Ano Sabático

3 - Jamie

Jamie

Finalmente minha tão esperada viagem para a Patagônia estava chegando. Em menos de um mês estaria embarcando para Santiago do Chile e de lá para Punta Arenas, o aeroporto mais próximo do meu destino. Sempre gostei de fazer trekkings e Torres del Paine estava na minha Wishlist há anos. Esse ano achei que era hora de me presentear com essa viagem tão desejada. Eu merecia, depois de passar por tanto sofrimento, tendo cometido o grande erro de entrar em um casamento que durou apenas um ano e se dissolveu em muitas brigas.

Conheci Annelise em uma viagem de negócios que fiz a Paris. Trabalho na destilaria da minha família e estava fazendo uma prospecção de mercado na França, onde meu tio Jared tem um grande negócio de distribuição de bebidas. Fizemos alguns eventos com clientes importantes do meu tio para apresentar nosso whisky, que foi muito bem recebido. Annelise era filha de um desses clientes. Me encantei pelo jeito extrovertido dela, além de tê-la achado linda. Passamos a noite conversando e a convidei para um encontro no dia seguinte. Começamos a namorar e logo estávamos muito envolvidos. Passei mais tempo do que o planejado em Paris, sob protestos do meu pai, e passei a visitá-la sempre que podia. Em uma dessas ocasiões, cansado de me relacionar a distância e pensando estar apaixonado, a pedi em casamento, sem pensar muito. Ela ainda nem tinha conhecido minha família, mas aceitou prontamente. Pensámos que éramos feitos um para o outro. Pouco tempo depois nos casamos e ela foi comigo para a Escócia.

Assim que chegamos ela prontamente começou a reclamar de tudo. Não conseguia se adaptar à vida numa cidade pequena, ao clima, à proximidade da minha família. Eu tentei de todas as formas fazer com que ela se sentisse bem, gastei muito dinheiro levando-a para Edimburgo quase todo final de semana, ficando em hotéis caros e indo a restaurantes finos. Mantive minha família o mais afastada possível, ao ponto de eles ficarem magoados com meu distanciamento. Porém nada disso foi suficiente. Nossa relação ficou muito desgastada, ela ia para Paris cada vez com mais frequência e passava cada vez mais tempo por lá. Em pouco tempo percebi que meu casamento tinha sido um grande erro, mas não queria dar o braço a torcer e continuava tentando contornar nossos problemas. Porém estávamos os dois infelizes, e quando ela anunciou mais uma vez que estava indo para Paris, eu a chamei para uma conversa e propus que nos separássemos. Ela me acusou de a estar traindo, de ser insensível com as necessidades dela, e muitas coisas mais. O processo de divórcio foi bastante doloroso e desgastante para mim, pois eu não aceitava que meu casamento tinha durado tão pouco, sempre pensei que me casaria uma só vez na vida. Meu padrão de relacionamento era muito alto, pois meus pais eram o casal mais amoroso que existia, estavam juntos há tantos anos e eram muito apaixonados. Meus dois irmãos também tinham casamentos felizes. Eu me sentia um grande fracassado, achava que poderia ter dado um jeito para fazer funcionar.

Minha família me apoiou como pode, esteve bastante presente, e me fizeram ver que eu não era o único culpado pelo fracasso do meu casamento. Annelise nunca fez nenhum esforço para que nós déssemos certo. Apesar de ter aceitado se mudar para a Escócia, ela nunca tentou se adaptar. Eu cheguei a pensar em me mudar para Paris e teria feito isso se sentisse que nosso relacionamento era forte e que de fato nos amávamos, o que não era o caso.

Há uma semana finalmente assinamos nosso divórcio e eu sentia como se tivesse tirado um grande peso das minhas costas. Ainda estava um tanto deprimido e fechado em casa, só saindo para trabalhar. Mas o fato da minha tão sonhada viagem estar chegando me deixava muito animado. Passei os últimos dias conferindo meu equipamento de trekking, comprando o que faltava e organizando tudo. Eu tinha bastante experiência em atividades outdoor, fiz várias trilhas ao longo da minha vida, incluindo trilhas longas, e sabia que nada melhor que uma boa trilha para limpar a cabeça e reavaliar a vida.