Capítulo 7: "O que Resta Depois do Silêncio"

4.2K 261 27
                                        




Marie não voltou para a aula naquele dia.

O diretor fora avisado sobre sua saída repentina, e Valentin, com sua firme delicadeza, apenas registrou a ausência sem comentários. Mas as vozes entre os corredores já falavam por si: cochichos abafados, olhares enviesados, piadas mal disfarçadas.

— Ela surtou. — disse uma garota do segundo ano. — Chorou e correu. Deve estar inventando coisa.

— Drama. Total. Aposto que é só pra chamar atenção do Dylan. — sussurrou outra.

Mas nem todos falaram.

Helena foi direto à sala da coordenação, pedindo um posicionamento da escola. Era uma aluna comum, mas sua indignação era firme como de uma líder nata. Ela sabia que Marie precisava de alguém — alguém que não duvidasse.

Enquanto isso, do lado de fora, Dylan caminhava ao lado de Marie, os dois ainda em silêncio.

Ele a acompanhou até a escada lateral do pátio, longe da movimentação dos outros alunos. Sentaram-se sob a sombra de um ipê seco. As folhas ainda não haviam nascido.

— Você lembra de quando a gente ficava aqui com os livrinhos de mágica? — Dylan perguntou, olhando para o chão. — Eu fingia que conjurava vento, você ficava brava porque seu cabelo embolava todo.

Marie riu baixinho, mesmo com os olhos ainda vermelhos.

— Era o único lugar onde ninguém brigava comigo.

Pausa.

— Eu queria ter ficado — ele disse, olhando para ela. — Quando você foi embora... me senti traído. Mas eu era só um moleque. Nunca imaginei que você... estivesse passando por aquilo.

Marie balançou a cabeça lentamente.

— Eu queria ter contado. Mas toda vez que eu tentava, a voz sumia. E eu achava que... se você soubesse, ia olhar pra mim diferente. Com pena. Ou medo. Ou... nojo.

Dylan olhou para ela então, direto nos olhos.

— Nunca. Você é... muito mais forte do que qualquer um aqui entende. Eu só queria ter percebido antes.

Ela respirou fundo.

— Me deixa confiar em você devagar?

— Só se eu puder fazer o mesmo — ele respondeu.

Eles não se tocaram. Mas naquele instante, a distância entre os dois era menor do que nunca.

No dia seguinte, ao chegar na escola, Marie encontrou algo que não esperava: bilhetes anônimos em seu armário.

"Você é corajosa."
"Desculpa por não ter entendido."
"Eu te ouvi."

E mais um, dobrado com cuidado:

"Se quiser escrever mais, eu vou ler. – H."

Carrie passou por ela no corredor. Lançou um olhar gelado e debochado. Mas dessa vez, Marie não desviou. Havia algo diferente nela: não era ausência de dor. Era a presença de algo novo.

Resiliência.

Ela Sempre Esteve AquiOnde histórias criam vida. Descubra agora