O Diabo Veste Prata

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Eu andava pelas ruas escuras e vazias do bairro onde minha vó mora, já conhecia aquele lugar desde minha infância então não foi difícil me localizar quando vi que a rua que eu descia era a mesma do salão de festa em formato de um castelo, quando era mais novo lembro-me de já ter ido em uma festa naquele lugar.
Eu andava com passos calmos, olhava ao meu redor sem medo e com um olhar sereno ao mesmo tempo que severo. Tranquilo e confiante continuava a descer a rua enquanto um cigarro queimava em minha boca, hora ou outra ficando entre os dedos para que eu pudesse soltar a fumaça que aos poucos matava meus pulmões.
Quando finalmente me dei conta eu estava conversando, não sabia com quem, não o via...

A conversa era intensa, não muito agradável mas quente de uma forma que poderia se dizer que sem mais acabaria em uma briga, eu estava calmo por fora mas quando olhei para o lado e vi aquele ser humanoide me olhando com a língua para fora e os olhos vermelhos sedentos por sangue fui tomado por uma intensa fúria.
"Não toque nas minhas irmãs, só isso, de resto pode fazer o que quiser comigo".
Falei olhando nos olhos da criatura que lembrava muito um lobisomem, ele sorriu deixando aqueles dentes enormes e afiados a mostra, se mostrando contente com o nosso acordo.
Naquele dia vendi minha alma e nem sei o que eu pedi em troca...
O diabo em forma de empresário me mostrou o mundo de riquezas, um luxo que eu podia dar a minha família tão facilmente quanto deixar de existir.
Desde aquele sonho, que me lembro muito bem ter sido em dois mil e treze, eu sinto que minha vida vai se acabar aos vinte e cinco anos.
Minha mente veio desde então me causando mais doenças, mais problemas, mais más influências se aproximavam de mim, e eu sentia que estava livre em meio a um pesadelo diário.
Comecei a escrever ainda mais que antes, comecei a surtar mais que antes... Me afastar antes das pessoas irem embora ou então, machucava antes de ser machucado sem nem saber se isso iria acontecer...
Eu me matei naquela noite e não sabia, pedi por um dom, uma conquista, me deixei levar por um sonho que não era impossível mas seria difícil, queria ser grande antes de aprender a ser bom o bastante pra ter aquilo que eu queria.
Me levantei após aquele sonho com um sorriso e muito cinismo em minha mente, comecei a mentir sobre mim mesmo, mentir sobre quem sou ou o que sei fazer.
E eu já era muito bom antes de um engravatado vestido cheio de prata chegar perto de mim querendo vender o meu corpo, meus sonhos, minha vida para pessoas que não sabem o valor do que tem na minha mente.
Eu era bom mas duvidei de mim, deixei que colocassem um valor na minha testa e me deixei virar puto atrás de um drink. Vendi minha alma, minhas ideias, meus vícios e meus sentimentos, eu deixei tudo que eu já fui algum dia para trás, correndo atrás de fama e poder que nunca vieram... Lógico que não vieram, a "vida de artista" que eu tive foi baseada na aparência de uma falsa ostentação e falsa alegria, eu tive sim uma fama, mas não foi uma coisa boa, não foi uma coisa minha, não fiz por onde pra mudar aquilo, me tornei puto, drogado, vendia o que eu tinha dentro de mim e apagava meu verdadeiro eu. E eu já fui rico, não de dinheiro, eu tinha tudo pra dar certo, mas aquele cara com aparência de Lobo me comprou com um valor maior que a moeda de prata que ele me deu... Só te peço socorro meu Deus.

Um Trato Sem ContratoOnde histórias criam vida. Descubra agora