Os Ventos do Inverno

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Fazia já algum tempo que o trote constantemente do grande alce pela neve fofa era tudo o que Jon Snow escutava. O alce fora um último presente de Faya, para que ele avançasse mais depressa para a muralha. Jon não questionou o gesto aparentemente gentil da mulher, ele tinha pressa em chegar a Castelo Negro. Custe o que custar.

Estava mais do que grato pela montaria. Ela lhe deu dias de descanso, o que o ajudou a recuperar mais um pouco de suas forças. O alce era um animal esplêndido. Todo castanho,  com grandes chifres e patas enormes.  Apesar da cara de poucos amigos, era uma criatura dócil e gentil. Fantasma caminhava a frente dos dois, um enorme vulto branco deslizando silenciosamente sobre a neve fresca.

Jon o observou enquanto ele avançava silenciosamente contra o vento cortante, mal deixando pegadas sobre o gelo macio. Percebeu que ele crescera mais enquanto os dois estiveram na  cabana de Faya, o que Jon julgou não ser mais possível. Mas ali estava, apesar do mal humor por causa da presença do alce, Fantasma estava consideravelmente maior, como se uma parte oculta do lobo houvesse despertado.

O vento passava entre as folhas, murmurando em seu ouvido. Jon enrolou-se  com mais afinco em sua capa, sentindo uma dor persistente em seus lábios rachados pelo frio.  Uma camada de gelo insistia em grudar em suas roupas e ele considerou se talvez não fosse o momento de parar e buscar um abrigo para se proteger da noite.

De repente, Fantasma parou, escutando, o focinho voltado para o céu nublado enquanto farejava, buscando. Jon Snow também parou,  esperando. Quando os pelos do lobo se eriçaram e Fantasma mostrou os dentes, Jon Snow sentiu o frio o invadir. Não o frio que soprava com o vento, mas um frio mais frio do que o frio. Um frio de morte. Um frio que ele julgou para sempre desaparecido.

Na mesma hora, o alce embaixo do seu corpo começou a se mexer inquieto, batendo as enormes patas no chão, soltando mugidos de desespero. Jon Snow saltou do animal antes que ele o derrubasse sobre a neve fofa. Tentou segurar suas rédeas, mas o alce se soltou, correndo na direção oposta ao cheiro. Apesar do frio, sentiu que transpirava. Seu coração batia acelerado e suas mãos tremiam quando ele puxou Garra Longa da bainha.

Fantasma recuou, aproximando-se dele, mas sem dar as costas para o local onde lobo e homem conseguiam farejar o cheiro perturbador. Vinha da direção das árvores que contornavam um dos lados da estrada. Quando um montículo de neve deslizou da folhagem de uma bétula, Jon se deu conta que parara  repentinamente de ventar, mas que o frio aumentara , cavando fundo em seu coração em busca de seus medos e segredos.

A morte anda novamente entre os vivos, considerou quando o silêncio se arrastou pela neve, mostrando um rosto comprido, branco como leite talhado e perfurado por olhos azuis como uma ferida.

Jon Snow ofegou, dando um passo para trás. Havia visto muitas coisas ao longo de suas poucas primaveras. Vira o último dos gigantes sucumbir,  os últimos dragões, havia voltado dos mortos mas nada, nada poderia tê-lo preparado para aquele momento.

O rosto da morte diante de si, aquele rosto... era o rosto de Arya Stark. Sua irmãzinha. Jon Snow quis chorar, quis gritar, amaldiçoar os deuses, mas o som de Agulha sendo puxada da bainha o trouxe de volta para a realidade. Arya Stark, sua valente irmã, havia se transformado numa caminhante branca.

Ela se aproximou pela neve, silenciosa como um fantasma. Não havia nada em seu rosto, apenas a morte em seus olhos, não mais cinzas como os meus.

O espectro que um dia fora sua irmã correu até ele com a espada apontada para seu coração. Jon Snow vira a morte em seus olhos gelados, mas então algum instinto de sobrevivência o fizera reagir. Aço retiniu contra aço e Jon percebeu que sangue seco congelado formava uma crosta numa parte dos cabelos da criatura que um dias fora sua irmã. Ela abriu a boca, mostrando uma língua negra, mas nenhum som escapara de sua garganta.

Jon Snow conhecia aquela dança. Suas espadas voltaram a se encontrar e ele percebeu que os movimentos dela não eram mais suaves, apenas brutais.

Ela matou o Rei da Noite e depois partira para o Mar do Oeste. O que havia acontecido?

Agulha passou a centímetros de um de seus olhos, arranhando sua bochecha. A espada que Jon lhe dera de presente antes de partir para a Muralha. Aponte a ponta aguçada, dissera a ela.

Agora lutando por sua vida, Jon Snow  chutou  Arya na barriga,  derrubando-a no chão e  antes mesmo que tivesse tempo de  respirar, Arya estava em cima dele  mais uma vez derrubando-o contra a neve fria. Os dedos negros das mãos que um dia fora de Arya, se fecharam em torno de seu pescoço, sufocando, sufocando e sufocando. Seus olhos gritavam morte, morte, morte.

Jon tentou alcançar Garra Longa quando Fantasma investiu furiosamente sobre o ombro de Arya, arrancando pele e osso, puxando-a para longe de Jon. Bílis subiu por sua garganta e ele sentiu  que estava prestes a vomitar. Amaldiçoou seu corpo ainda fraco, amaldiçoou os deuses mais uma vez, amaldiçoou Bran pelas mentiras.

Sabia que ela não iria parar... Lutava  contra seu corpo pesado, tentando ficar de pé quando percebeu que Fantasma ainda lutava por ele. Lobo e menina rolaram pela neve fresca, numa  luta silenciosa e mortal. De repente, a garganta dela foi rasgada  e sua cabeça rolou pela neve, sem que nenhuma gota de sangue fosse vista. Está morta há muito tempo, ele pensou com uma tristeza quase desesperadora.

Jon Snow tentou respirar, mas o peso do mundo parecia esmagar o seu coração. Seus olhos arderam e ele se deu conta de que o que restará da irmã ainda se  mexia, tentando alcança-lo, tateando cegamente a sua procura. Teria que queimá-la, só assim acabaria.

Diante de si Fantasma continuou rosnando, o olhos vermelhos queimado furiosamente. Jon Snow virou-se lentamente, sentindo um calafrio descendo por toda a extensão de sua coluna,  então ele os viu. Silenciosos sobre  a parte mais alta da estrada. Observando sua luta com uma curiosidade fria e desdenhosa.

Eram dois. Montados em cavalos que Jon sabia que estavam mortos. Tinham longos cabelos da cor do gelo, rostos de um branco leitoso, um corpo longo como uma espada e mesmo de longe, seus olhos brilhavam azuis, como uma estrela fria. Lembrou-se das palavras de Faya. Aqueles eram os deuses do inverno. A morte branca. Os Outros.

NOTAS :

E aí pessoal
Chegando com mais um capítulo. Como podemos ver, a Arya foi parar nas mãos dos Outros kkk.

Apesar do ranço instaurado na oitava temporada, eu gosto muito da Casa Stark nos livros. Mas vamos lembrar que aqui na fic eu parto da oitava temporada pra tentar consertar algumas coisas. Porém, na história canônica, existe um grande mistério sobre o mar do oeste, pra onde a Arya foi ao final da chernotemporada. Geralmente quem se aventurou, nunca voltou. Ninguém sabe o que tem lá. Então não dava para trazer a Arya para a história e da um final feliz para todo mundo. Eu podia deixar sua história como um mistério ou trazer parte desse mistério pra fanfic. A embarcação em que Arya voltou para Porto Real e a encontramos como uma ferramenta dos outros para atingir Jon.

Na série, acompanhamos a luta contra o Rei da Noite, mas aqui na fic, vamos ver mais um pouquinho dos Outros, que são a verdadeira ameaça em asoiaf. O Rei da Noite nos livros é apenas uma lenda, mas os Outros são reais. Pra quem anda esquecido dos babados como eu, a conversa entre Jon e a Faya ajuda a entender um pouco como chegamos aqui. Ela basicamente disse para o Jon que a magia que foi usada para criar o rei da noite foi aprendida com os Outros. Então vamos ver como tudo isso vai se conectar no final, mas acho que já está claro que foi por causa dessa nova ameaça que Daenerys passou todo esse tempo sendo preparada.

É mais um capítulo curtinho, mas prefiro que seja assim pelo menos até eu voltar a velha forma.

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