CAPÍTULO 9 - A LIGAÇÃO QUE SALVOU NOSSO CASAMENTO

65 4 0
                                    

Cristiane e eu nunca tivemos um casamento que alguém pudesse chamar de conturbado. 

Ao contrário, vivíamos bem a maior parte do tempo. Quem nos via de fora podia jurar que éramos um casal perfeito. Não vivíamos brigando, nunca houve traição, e tínhamos os mesmos objetivos. Porém, de tempos em tempos, a cada quatro ou seis meses, tínhamos uma grande discordância sobre algum assunto. 

Era como se a coisa ficasse ruminando no estômago do nosso relacionamento por meses até que voltava à boca e era vomitada; coisas que nunca haviam sido propriamente digeridas e processadas entre nós; raízes de problemas que não conhecíamos e, portanto, nunca haviam sido cortadas. Às vezes a discordância era sobre ciúmes, ora sobre a minha falta de atenção a ela, ora sobre o trabalho que fazíamos, ora sobre como me sentia desrespeitado por ela, e outras vertentes. 

Tudo folhas e galhos. Não víamos as raízes dos problemas. Quando tínhamos essas grandes desavenças, ficávamos horas trocando palavras dentro do quarto. Às vezes os ânimos esquentavam. Ela chorava. E se levantava a voz, eu levantava mais ainda. Chegava a um ponto em que cansávamos e então, pelo menos para mim, o objetivo já não era resolver o problema, mas apenas sair daquela situação desagradável. Contornávamos a situação, mas nada era resolvido. Eu ficava quieto com ela por alguns dias e ela ficava com os olhos inchados de chorar. 

Tudo voltava ao "normal", pelo menos por mais uns quatro ou seis meses. E assim foram os primeiros doze anos do nosso casamento. Na minha cabeça eu pensava: "O problema é ela. Não estou fazendo nada de errado. É ela que é cabeça dura e impossível de entender. Tenho que me manter firme nessa linha porque eventualmente ela vai ter que ceder e mudar." E não fazia segredo disso. Várias vezes falei para a Cristiane: "Você é que é o problema! Eu estou bem, não estou fazendo nada de errado. É melhor você se resolver aí com seus pensamentos porque não tenho tempo para isso." E ela respondia ora com lágrimas, ora com insistência no ponto de vista dela. Eu não estava querendo ser mauzinho. Realmente pensava daquela maneira. (Coisa dura é estar sinceramente errado.)

Em um dia horrível — que se tornou belo — tivemos uma dessas brigas e a discussão se prolongou mais do que o normal. Já era alta madrugada e não havia fim à vista. 

Até que a Cristiane teve uma ideia: "Vou ligar para o meu pai." 

Eu achei ótimo. 

Peguei logo o telefone e dei na mão dela. 

"Liga agora! Você vai ver só como estou certo."

Pelo que eu conhecia do pai dela, a quem respeito muito, e pelo assunto que estávamos discutindo, tinha certeza de que ele iria confirmar que ela estava errada. Como ele nunca foi parcial nem a ela nem a mim, eu o tinha como a voz da razão. Por isso, apesar da vergonha e de não gostar de ter de levar aquele problema para ele, vi a decisão dela como uma boa opção.

Saí do quarto e deixei que ela falasse com o pai. Passados uns cinco minutos, ela sai do quarto, bem mais calma, me passa o telefone e diz: "Ele quer falar com você."

— Sim, senhor — atendi. 

Ele foi direto na jugular, em alto e bom som: "Renato, deixa eu falar uma coisa para você. Esse problema aí É SEU. RESOLVA-O!"

Aquilo me pegou de surpresa. Não foi o que eu esperava. Achava que mostraria empatia para comigo, que diria que havia falado com ela, e que agora ela me entenderia melhor, e que eu teria que ter paciência com ela. 

Mas aquelas palavras "esse problema aí é seu, resolva-o" funcionaram como um ferro de marcar gado na minha mente. Ele não falou mais nada. Fiquei mudo, e depois de alguns segundos, respondi: "O senhor pode ter certeza de que nunca mais receberá uma ligação como essa, porque eu vou resolver." Agradeci, e desliguei o telefone.

Casamento BlindadoOnde histórias criam vida. Descubra agora