A vida é como um filme; você é o protagonista, e suas atitudes moldam o desfecho. Existem os antagonistas que interferem, como a tristeza, raiva e até mesmo o medo. Se deixarmos que esses sentimentos controlem nossas ações, podem causar estragos significativos.
No meu caso, permiti que a raiva guiasse minhas decisões. Agora, estou sentada em uma cadeira estofada, ao lado esquerdo do meu pai, cuja expressão sempre serena e calma contrasta com a carranca da diretora à minha frente. Mônica, a diretora (ou ex-diretora, dependendo do desfecho desta conversa), olha-me com rugas na testa, claramente irritada.
"Senhor Roussel, solicitei sua presença aqui para discutir o comportamento de sua filha", começou Mônica, mantendo seus olhos fixos em meu pai, como se quisesse devorá-lo ali mesmo com seu olhar severo. Meu pai voltou-se brevemente para mim, mas sua expressão era de compreensão e talvez um leve traço de diversão.
"Alyssa tem se envolvido em muitas brigas desde que chegou à escola. Recebo constantemente ligações dos pais pedindo sua imediata retirada", continuou Mônica, seu tom ainda mais duro.
"Entendo que ela pode ser um desafio às vezes", meu pai fez uma pausa, olhando-me diretamente antes de prosseguir, "mas como diretor(a), tenho certeza de que pode dar a ela mais uma chance, não é mesmo?"
Meu pai sempre fora habilidoso em usar seu charme e calma para suavizar situações difíceis.
Mônica fitou-o por alguns longos segundos, depois voltou-se para mim pela primeira vez desde que entrei naquela sala abafada. Seu olhar era carregado de ira e deboche. Por um momento, senti como se seus olhos pudessem me matar.
"Como diretora, devo atender aos pedidos dos pais. Eles são minha prioridade. E me livrar de um aluno para acalmar dezenas de pais é inegociável", ela disse, pegando algo em sua mesa de madeira escura. Ela me entregou uma caneta ao lado dos papéis de expulsão.
Meu pai abriu a boca para argumentar, mas foi interrompido por um gesto enérgico de Mônica.
"Ponto final, Sr. Roussel", disse ela com firmeza, e ele suspirou profundamente antes de assinar os documentos de expulsão.
Não dissemos nada no caminho de volta para casa. Sabia que se dissesse algo, poderia piorar as coisas. Já agi muito pela emoção hoje. Nossa casa ficava em um bairro de classe média, nada extravagante, mas o suficiente para o que podíamos pagar. Eu tinha um emprego de meio período no pequeno comércio da esquina, mas briguei com um dos clientes e fui demitida em menos de um mês. Recebi meu primeiro salário e nada mais.
A rua estava vazia, provavelmente todos os adultos estavam trabalhando para sustentar suas famílias, enquanto os filhos estavam na escola, com suas mentes perturbadas por hormônios e preocupações como o valor das contas e espinhas.
Perdida em meus pensamentos, nem percebi que já estávamos em frente à nossa casa até meu pai dar dois toques no vidro ao meu lado. Acordei como se saísse de um transe, sacudi a cabeça para afastar os pensamentos não resolvidos, peguei minha mochila e abri a porta. Olhei para nossa casa, uma construção bege com portas e janelas brancas. A pintura estava descascada e a grama alcançava meus calcanhares. Chutei levemente a porta atrás de mim e segui meu pai para dentro de casa.
A porta rangia ao ser aberta, como se estivesse pedindo para ser consertada. Bastaria algumas gotas de óleo nas dobradiças, mas meu pai tinha outras preocupações além de uma simples porta. Eu mesma resolveria isso se soubesse onde estava o óleo lubrificante.
Estava indo em direção ao meu quarto quando ouvi a voz calma de meu pai me chamar.
"Alyssa! Pode parar um momento, vamos conversar. Já faz um tempo desde que tivemos uma conversa adequada", ele disse. Tinha razão, não conversávamos desde aquele dia.