O fantasma do Comunismo.

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O som horrendo de um helicóptero fez com que Soraya soubesse, instantaneamente, que teria companhia naquele sábado. Mesmo tendo completa ciência de que não esperava ninguém, seu subconsciente já sabia quem era aquela visita.

E, mais: sabia o motivo pelo qual ela estava ali.

Poucas eram as pessoas capazes de adivinhar o paradeiro de Soraya tão bem quanto sua ex-professora. Com um suspiro longo, levantou-se da poltrona onde estava recostada e andou até a soleira da enorme casa, pronta para mandar algum empregado buscar a mulher mais velha no heliponto, que era um tanto quanto longe dali.

Ela preferiria descer do helicóptero e montar num cavalo, mas sabia que a pompa e a elegância da mulher mais velha nunca permitiriam uma atrocidade daquela. Sorriu com o pensamento da morena de curtos em cima de um cavalo, reclamando do cheiro, do desconforto e de qualquer outra coisa mais.

Madame mimada, era isso que Simone Tebet era.

O sol da tarde iluminava cada pedaço de verde daquele Pantanal enorme, e era quase como se pudesse iluminar a alma de Soraya também. Sabia que precisava de paz e, por isso, não havia pensado duas vezes antes de decidir passar um período sabático no meio do mato. A corrida presidencial havia exaurido qualquer pingo de disposição de seu corpo, então, nada mais justo do que descansar naquele que representava o seu lugar favorito no mundo: o Pantanal mato-grossense.

Aquele pedaço gigante de terra, composto por alguns milhares de hectares, era parte integrante de sua família desde sempre. Cresceu ali, desfrutando da Fauna e da Flora daquele lugar. Fora ali que havia dado seus primeiros passos. Ali, também, que serviu de refúgio para uma jovem estudante de direito e sua admirada professora.

Soraya conhecia cada pedacinho daquela terra, conhecia cada cavalo, cada boi, cada árvore, cada gota do rio que cortava a terra. Amava passar noites em completo silêncio, admirando apenas o som da natureza lá fora. O mugido dos bois. O canto dos pássaros. O balir das cabras. O assovio ressonante do vento atravessando as copas das árvores.

Recostada na varanda, viu a Hilux prateada se aproximando. Sorriu com a cabeça baixa, antes de colocar o chapéu de couro claro na cabeça e descer para cumprimentar a velha amiga.

- Achei que o pessoal da esquerda já havia feito sua cabeça contra mim. – Se aproximou do carro e estendeu a mão para que a senadora se apoiasse.

- Oi para você também, querida Soraya.

A senadora de cabelos pretos aceitou a ajuda e, com um pequeno pulo, saiu do carro. Passou o braço carinhosamente pelos ombros de Soraya e seguiram andando para a sede.

Simone, no auge de seus cinquenta e dois anos, não poderia estar vivendo fase melhor. Pelo menos, não na cabeça de Soraya. Seus cabelos milimetricamente aparados pouco abaixo dos ombros reluziam um preto vívido, abençoados pela luz natural do local em que estavam. Diferentemente da ex-aluna, que vestia calças jeans de lavagem escura, camisa de mangas ¾, botas de couro e usava um chapéu de caubói para proteger o rosto do sol, a senadora Tebet preferiu apostar um vestido azul marinho pouco abaixo do joelho e saltos.

Sim, só Simone Tebet usaria saltos altos para visitar uma fazenda.

- Não sabia que receberia sua visita, então, não tem nada preparado aqui para você.

Se Você Vier [SORAYA & SIMONE]Onde histórias criam vida. Descubra agora