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meu corpo.
aberto. em cima
da maca.

cirurgiões
com
garfos & bisturis
dando de comer à outros
pacientes na lista
de espera
de
doadores.

primeiro
meu fígado,
em seguida meus rins,
então meus
pulmões e, por último,
meu coração.

meu corpo
– um banquete posto
à mesa.

os órgãos
já não me serviam.
afinal,
não trabalhavam em
função de nada.

eu sequer
tive direito a
anestesia,
também não
pedi.

após
fechado & costurado,
meu corpo
ficou tão oco quanto
a minha
alma.

ao fim
da cirurgia,
tirei a máscara e
e me encarei
deitada, pálida, suja.
afastei o último
prato da beirada e
tirei as luvas
ensanguentadas.

está feito,
pensa a doutora,
existem pessoas que
precisam mais
do que eu.

está feito,
pensa a morta,
monstruosa & vazia,
agora não
sou mais tão
egoísta.

está feito,
penso eu, que sou
as duas.
a vítima & a culpada.
a que tira de si
para doar aos outros
em troca de
nada.

- frankenstein

intitulávelOnde histórias criam vida. Descubra agora