Estacionei bem em frente a "Books and Fireplace" e desci do carro. Pela vidraça que cobria o lugar já pude ver Claire com sua típica cara de animação (que eu particularmente achei falsa já que estávamos numa segunda-feira cinzenta e nada convidativa) varrendo a entrada. Subi as escadinhas que levavam á porta da livraria e a abri. Os escuros cabelos de Claire, minha melhor amiga desde o jardim de infância, estavam presos em um coque meio frouxo. Seus olhos verdes esboçavam cansaço, mas ela ainda continuava com uma certa animação estampada no rosto.
-Animadinha demais você a essa hora da manhã, não acha, Claire? -perguntei assim que a alcancei.
Assim que me viu, deu uma risadinha e me puxou para um canto da livraria. Não me debati, já que queria realmente saber por que ela estava daquele jeito.
-Então... eu e o Lucas estamos namorando. -disse rapidamente e logo deu uma risadinha da minha expressão confusa. -Sei que é um pouco estranho...
-Um pouco? Como assim um pouco? Eu estou muito...eu nem sei como estou. -A interrompi, rindo depois.
Lucas Carter era nosso melhor amigo desde sempre, para ser bastante sincera. Não me lembro de muitos momentos sem sua presença. A surpresa era imensa, já que Lucas e Claire não alimentavam nenhuma relação além de uma mera amizade. E sem contar que muitas vezes eram como cão e gato.
-Ficamos na festa do Filipe Jacobsen no sábado. Domingo ele foi à minha casa e me pediu em namoro. -ela dizia cada palavra com um sorriso gigante dançando nos lábios. -E, acredite, eu achei muito louco também... nunca pensei que pudéssemos ao menos ficar perto um do outro sem que um dos dois morresse , quanto mais namorar! Mas gosto dele.
Eu apenas acompanhava seu relatório em silêncio. Segundo ela, Filipe Jacobsen era um "gatinho" amigo de Lucas. A forma como contava o acontecimento arrancava inúmeras gargalhadas de mim. Admirava o jeito de Claire. Ela não ligava muito para a opinião dos outros e fazia tudo o que bem entendesse desde que sua vontade fosse exaltada. Já eu sempre fui muito fechada, nada impulsiva e racional demais.
Nosso assunto foi cortado quando minha tia, a dona da livraria, chegou. Ela sempre chegava atrasada, então eu e Claire ficávamos encarregadas de abrir a loja. A verdade é que ela dormia demais. Cristina Roth era uma mulher em seus 42 anos. Tinha a pele clara e um corpo bem bonito, acrescentado a seu longo cabelo loiro e olhos azuis.
-Olá, garotas. -veio até mim, dando-me um abraço e repetindo o gesto com Claire. -Como foi o fim de semana?
Claire apenas virou para mim e abriu um sorrisinho. Retribuí o ato. Acho que minha tia percebeu que se tratava de um assunto particular, então não prosseguiu com o assunto.
- Tudo bem. Quero saber disso depois. -olhou-me, mesmo o assunto sendo em relação à Claire. Acho que ela não se tocou. -Mas agora vamos ao trabalho, temos muito a fazer.
Ela adentrou mais ao local, ficando atrás do balcão onde se pagava pelos livros. Como as outras duas funcionárias ainda não haviam chegado, achamos que seria melhor dividir as tarefas. Por fim, tive que arrumar alguns livros novos que haviam chegado nas prateleiras mais vazias. Aquilo foi bastante cansativo e demorou, já que eram muitos livros e eu precisava separá-los em ordem alfabética. Quando terminei, a manhã já havia virado noite e eu tinha tomado apenas meu café da manhã. Estava faminta. Tia Cristina havia dito para que eu desse pausa ao trabalho e fosse almoçar, mas eu continuei; se eu parasse com o que estava fazendo, demoraria mais depois, já que não conseguiria voltar ao ritmo inicial.
-Amy, você já terminou aí? - Claire disse, com uma bolsa no ombro e os cabelos antes presos em um coque, soltos.
-Sim, acho que não tem mais nada para fazer. Rose e Emma já arrumaram o resto, certo? - ela assentiu com a cabeça. Deu um sorrisinho, ressaltando ainda mais seus lábios pintados num vermelho intenso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Young Folks
RandomEnquanto ela era o riso, ele era feito da nicotina do cigarro estendido entre seus dedos. Ele era formado das cinzas que permaneciam depois do fim, enquanto ela era o suave início de algo novo. Era louco, acima de todas as hipóteses. Se aquilo realm...