Capítulo 28

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Já tinha mexido naquele prato mais vezes do que posso contar, as algemas cintilantes de magia limitavam qualquer movimento intencionado que eu tivesse com a faca. As algemas pareciam estar ligadas ao meu subconsciente, qualquer ação que demonstra um grau de retaliação faz com que imediatamente meu corpo trave e minha mente entre em choque.

Um processo doloroso, extremamente doloroso.

Ayla havia sumido, não a vi desde que acordei inconsciente em um quarto com paredes azuis, lembro-me vagamente de como chegamos aqui. Acordei em uma cama grande, sem meus trajes e parecendo ter sido limpo. Me senti estranho quando me vi com roupas comuns, camisa preta e uma calça jeans surrada. De onde surgiram elas?

Devo ter apagado por mais ou menos um dia, levando em consideração que tinham duas bandejas intocadas na escrivaninha em frente a janela. Não ousei comer nada, não sei como foi preparada, onde, por quem e com qual intenção. Não estou a quatro dias fora de casa para morrer por um punhado de pão.

Depois de algumas horas tentando sair daquele quarto, uma figura alta apareceu no batente da porta, estava escuro, nada iluminava o lugar a não ser as luzes amarelas das velas. Eu pude sentir o cheiro de magia no momento em que ele encostou na maçaneta. Seres capazes de manipular magia se tornaram raros em nossa espécie, o último caso registrado de bruxos foi há milênios. Desde a guerra dos deuses nossa espécie foi limitada a elementos específicos da natureza, como água, luz, sombras, terra, ar e fogo.

Mas aquele cara, quem quer que seja, parece ter jogado anos da história no ralo.

Ele não me disse uma palavra até com a voz rouca, me chamou para jantar. E com chamar eu quero dizer um "venha" sem a opção de negar.

A sala de jantar é um ambiente charmoso, embora escuro, as paredes são revestidas por um papel que lembra muito tecido, as cores neutras transitam entre marrom e bege, o chão de madeira escura está coberto por um tapete estampado, a iluminação é feita por velas que cobrem o lustre acima da mesa.

-Você deveria comer.- disse o feiticeiro sentado à minha frente.

-Não estou com fome.

-Não comeu nada desde que chegou.

-Não gosto de... - tento procurar em minha mente qualquer familiaridade com o prato que estava à minha frente.

-Frango assado?- ofereceu ele risonho.

-Sim, frango assado, sou alérgico a carne branca.

-Isso é bom... muito bom.

O feiticeiro olha para mim com um olhar curioso, fazendo com que meus olhos involuntariamente espiam meus pés, agora calçados por um par de tênis surrados que me lembravam de Holly e me pergunto quando aquela situação constrangedora iria acabar.

-Preto fica incrível em você - diz ele com um sorriso estúpido no rosto.- Ele salienta a cor dos seus olhos.

-Quantos anos tem?

Ele ri.

Não aparentava ter mais que dezenove anos, a pele morena,o corpo magro e os traços definidos o deixava com uma aparência jovial, os olhos curvados bem desenhados pelo delineador preo, os cabelos curtos com uma ou duas mechas verde deixavam o bruxo... diferente. Seu estilo era ousado, misterioso e isso me deixou realmente intrigado.

-Isso importa?

-Curiosidade.

Ouço o som de talheres sendo postos na mesa.

-Não responderei às suas perguntas se não olhar para mim enquanto falo com quando falo com você.

-Estou algemado contra a minha vontade. Você me encurralou e me forçou a comer algo que nem ao menos sei como foi preparado. Minha irmã está desaparecida e não fez ao menos questão de me dizer o motivo por estar me fazendo prisioneiro. - Faço uma pausa.- Olhar pra você é desconfortável.

Corte da IrmandadeOnde histórias criam vida. Descubra agora