o quinto estágio do coração partido

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Segundo especialistas, os cinco estágios de um término - ou coração partido - são, nesta ordem: negação, dor, raiva, depressão e resiliência. O capítulo a seguir foca no quinto e último estágio.

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Bom, de volta a seu quarto, o lugar de onde nunca deveria ter saído, Kyouka afundava o rosto em sua cama que parecia nunca ter sido arrumada na vida.

Haviam embalagens de doces e refrigerantes, até mesmo um burrito mexicano pela metade que achara na geladeira a qual os estudantes dividiam. Imaginou que fosse de Kirishima, mas dada a situação atual, imaginou que o ruivo não ficaria chateado de ter seu almoço roubado se fosse para afogar as mágoas de uma adolescente em crise.

Havia metal pesado tocando em uma pequena caixinha de som. O pai de Jirou dizia que ajudava a levantar o astral em momentos ruins, mas tudo o que a garota conseguiu foi perceber que a guitarra tinha uma corda desafinada e que aparentemente ninguém da gravadora se dera o trabalho de afinar o instrumento durante a gravação de todo aquele maldito álbum.

Ah, quem ela queria enganar? Aquilo não estava ajudando. Os doces, o burrito roubado, o metal pesado... nada.

Seu celular chegou a tocar uma vez. Era Momo. Jirou não fazia ideia do que se tratava a ligação, mas não conseguiria atendê-la naquele estado, muito menos disfarçar seu coração partido. Já havia perdido a garota, aceitar ou não uma ligação parecia irrelevante àquela altura.

Teria deixado seu celular de lado pelo resto do dia, até que, alguns minutos depois, recebeu duas novas mensagens. O número não estava salvo, mas pela foto de perfil, escrita e conteúdo da mensagem, não demorou nada para que reconhecesse o emissor: Katsuki Bakugou.

"como foi?"
"ela aceitou?"

Por um momento, Jirou se surpreendeu com o fato do loiro ter se dado ao trabalho de mandar mensagem apenas para saber os efeitos de seu discurso motivacional. Entretanto, Jirou não estava no melhor momento para explicar a situação. Seu peito ainda doía. Ao invés de explicar, se contentou em dizer:

"Obrigada pela força"
"Mas eu não vou mais à festa"

Digitou, bloqueando a tela do celular logo depois e voltando sua atenção ao seu sofrimento interno. Uma nova música havia começado a tocar. O que Kyouka estranhou era que havia um som diferente do que ela se lembrava. Parecia um tambor ou alguma batida bruta e seca ao fundo dos instrumentos, e o mais estranho de tudo é que não era constante nem seguia o mesmo ritmo dos demais instrumentos. Continuou ouvindo com atenção, tentando se lembrar se aquele som já estava lá nas outras vezes que escutara aquela música, mas tinha quase certeza que não.

Bom, não é necessário dizer que levaram alguns bons minutos até que a garota percebesse que esse som era alguém batendo na porta. Jirou pulou da cama no mesmo instante.

- S-Só um segundo... - disse a fim de ganhar tempo. Mas a pessoa já devia estar esperando ali há pelo menos 2 minutos e meio, que diferença faria aguardar mais alguns segundinhos?

Kyouka se condenou pelo estado de seu quarto estar uma desgraça, mas definitivamente não teria tempo de arrumá-lo antes de abrir a porta. Fez o melhor que podia, chutou algumas coisas que estavam no chão para as laterais do cômodo e desligou a música, ouvindo o quão altas eram aquelas batidas na porta. Deu uma última revisada no cômodo e concluiu que permanecia horrível. Pelo menos o short de dormir e a camisa do smiley que vestia estavam minimamente apresentáveis. Correu até a porta e a abriu, se surpreendendo ao dar de cara com o mesmo rapaz com quem trocara mensagem há poucos minutos.

- B-Bakugou?

- Você não atende a porta não? - o loiro perguntou com o mal-humor característico, já adentrando o quarto sem nem pedir licença.

Um rapaz no quarto de uma garota a essa hora não seria considerado adequado por muitas pessoas, mas Jirou pareceu não dar atenção a isso.

- Ahn... O que você...? - Kyouka perguntou encostando a porta.

- O que eu vim fazer aqui? - Katsuki sugeriu. - É simples: eu não vou deixar você desistir assim.

- Mas Bakugou, isso é ridículo. Eu nem sequer tenho par...

- E daí? Quem disse que precisa de par? É só uma festa.

- 'Pra você é fácil falar... - a morena disse cruzando os braços e sentando na própria cama. - Você tem o Kirishima. - concluiu. E durante um segundo, pensou ter visto Bakugou corar e esboçar um sorriso abobalhado ao se lembrar de que faria par com o ruivo... Mas o rapaz logo deixou isso de lado, afinal, isso não era sobre ele, mas sim, sobre Jirou.

- Olha só... - ele disse enquanto chutava algumas latas de refrigerante e abanava uma parte do colchão para que pudesse se sentar próximo à garota. - Eu sei que não é fácil, e eu imagino o quão chateada você deve estar agora e... sinto muito pelo que aconteceu. - Katsuki começou a falar. Jirou se surpreendeu bastante com o quanto ele estava sendo compreensivo. Ele sequer havia chamado seu quarto de chiqueiro (coisa que Kyouka tinha certeza que faria). Bakugou deu continuidade ao discurso: - Mas a questão é: você pode passar o dia de amanhã inteiro trancada no seu quarto, ouvindo essas músicas ridículas e se alimentando de refrigerante e... - ele passou os olhos pelo colchão. - ...meio burrito gelado, ou você... Espera um pouco aí, esse burrito era meu. - ele fez cara feia apontando para as sobras da refeição.

- Ah... Desculpa. - Jirou disse um pouco envergonhada. - Ainda tem metade, se você quiser. - ela falou, fazendo com que o loiro fizesse uma longa pausa, provavelmente se perguntando onde estava com a cabeça em tentar ajudar aquela garota.

Ao final de seus conflitos internos, Bakugou respirou fundo e continuou seu raciocínio anterior como se nada tivesse acontecido.

- Enfim... - retomou. - O que estou dizendo é que você pode passar sua sexta-feira se afundando nesse colchão, ou você pode subir em um salto alto e se divertir com o restante da turma.

Kyouka desviou o olhar.

- Eu não sei... Eu sequer tenho algo 'pra vestir... - ela disse, mirando seu armário, de relance. Katsuki fez o mesmo e se levantou, andando até a cômoda e abrindo portas e gavetas, passando a vasculhar o interior. - O que você está...? - a morena se calou quando Bakugou começou a retirar algumas peças de roupa dos cabides e jogá-las no colo dela. Até que, após alguma procura, o loiro encontrou um blazer preto e sorriu tomado por motivação.

- Vamos fazer alguma coisa, então!

- F-Fazer uma roupa 'pra mim?! - Jirou arregalou os olhos, se levantando da cama e indo de encontro ao rapaz. - Bakugou, você não precisa fazer isso.

- Eu faço questão. - o loiro interrompeu, olhando para ela de maneira a encorajá-la. - Até porque se estivesse no seu lugar, eu iria querer que alguém fizesse isso por mim. - ele disse. Jirou sorriu, um tanto quanto sem graça, outro tanto para expressar sua gratidão. O loiro acrescentou: - Vamos mostrar à Yaoyorozu o que ela perdeu.

[continua...]

Um convite quase perfeito (MomoJirou)Onde histórias criam vida. Descubra agora