Café, Vinho & Poesia

A arte floresce na solitude

Ato I

A arte floresce na solitude.

Todo poeta morreu tentando dizer o que é o amor,
Todo artista já compôs sobre a solidão.
E se todo sentimento do mundo,
fosse truque de ilusão
da nossa mente?
E se de todos, tudo finge o que o mundo sente?

A arte floresce na solitude.

Castro Alves disse que a poesia é uma luz
Não discordo, porque
A métrica é o que me tem mantido.
O poeta que cala o coração,
abrindo sua boca em favor de outros
Perde no caminho a emoção
e sua cor se esvai, perdendo total sentido.

A arte floresce na solitude.

"E essa é a vida,
Muitas vezes insatisfatória
Frequentemente cruel, em geral chata
Por vezes linda e ocasionalmente estimulante.
O prazer do desafio e a insanidade das surpresas
São companhias efêmeras, numa estrada com destino certo
A solidão."

Ato II

Solitude.

Ao me desperso,
Cego, carrego o foco
Autossaboto e me desprezo.
Sentimentos que não se via
nem no íntimo do processo.
Escorrego a tinta na folha
E a mancha me deixa preso.

Não quero me sentir preso.

Parado, acorrentado, calado
turbilhão ao devaneio.
O marasmo me puxa

E eu não quero me sentir presa.

Pra baixo me segura
Sinto a amargura presente na rima.
O canto semi-escuro, a luz semi-acesa
Me inspira, me alucina.

A poesia me faz forte,
A língua é meu forte.

Não preciso me sentir presa.

Ato III

A seta que me guia
É desamorosa, cruel
E me desafia.
A misantropia
Que me segue
É o addio que me definha.

E o eu aqui dentro, desesperado,
existencial que grita,
É o eu que você ouve
Em cada linha escrita.

Mesmo em silêncio
Mesmo que minha ideia retorça
Sinto na minha digital a força
de uma potestade.
Meu ego reflito
E vejo na minha poesia
A marca de Andrade.

"A maior arte é aquela cheia de vontade
É como um amor cheio de saudade."

Mas penso
Com que olhos se julga a arte?
Com que coração se vê o poema?
Com que ouvidos se escuta o poeta?
Com que paixão se sente a poesia?

Sozinho acabo pensando mais ainda:
"Quantos castelos você já viu cair?"

O tempo sentado ao meu lado
meu companheiro alado
Me diz:
"Filho, o nosso mundo já é muito cruel com a gente... tente ser bom com você"
E deixando meu coração fluir
Eu aprendi
Que criar com coração muitas vezes é sofrer,
Mas criar também é o remédio.

Essas ideias que solidificam
Uma noite fria e calada
Revelam a busca que
O sentimento vetusta
Me fez ainda mais crer que

A arte floresce na solitude.