9|Ponto zero

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Noah Urrea

Eu tenho regras...- Ela sussurrou, sem tirar o olhar dos meus lábios. Eu assenti, assistindo seu peito subir e descer rapidamente. - Nada de você me dar ordens. E nada de você me assistir dormir. -Eu umidessi os lábios e ela arfou com o movimento. Minhas mãos estremeceram com a vontade de colar nossos corpos. - Nada de invadir minha privacidade também.

Ela ficou quieta e eu me afastei alguns centímetros. Nossos olhares se encontraram, e eu pude ver que suas pupilas estavam gigantes. De desejo.

Ela me queria. Talvez não tanto quanto eu a quisesse, mas ela me queria.

- Só isso? -Perguntei acalmando minha respiração.

Sina mordeu o lábio e eu quase gemi.

Sua respiração falhou e eu assisti a ela tentando manter a calma.

- Tem mais uma coisa. -Eu voltei o olhar para seus olhos. -Nada de me olhar desse jeito.

- Desse jeito como?

Percebi que minha voz estava mais rouca que o normal, o que fazia meu sotaque transparecer muito mais.

- Como se você quisesse rasgar minhas roupas e me comer contra a parede mais próxima.

Eu nunca soube o que realmente significava ter autocontrole até aquele momento. O dia de hoje estava sendo psicologicamente impossível.

Primeiro, temos Sina me abraçando e descansando a cabeça em meu peito enquanto dormia. Depois temos ela corando. Depois eu ligo para ela e ouço algum tipo de gemido, e ela me responde que esta encontrando o parceiro para noite. Eu já achava que estava no meu limite, quando entrei naquela loja de lingeries e a vi vestida com a roupa mais sexy do mundo. Dentro daquela sala, irritado, com ela vestida daquele jeito, eu quase a beijei. Quase.

E então quando tive alguns segundos ao ar fresco para me recompor, longe do cheiro dela, a mulher me aparece vestida como uma deusa. E agora estamos no meio da calçada vazia, esta de noite, ela não para de olhar para minha boca e me solta uma coisa dessas.

Imagens de dela contra a parede, gemendo e enlaçando meu pescoço invadiram cada canto do meu cérebro. E eu me afastei alguns metros daquela mulher.

- Nunca mais diga algo assim para mim de novo. Nunca mais.

Eu disse com o último fiapo de voz que me restava.

Sina me encarou e respirou fundo.

- Podemos ir para sua casa agora?

Ela parecia exausta, e eu pensei que deveria ser tão cansativo para ela resistir a nossa atração quanto era para mim.

Eu assenti e comecei a andar até a onde tinha estacionado o carro.

- É sua casa também, sabe? Não precisa dizer que é "minha casa".

Ela me ignorou e foi abrir a porta dianteira, mas eu coloquei a mão na maçaneta antes dela.

- Desculpe, minha mãe e meu pai eram muito rígidos no quesito "trate as mulheres como as rainhas que elas são".

Eu abri a porta para ela que, por sua vez, entrou em silêncio. Eu fechei a porta e entrei no lado do motorista depois de colocar as compras atrás.

A viagem até a minha casa foi silenciosa, e eu não tinha certeza se gostava disso ou não. Por um lado, era bom poder descansar um pouco e não forçar meu cérebro nas nossas usuais batalhas verbais. Por outro, eu achava que a sua voz era a coisa mais linda do mundo, e saber que ela estava quieta por minha causa era doloroso.

Apertei o volante quando o celular dela tocou.

-Oi. Sim, estamos chegando...Não se preocupe. Ele foi idiota como sempre, nada demais, nada de menos

Eu mordi a parte interna da bochecha.

Idiota como sempre heim?

Sina ficou em silêncio por alguns segundos, e depois se despediu.

-Não aconteceu nada demais. Ok. Até amanhã

O carro voltou a ficar silencioso, e eu estava desconfortável. É só que ela sempre estava tagarelando sobre alguma coisa, ou reclamando, ou só fazendo sons com a boca. Não parecia certo que e ela sentisse a necessidade de ficar quieta só porque estava chateada comigo.

Irritada.

Me corrigi mentalmente.Sina não ficava chateada. Na verdade, se bem me lembro, ela estava "puta da vida" comigo.

Sorri com o canto dos lábios.

A mulher era uma caixinha de surpresas mesmo.

Chegamos em casa e ela não me deu a oportunidade de abrir a porta do carro para ela. Ou de mostrar a casa. Ela apenas entrou, como se fosse dona do lugar e não como se nunca estivesse entrado ali na vida, e me deixou plantado na garagem, a assistindo perplexo.

Então voltamos ao ponto zero, onde eu seria ignorado?

Suspirei e peguei as compras, tentando ter paciência. Eu sabia que era um cara difícil de se conviver. E Sina, por mais durona que fosse, não tinha a obrigação de lidar com as minhas merdas. Ela me deixava louco, era verdade. Mas não era culpa dela que meu pau ficava duro só de observa-la. Ou que eu quisesse arrancar a cabeça de cada imbecil que a olhasse na rua. Isso era problema meu. O que só significava uma coisa: eu deveria pedir desculpas.

Olhei para a escadaria gigante que levava ao andar dos quartos.

Agora? Mais tarde? Amanhã?

Respirei fundo e tomei minha decisão.

Que os céus me ajudem.
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Até o próximo capítulo🦋

Broken Pieces•𝘯𝘰𝘢𝘳𝘵Onde histórias criam vida. Descubra agora