A MULHER QUE CLAMA
Conto Bloody Mary"Um juiz não é nomeado para fazer favores com a justiça, mas para julgar segundo as leis, seguindo fatos."
.oO0Oo. .oO0Oo. .oO0Oo.
Os gritos da mulher soam toda noite.
Lamentos agonizantes que ecoam pelas paredes dando a sensação de que tudo ao seu redor estremece. A personificação da angústia que habita dentro dela.
Antes de tudo acontecer, a mulher era feliz. Tudo o que mais se ouvia naquela casa era o soar contagiante de sua risada, o som doce e inesquecível de sua voz.
E então tudo fora manchado sob o sangue de seu próprio filho. Transformando a alegria em terrores noturnos e a doçura em uma melancolia mau disfarçada.
Os dias antes sempre tão corriqueiros e cheio de cor e brilho, na presença da pequena criança, era o sonho acordado da jovem mulher. Sua pequena criança era o seu sonho de vida, algo que para ela assemelhava-se ao próprio paraíso.
Então sua ilusão caiu por terra quando, em uma noite, ao entrar no quarto da criança para checa-lá, tudo o que manchou sua vista foi o sangue e a imagem de sua cria com a cabaça pendurada por alguns fios de couro.
Desde então tudo o que ela faz é gritar seu lamento nas profundezas da noite, atormentando seus arredores.
Tudo o que ela queria era justiça, queria que quem quer que fosse, pagasse por ter findado com uma vida tão jovem de uma forma tão cruel e brutal.
Quando tudo se tornava tão pesado e difícil de aguentar sozinha, ela lembrava-se de seu marido e então olhava para o lado, sabendo que ele também vivia em tormento.
Os dois nunca mais foram os mesmos, mas tampouco falavam sobre aquilo.
O tempo se passou, os dias correram e o acontecimento ficava cada vez mais distante. Polícia nenhuma conseguia descobrir quem de fato fora o responsável pela crueldade, o que deixava os pais ainda mais frustrados.
Ela até mesmo tentou procurar por si só uma maneira de acabar com aquilo, dar um fechamento no caso na desesperada tentativa de diminuir a dor, mas também tudo fora em vão.
Depois muita frustração e falta de resposta, ela decidiu apelar para a única coisa que ela sabia que não falharia.
Em uma noite fria, depois de mais um episódio onde ela acorda os vizinhos com o som do pesar e da morte, a mulher decide sue destino, apelando para uma solução sobrenatural.
Há dias ela pensava naquela hipótese, em tudo o que poderia dar errado, mas sua vontade de vingança e justiça foi mais forte. A curiosidade reverberava por suas veias.
Ela esperou pacientemente que o marido dormisse, então saiu da cama e se trancou no banheiro. A respiração curta, as mãos temendo de medo; a escuridão silenciosa ao redor parecendo mais pesada.
O espelho a sua frente refletia para sua imagem de volta; rosto pálido com olhos profundos e escuros, a expressão presa em um constante luto.
Ela respirou fundo muitas vezes antes de finalmente ter coragem para proferir as palavras que seriam sua justiça e perdição.
Com a voz lenta e profunda, a mulher entoou o chamado para a entidade, repetindo três vezes o nome de Bloody Mary para seu reflexo.
Ela sabia que apelar para lendas era ridículo, mas passou a vida inteira ouvindo sobre como a fé pode mover montanhas, e naquele momento ela não tinha nada mais do que fé de que teria sua tão aguardada justiça.
Nada aconteceu por um instante, a levando a crer que estava mesmo ficando louca ao pensar que uma lenda urbana viria para acabar com seu tormento. Mas ao olhar novamente para o espelho, ela pode ver a mulher do outro lado, assemelhando a si mesma porém pior, a própria personificação do terror, coberta de sangue e sem olhos.
E então sumiu.
A mulher não pode evitar o pequeno sorriso ao voltar a ver somente seu reflexo. Ela havia conseguido então sua sentença. Agora era só esperar e descobrir o culpado por toda a sua dor.
O grito de terror seu marido a despertou, fazendo ela correr do banheiro a seu encontro, mas já era tarde demais.
O espírito, que todos julgavam ser apenas uma lenda comumente escolar estava lá, totalmente materializada e arrancando os olhos do homem.
A mulher não fez nada a não ser assistir horrorizada enquanto a bruxa do espelho afundava os dedos dentro da cavidade ocular de seu marido, arrancado sangue e o fazendo soltar gritos de desespero.
Depois de findar seu trabalho de arrancar os dois olhos do homem, ela o puxou pelo pé para fora da cama o arrastando em direção ao espelho grande do outro lado do quarto, o soltando quando o reflexo dele apareceu.
O reflexo da bruxa não apareceu novamente no espelho, mas o sangue podia ser claramente visto enquanto ela escrevia o nome da vítima no vidro.
A mulher estava estática, paralisada de medo, utilizando a porta do banheiro como apoio para não cair enquanto assistia a entidade arrastar seu marido e escrever o nome de quem ele assassinou no espelho.
Quando o nome Henry apareceu completo no espelho, a mulher soltou seu grito novamente. Era o nome de seu filho.
A bruxa voltou-se novamente para o assassino depois de escrever com seu sangue o nome de seu próprio filho. O homem ainda agonizava levemente abaixo dela, perto da morte, terminando de pagar por sua vida miserável e maléfica.
O corte preciso das unhas da bruxa rasgou sua garganta, o fazendo afogar-se no seu próprio sangue lentamente até morrer de vez.
A mulher ao longe estava prestes a desmaiar quando a mulher sangrenta levantou-se de cima do corpo desfalecido de seu marido. Ela continuou parada esperando que aquele terror tivesse fim e que a bruxa voltasse para o espelho.
Ela tremia enquanto o espírito caminhava de volta para o banheiro, e todo o seu corpo gelou quando a criatura sangrenta parou a sua frente.
A mulher se manteve estática e o mais imóvel que podia enquanto assistia a bruxa olhar diretamente para ela, mesmo que sem olhos, e então voltar o olhar para o homem morto atrás de si.
A mulher soltou seu último grito quando de repente sentiu os dedos de Maria Sangrenta se afundarem em suas órbitas e puxarem seus olhos para fora.
Ela ainda sentia seu corpo enquanto era arrastada pelo chão e jogada ao lado de seu marido morto, mas ela não podia mais ver enquanto a entidade escrevia com seu próprio sangue o nome de Henry outras vez no vidro do espelho, logo abaixo do primeiro.
Ela ainda sentia seu corpo moribundo quando as unhas afiadas da bruxa cortaram sua garganta e ela gorgolejou até a morte, não sentindo nada mais que satisfação por ter conseguido sua justiça.
.oO0Oo. .oO0Oo. .oO0Oo.
Fim..
VOCÊ ESTÁ LENDO
Justiça Sangrenta
Short StoryConto de terror sobre a lenda de Blood Mary, também conhecida como Maria Sangrenta. ---------- Uma mulher que perdeu seu filho em um cruel assassinato apela para a lenda da bruxa do espelho para fazer justiça, fazendo com que quem quer que seja o re...