Consigo acordar de verdade, pelo menos eu acho que dessa vez acordei mesmo, Laura está abraçada
comigo, colocando uma bolsa gelada na minha cabeça. E todos os outros em volta, me olhando com caras
assustadas em pânico. Consigo sentir a dor de todos só com o olhar fixo, eles com certeza acharam que eu
estava morto. "A real morte não acontece quando nosso corpo desliga suas funções, isso é o que a ciência
diz, morte é, perdermos as belas sensações da vida".Eu já estava morto a muito tempo, apenas estou sobrevivendo. Eu acho que nunca vivi de verdade. Não pedi
para está aqui, não pedi para ser assim, não tive culpa de nada, e eu acho que ninguém é culpado. Não
acredito também que tenhamos um propósito ou destino traçado, não acredito que tenha um Deus ajudando
a vencer nossos objetivos, ou talvez uma energia no universo que nos realiza desejos da alma. Somos apenas
improváveis acontecimentos do sistema interestelar.Hoje sei o quanto os livros me diziam, a vida realmente é improvável, nada que você planejar irá dar na
mesma sintonia que você imaginou, nada vai acontecer do jogo que categorizar. Imagina uma pedra sendo
jogada no lago. Uma pedra aleatória em um lago aleatório, você não sabe se ela vai afundar, você não sabe
quantas ondas irá fazer ao tocar no lago, você não sabe se ela chegará ao fundo e voltará na metade, não vai
saber a velocidade, não sabe o tempo, não sabe se o lago é raso ou se é fundo, talvez nem saiba se é real o
lago ou a pedra, pode ser tudo sonho ou alucinação, você não tem certeza de nada, a vida é como uma pedra
jogada no lago. Ela é tão confusa, complicada ao entender ou estudar. Mas é linda, complexa e ao mesmo
tempo é simples, como uma pedra jogada no lago.Estamos todos sãos e salvos, isso é uma notícia ótima, quero continuar com a certeza que meu pai está vivo,
com uma esperança forte. Apesar de que todas as condições mostram que isso é impossível, meu pai tem
0,1% de chances de ter sobrevivido. E se ele por acaso tenha resistido, os humanos pegaram ele e nunca mais
eu saberei onde ele está. Então respiro fundo, olho para a caverna fechada e tento falar, mesmo as palavras
saindo forçadas:— Vocês me prometem que nunca mais vão apoiar uma merda dessa? Nunca mais. Vai, prometam por favor,
pela nossa amizade.— Eu prometo! — diz Look adentrando primeiro.
— Também prometo! — fala Lola com os olhos cheios de lágrimas, abraçada à Valete.
— Também prome… — Keano ia falar que promete, porém Piter interrompe e diz:
— Não acham deturpado e sem noção prometer algo? Eu nunca prometo nada, não gosto de me sentir
obrigado a cumprir. Não faz nenhum sentido.— Eu não entendi Piter, pode explicar melhor? Por favor? — Valete entra no meio da conversa, mostrando
interesse pelo assunto.— Um exemplo básico é que prometemos amar pessoas, está com elas sempre, ajudar e dar atenção, também prometemos fazer determinadas tarefas para nossos pais, ou professores, chefes de trabalho. E quebramos as promessas. Não seria melhor deixar acontecer tudo naturalmente. A vida é improvável demais, e nós também somos. Você não pode prometer algo que não tem certeza. Se vai fazer determinada coisa, não prometa cumpri-la, apenas faça. — Piter termina sua explicação.
— Poxa… — respiro e falo abismado.
— Bem… Eu não prometo, mas vou tentar não fazer essa merda de novo, mas se for por um bem maior, sabe
que vou fazer, por isso não prometo. — Piter mais uma vez desabafa, e saí caminhando por um caminho entre
as pedras.— Ele tem total razão, faz muito sentido isso gente. — fala Valete.
Eu sei que ele tem razão, e talvez seja esse o motivo do por quê odiei a resposta, muitas vezes prefiro ouvir a
verdade, mas quando ela é dita sempre dói. Sei que é para o meu bem, por isso não reclamo e fico calado.
Laura me ergue do chão junto a Keano, graças a eles que estou vivo, não sei como que não quebrei nada
nessa queda livre, então pergunto:
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DISTINTOS DO NORTE 2
AléatoireOs distintos do Norte é uma seção dedicada a Lunna Floryps, uma amiga que muito me inspirou, todos os personagens têm seus traços característicos inspirados nela. Boa leitura. No volume 1 em Distintos do Norte, conhecemos os Gannas e Lunieis. Condiç...