Marie não voltou para a aula naquele dia.O diretor fora avisado sobre sua saída repentina, e Valentin, com sua firme delicadeza, apenas registrou a ausência sem comentários. Mas as vozes entre os corredores já falavam por si: cochichos abafados, olhares enviesados, piadas mal disfarçadas.
— Ela surtou. — disse uma garota do segundo ano. — Chorou e correu. Deve estar inventando coisa.
— Drama. Total. Aposto que é só pra chamar atenção do Dylan. — sussurrou outra.
Mas nem todos falaram.
Helena foi direto à sala da coordenação, pedindo um posicionamento da escola. Era uma aluna comum, mas sua indignação era firme como de uma líder nata. Ela sabia que Marie precisava de alguém — alguém que não duvidasse.
Enquanto isso, do lado de fora, Dylan caminhava ao lado de Marie, os dois ainda em silêncio.
Ele a acompanhou até a escada lateral do pátio, longe da movimentação dos outros alunos. Sentaram-se sob a sombra de um ipê seco. As folhas ainda não haviam nascido.
— Você lembra de quando a gente ficava aqui com os livrinhos de mágica? — Dylan perguntou, olhando para o chão. — Eu fingia que conjurava vento, você ficava brava porque seu cabelo embolava todo.
Marie riu baixinho, mesmo com os olhos ainda vermelhos.
— Era o único lugar onde ninguém brigava comigo.
Pausa.
— Eu queria ter ficado — ele disse, olhando para ela. — Quando você foi embora... me senti traído. Mas eu era só um moleque. Nunca imaginei que você... estivesse passando por aquilo.
Marie balançou a cabeça lentamente.
— Eu queria ter contado. Mas toda vez que eu tentava, a voz sumia. E eu achava que... se você soubesse, ia olhar pra mim diferente. Com pena. Ou medo. Ou... nojo.
Dylan olhou para ela então, direto nos olhos.
— Nunca. Você é... muito mais forte do que qualquer um aqui entende. Eu só queria ter percebido antes.
Ela respirou fundo.
— Me deixa confiar em você devagar?
— Só se eu puder fazer o mesmo — ele respondeu.
Eles não se tocaram. Mas naquele instante, a distância entre os dois era menor do que nunca.
No dia seguinte, ao chegar na escola, Marie encontrou algo que não esperava: bilhetes anônimos em seu armário.
"Você é corajosa."
"Desculpa por não ter entendido."
"Eu te ouvi."E mais um, dobrado com cuidado:
"Se quiser escrever mais, eu vou ler. – H."
Carrie passou por ela no corredor. Lançou um olhar gelado e debochado. Mas dessa vez, Marie não desviou. Havia algo diferente nela: não era ausência de dor. Era a presença de algo novo.
Resiliência.
—

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Ela Sempre Esteve Aqui
Teen FictionDois corações partidos. Um internato que esconde mais do que memórias. Um reencontro que pode curar... ou destruir de vez. Nem todo silêncio é esquecimento. Nem toda dor grita.