Sobre a noite passada | Joseph Quinn | HIATUS

O mala sem alça

A pequena mala em cima da cama estava um caos, na realidade todo meu quarto estava: roupas jogadas pela cama e pelo chão, produtos de higiene espalhados em todo o ambiente, poderia jurar que vi de relance um sutiã pendurado no ventilador de teto.

Suspiro fundo tentando manter a calma e a organização, preciso apenas focar.

Você sabe fazer uma mala Agnes, qual é o problema em se concentrar nisso? Não é tão difícil.

Volto a me concentrar na pequena pilha de roupas íntimas ao lado da mala, começar pelo básico. Foco em escolher as calcinhas confortáveis e uma sem costuras para não marcar no vestido da festa. Mesmo que ainda não tenha ideia de qual eu vá usar. Começo a vasculhar e separar as peças que levaria, me deparo com um conjunto rendado vermelho escuro belíssimo. Nunca o usei, quando o comprei queria usar com Olliver. Obviamente nunca tive a oportunidade e espero não voltar a ter.

Pondero por alguns segundos se levo ou não o conjunto sexy. Meus pensamentos divagam para esta manhã, quando encontro Joseph em sua porta preparado para sair com uma gravata em mãos da mesma cor que as duas peças que seguro. Sem pensar muito coloco a lingerie em minha mala.

- Viu? Não foi tão difícil. – Falo ao vento olhando para a única parte da mala em que organizei adequadamente. – Agora os looks. – Paro em frente ao meu guarda roupa e observo as peças jogadas em todas as direções. Coloco as mãos na cintura pensando.

Para a festa, o mais importante, escolho meu vestido longo. Era justo ao corpo e com um caimento belíssimo, as mangas longas e bufantes me ajudariam a não congelar com o vento de Essex e para finalizar, a cor verde escura com detalhes em dourado. A cor destinada ao clã de minha família. Mamãe ficaria orgulhosa.

De resto decido levar roupas mais simples: calças jeans, camisas de botão, saias longas... Acredito que tenha terminado de arrumar minha mala depois de duas horas da mais pura concentração. Não precisava de muita coisa, chegaria na sexta a noite e domingo de tarde já estaria em casa. Mas toda vez que me concentrava em uma parte da organização, certos olhos castanhos entravam em minha mente e dispersavam o que quer que estivesse fazendo.

Fecho a mala e a deixo ajeitada ao lado do sofá na pequena sala. Robert brincava entediado com sua nova garrafa de plástico e o apartamento estava no mais absoluto silêncio.

- Como você está meu amor? – Chego mais perto, ajoelhando-me a sua frente, enchendo sua cabeça de carinho. Ele fecha seus olhos pidões apreciando o gesto. Sorrio. – Quer passear um pouco? – Assim que escutar a palavra mágica Robert ergue as orelhas atentas e prontamente começa a se levantar com as patas dianteiras.

Sorrindo animada pego a sua cadeirinha e começo a arrumar no chão, como sempre Robert aguarda ansioso e assim que a geringonça fica pronta, ele posiciona-se no lugar e eu firmo a cadeirinha em sua volta. Tão animado quanto uma criança com açúcar no sangue, o cão preto de porte médio segue rapidamente para a porta de entrada, aguardando-me. Pego alguns biscoitos de recompensa, o saquinho higiênico, um pouco de água e por fim uma bolinha. Por mais que Robert odeie brinquedos, eu nunca desisto de tentar.

Abro a porta do apartamento e seguimos tranquilamente pelo corredor, com Robert cheirando alguns cantos a procura de algo até chegarmos ao jardim, e então, ele se dispersar entre a parte verde e o concreto. Já estava noite, o pequeno jardim tinha uma iluminação linda, Robert brincava de cavar perto de uma pequena árvore e eu o observava sentada em um dos bancos que havia ali. O céu estava lindo, são poucas as vezes que o céu de Londres fica limpo e você pode observar as estrelas, principalmente quando o inverno se aproximava.

- Boa noite. – Escuto um pigarro já conhecido. Sem perceber abro sorriso discreto, mas logo trato de reprimi-lo.

- Oi Joseph. – Ergo o olhar em sua direção. Dessa vez o loiro adornava de trajes simples: jeans, uma camiseta preta manga longa e o mesmo tênis branco da Adidas.