que eu não superaria tão cedo. Namjoon, definitivamente, não foi feito pro volante. Só por milagre sobrevivemos e os dois arranhões na lateral do sedan, feitos no trajeto, podem provar.
Os meninos pegaram nossas mochilas e começamos a caminhar para a tal trilha. Levamos apenas alguns mantimentos para um piquenique no alto da trilha, bastante água e a câmera que os dois não deixam de levar a canto algum que decidimos ir. Não entendo esse vício de postar tudo que fazem, eu mesmo não tenho a menor paciência pra compartilhar a vida com estranhos, mas os dois viraram grande influencers, um de estilo e o outro de vida saudável. Mal sabem seus seguidores que Hobi em casa só usa calções e pantufas, Namjoon vive de hambúrguer e demora horas no banho. Enfim, a hipocrisia.
Andamos metade do caminho com os dois fotografando e filmando tudo ao redor, e eu em silêncio tentando pelo menos olhar a nossa volta e dar uma chance a natureza ao redor. Já que madruguei, ao menos tiraria algum proveito. Foi quando tive a brilhante ideia de sugerir um jogo. Bem, na hora me pareceu uma ótima forma de tornar o passeio menos tedioso.
- Namjoon! - ele se virou pra me olhar. - Quem chegar por último bebe o chá do Hobi sozinho! - e comecei a correr.
- Sem chaces, Yoongi! - depois de olhar para Hobi e para o líquido verde da garrafa encaixada no bolso lateral da mochila, começou a correr atrás de mim.
- Muito engraçadinho Yoongi! Mas você ainda vai me agradecer por trazer artemísia pra esse lugar! - gritou Hobi, enquanto levantava a garrafa no ar e a sacudia como se o chá fosse o puro suco de tangerina.
A verdade é que esse chá, segundo especialistas, tem propriedades espirituais além dos benefícios à saúde. Algo como te conectar com o divino, lhe trazendo visões e maior conexão com o mundo espiritual, e hobi achou por bem leva-lo depois de ouvir as histórias sobre essa trilha.
Dizem que muitas pessoas que fizeram essa trilha tiveram visões, experiências extra corporeas, não sei ao certo, mas os relatos eram que jamais voltaram a ser as mesmas. Acho que ele queria o mesmo pra mim. Devia achar que de alguma maneira esse lugar pudesse me mudar de dentro pra fora.
Quando chegamos ao fim da trilha reta, paramos frente a uma placa que indicava a subida, com alguma orientações e um mapa do caminho a ser percorrido para chegar a parte mais alta do morro. Namjoon e eeu sentamos ali e e aguardamos Hobi chegar, até que o vimos se aproximar com um bico enorme que Namjoon fez questão de deixar um selinho, seguido de um dos seus sorrisos com covinhas a mostra. Sorrisos esses que tinham o grande poder de derreter o coração do meu melhor amigo e dissuadi-lo de qualquer briga que estivesse por vir. Já nos salvaram de muitos dos sermões do Hobi sobre como "os Namgi tem que acabar pelo bem da minha saúde mental!". Na real ele adora que seu melhor amigo e seu "ficante premium platina" sejam bons amigos, mas não suporta quando nos unimos pra zoa-lo.
Subimos todo caminho com o Hobi falando horrores sobre todas as histórias que contaram sobre esse lugar. Desde um cara que reviveu seu tempo de colégio inteiro em um cochilo e superou um trauma recuperando a confiança em si mesmo, até outro que revelou aguardar o tempo que for necessário por alguém conhecido em suas visões, pois era seu destino ajudar tal pessoa. A única coisa aprendida com tais histórias foi que eu não deveria, de maneira alguma, tirar um cochilo por ali.
Após uma hora de subida chegamos ao topo do morro. A trilha não era difícil, mas era íngreme o suficiente pra me causar certas difículdades no trajeto e pedidos de desculpa do meu melhor amigo assim que chegamos ao fim dela, junto a promessas de que me ajudaria na descida mais que me ajudou a subir. Besteira, ele veio até aqui completamente focado na jornada em busca da visão, e será que nunca ouviu o ditado "pra descer, todo santo ajuda"?
Nos sentamos próximo a um lago e Hobi sabiamente reparou na grande estátua no centro dele.
- Olha Yoongi! A grande Vênus! Vamos tirar foto! - dizia maravilhado apontando para a estátua.
- Eu passo, mas vá com Namjoon, tirem uma selfie com a deusa do amor. Talvez ela goste mais de vocês e lhes conceda um desejo. Jogue uma moeda no lago, devem ter milhares. - me sentei na pedra, olhando para a direção oposta, apreciando a bela visão que o lugar proporcionava.
- O que ele tem contra Afrodite afinal? - perguntou Namjoon, após me ouvir ignorar diversas vezes quando Hobi começava a falar da deusa sem parar.
- Não sei Nam, coisa de vidas passadas talvez? Vamos! Vamos ofertar uma moeda e fazer pedidos. - disse puxando o em direção ao lago e eu pude não só notar o claro ar de deboche em seu tom de voz, como imaginar a língua que com certeza foi dada por detrás de minhas costas.
A deusa do amor nunca foi minha praia, mas o antigo clã o qual eu fazia parte, insistia em dizer o quanto ela era presente em minha vida mesmo que eu não fosse capaz de compreender ainda. Então eu a servi junto ao grupo por anos, e perdi meus braços no processo, sendo abandonado por não ter serventia logo em seguida. Então, eu pergunto, que amor seria esse? Logo, por mim, se tivesse de adorar algum deus novamente, este deveria ser Ares. Ele com certeza deve ter feito mais por mim que qualquer outro famoso deus, tantas foram as lutas que travei, e mesmo não vencendo várias delas, ao menos vivo, eu ainda estava.
O casal voltou e sentando-se ao meu lado, começaram a armar o piquenique.
- Yoongi, tomei a liberdade de lançar uma moeda a sua causa. -dizia Hobi, colocando o amargo chá em copos sobre a toalha estendida.
- Gentileza sua, mas tanto faz - se ele gostava de jogar seu dinheiro fora, não seria eu a impedi-lo.
- Vamos tirar uma selfie aqui meninos! - disse Namjoon, se aproximando de mim e sorrindo para a lente da câmera. Hobi se colocou no meio de nós e fez uma pose, quando Nam tocou no botão de captura eu me retirei de quadro e me deitei no chão.
- Você é o inimigo número um da diversão mesmo não é, Yoongi? - disse Namjoon apontando o celular em minha direção ao notar que não apareci na imagem.
- Se ele pudesse, aplaudiria o quanto ficamos lindos Namu, não fica chateado - disse Hobi sorrindo debochado para mim esperando alguma reação minha à sua piada infame.
- Outch! Se eu tivesse um coração Hobi, essa teria doído, bastante. - disse fazendo um biquinho e olhinhos tristes para ele, que se jogou em cima de mim, me abraçando.
- Me ajuda a te ajudar Yoon! Olha essa vista, olha esse céu! Vamos, levanta, vamos comer! - e me puxando para si, voltamos a estar sentados olhando aquela vista, realmente fascinante, até ele me enfiar o tal chá, guela abaixo se aproveitando da minha distração.
Passamos a manhã conversando, rindo e o casal dançando ao som de adolescentes que tocavam violão cantando músicas bregas de amor. Foi uma ótima manhã, eu admito e enquanto meus amigos arrumavam nossas coisas para voltarmos pra casa eu agradeci mentalmente por aproveitar mais um bom momento ao lado deles.
No começo da descida, respirei fundo, me preparando para encarar todo o caminho de volta, com Namjoon e Hobi logo atrás de mim se despedindo dos garotos "Camp Rock". Eu descia pouco a frente deles quando notei um certo limo no caminho de pedras da trilha que não estava por ali quando subimos, com cuidado me virei para avisá-los, mas escorreguei e perdi o equilíbrio, quase ia caindo no chão e deslizando morro abaixo quando uma mulher me apoiou em seus braços.
Nunca vi mais linda, juro, ela era belíssima. Uma pele rosada, lábios de tom vermelho claro ao natural, algumas sardas acima do nariz e bochechas, cabelos num ruivo alaranjado e brilhoso, acentuado ainda mais pelos raios de sol que pareciam segui-la demarcando o caminho que andava para que desfilasse toda sua beleza. Eu a olhei estático até ser tirado do meu transe com a sua fala.
- Sabe meu filho, algumas quedas, não tem volta. Você deveria saber melhor que muitos - e sorrindo retirou as mãos de mim.
- Me perdoe senhora, eu me ditraí por um momento, achei que estava sendo cuidadoso, mas parece que não. - podia sentir minhas bochechas queimarem de vergonha.
- Que mal há Yoongi, em ser distraído as vezes? - disse sorrindo para mim e eu a olhei confuso.
- Sabe meu nome? - ela não me respondeu, apenas sorriu e continuou a caminhar. Eu acompanhei com o olhar, enquanto adentrava a floresta fora da trilha.
Havia um arco formado por galhos e trapadeiras que se enroscavam por toda a sua extensão, com flores de diversas cores. Ela passou pelo arco e enquanto eu me virava para checar os meninos, ela sumiu. Me aproximei do tal arco e fui surpreendido que a vista atrás dele era de uma cachoeira belíssima e um enorme desfiladeiro. Um visual realmente impressionante que jamais achei que veria por ali, nem que fosse possível geograficamente, porém fui tirado de meu estado de admiração e tomado pelo de preocupação logo em seguida, quando me dei conta que a mulher havia mesmo sumido. Se depois do arco não havia mais floresta apenas a cachoeira e os desfiladeiro, ela teria pulado ali? A busquei aflito com o olhar, imaginando várias possibilidades, quando senti delicadas mãos me tocarem sobre os ombros. Respirei aliviado, mas antes que pudesse me virar para olhar, meu corpo foi empurrado à frente, para além do arco, em direção à cachoeira, então, eu caí.Olá! 👋🏻
Finalmente, consegui postar algo aqui! 😅
Vocês não tem noção o quanto tenho lutado pra me motivar a escrever e trazer todas as minhas histórias pra cá e cativar quem precisar ler sobre fantasia, bruxaria, amores épicos, impossíveis, predestinados, de outras vidas e assim por diante...
Eu gosto demais! Espero que vocês também e que me dêem uma chance de contar todos os "roles" que pairam aqui na minha cabecinha de ar 🙌🏻In to the deep não deve se estender demais, terá no máximo quatro capítulos, que eu pretendo lançar mês a mês devido a minha falta de tempo pra me organizar e postar com mais frequência.
Por favor, interajam com a história, vou amar ler e responder comentários!! 😍Sigam @ohkami_sd no twitter que é a minha nova conta para as fanfics, onde eu vou postar sobre atualizações, spoilers, enfim, vou falar abeça por lá!
Pra quem quiser seguir também, @taketime00h é a minha conta oficial.Boa leitura e obrigada por chegar até aqui!
Nos vemos em breve! Purple u 💜
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In to the deep | Yoonmin
FanfictionYoongi sentia um imenso vazio dentro de si. Não sabia dizer bem como ou porque, mas o sentia. Tentou preenche-lo com amores, vícios e hobbies, até desistir de tentar e buscar conviver com o vácuo dentro de si, mas ainda chorava certas noites sem mot...