Capítulo 1

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Charlotte sentiu uma forte dor de cabeça ao abrir os olhos. Ao seu redor, as imagens ainda embaçadas, tornaram ainda mais confuso o despertar. A luz que entrava pela janela daquele ambiente parecia não ilumina-lo, apenas acender as dúvidas de quem não sabia aonde estava.

Ela esfregou as pálpebras na tentativa de limpar a vista e, aos poucos, foi capaz de enxergar as partes daquele aposento. As paredes encardidas e os móveis desgastados entregavam que estava em um lugar o qual, com sua boa condição financeira, ela não costumava estar.

Mas foi só quando olhou para o próprio corpo e pôde se ver apenas com roupas intimas que seu pesadelo começou e a ansiedade lhe tirou o ar. Como um foguete ela se obrigou a levantar da cama e mesmo que ainda sem forças, alcançou sua bolsa que estava no chão junto das roupas que ela havia usado na noite anterior.

Naquele momento, ela só conseguiu pensar em James, seu marido. E assim como uma criança que precisa do colo dos pais, ela sentiu que precisava do abraço dele, acreditou que só aqueles braços ao redor de seu corpo aliviariam toda a angustia que estava sentindo.

Ela abriu a bolsa em desespero, arrancando tudo o que havia dentro dela na tentativa de encontrar seu celular. Chorou ao perceber que ele não estava ali e quando pequenos gritos de frustração já começavam a ecoar de sua garganta, pôde ver o aparelho em cima de uma pequena cômoda que havia ao lado da cama.

Sem conseguir ainda se manter de pé, engatinhou até alcançar seu aparelho, ao pega-lo em mãos teve seu estômago revirado ao constatar que o mesmo estava sem bateria. Tomada por mais aquela frustração, deixou o corpo esparramar no piso de madeira velha em que se encontrava e ficou ali por alguns minutos enquanto as lágrimas escorriam pelo seu rosto.

"O que esta acontecendo?"

Foi o que Charlotte grunhiu um pouco antes de voltar a se sentar. Sentada, seus olhos cansados observaram mais uma vez aquele quarto, e foi quando ela decidiu que precisava reagir. Com as mãos sob o peito, respirou fundo como nunca havia feito antes e se levantou para caminhar até a janela, de lá pôde ver o movimento dos carros e das pessoas na rua. Sentiu-se grata por não estar em local deserto mas não pôde evitar de invejar quem por ali passava, nenhuma daquelas pessoas estava sentindo o que ela sentia naquele momento. Quando despertou desse sentimento, pôde reparar que a torre da igreja da cidade estava visível e foi quando se deu conta de que não estava longe de casa.

Charlotte não sabia como havia chegado até ali, só tinha certeza de que precisava encontrar uma forma de ir embora. Ela pegou suas roupas no chão e com dificuldade as vestiu, procurou por seus sapatos mas ao não os encontrar se dirigiu com os pés descalços até a porta. Torceu para que não estivesse trancada, à aquele ponto a fantasia de ter sido sequestrada já havia tomado a sua cabeça, mas ao encostar sua mão na maçaneta e gira-la, a porta se abriu.

Com certo receio, se esgueirou pelas paredes de um corredor vazio e só parou ao alcançar uma escadaria que a levaria para o andar de baixo. Cautelosamente firmou os pés em cada degrau pelo qual passou, em busca de equilíbrio, e ainda que sua atenção estivesse voltada para aquela dificuldade, não pode deixar notar os homens visivelmente drogados que por ali estavam. Ignorar aquelas presenças só deixou de ser possível quando um deles lhe tocou a perna. O frio na espinha causado por aquele toque a fez abandonar a cautela e correr pelos degraus restantes, aquele toque invasivo havia engatilhado em Charlotte uma preocupação sobre noite anterior: alguém mais a havia tocado sem seu consentimento.

Ao chegar em um ambiente que parecia ser uma recepção, o único som que ela conseguiu ouvir foram as batidas de seu próprio coração, era como se ele também a implorasse para ir pra casa. As batidas aumentaram a frequência quando ela pôde ler uma placa com o dizer "Saída" em cima de uma porta já aberta. Sem pensar, ela apressou os passos em sua direção, quando uma voz desconhecida a abordou.

"Está tudo bem, minha filha?" Uma senhora de uns setenta e poucos anos, que estava atrás de um pequeno balcão, questionou. Charlotte a olhou mas não conseguiu responder. "Precisa de alguma coisa?" Ela insistiu aparentemente preocupada, mas Charlotte não sabia o que responder, só precisava ir embora. Optou então por ignorar aquela senhora para passar pela porta e finalmente sair daquele lugar.

Charlotte não conhecia a rua em que estava, era uma travessa muito suja e exalava um cheiro muito forte de urina. Sentiu que todos que passavam por ela a observavam e era angustiante aquela sensação. Assim que viu o primeiro taxi passar, sinalizou para que ele parasse. Já dentro do carro, ao perceber que estava segura, o alivio a fez cair em prantos. O motorista, que já era um senhor de idade, a olhou pelo retrovisor mas não ousou dizer ou perguntar nada, apenas pegou um lenço em seu porta-luva e o ofereceu a ela.

"Obrigada." Charlotte disse tentando sorrir em meio as lágrimas. Aquele lenço havia soado como um abraço e era justamente o que ela precisava. Foi quando mais uma vez lembrou de James e em como queria encontra-lo. Só ele poderia fazer com que ela se sentisse melhor.

Alguns minutos depois, o taxista estacionou em frente a portaria do prédio em que Charlotte morava com James, ela abriu a bolsa em busca de sua carteira mas se deparou com a mesma vazia. Seu dinheiro, seus cartões e documentos haviam sumido mas naquele momento, ela ja havia passado por tanto que aquilo era o menor de seus problemas.

- Senhor, me desculpe. Esqueci minha carteira em casa. - ela mentiu. - Posso subir para pegar o dinheiro e já entrego ao senhor?

- Não se preocupe, senhorita. Eu te aguardo. - ele respondeu, amigavelmente.

- Obrigada. - ela sorriu.

Ela saiu do carro e entrou no prédio. Tentou atuar com normalidade para cumprimentar o Sr. Julio, o porteiro do condomínio.

- Bom dia, Sr. Julio.

- Srta. Charlotte. - ele pareceu dizer seu nome com certo receio.

Ela não pôde deixar de notar o olhar angustiado que ele carregava. Acreditou que estivesse visível que algo ruim havia acontecido a ela, afinal estava descalça e visivelmente desnorteada. Tomada por aquele constrangimento, se apressou para pegar o elevador.

Ao abrir a porta de casa, não pôde acreditar que havia finalmente chegado. Naquele momento só pensou no quanto queria ver James e contar a ele tudo o que a tinha acontecido, chamou por ele algumas vezes mas ao não obter resposta se lembrou que o marido estava em uma viagem de negócios, ela não havia tido cabeça para lembrar disso anteriormente.

Charlotte não pôde deixar de se sentir triste com aquela constatação mas sabia que bastaria ligar para ele que, sabendo da situação, viria ao seu encontro o mais rápido possível. Mas antes, precisava pagar o gentil motorista que ainda a aguardava na portaria.

Ela iniciou uma caminhada por aquele enorme apartamento em direção ao escritório para pegar algum dinheiro, foi quando viu no final do corredor a porta de seu quarto entre-aberta. A fumaça e o cheiro do cigarro de seu marido saíam por aquela fresta e seu coração quase explodiu quando deduziu que ele estivesse em casa. Sorriu com esperança, mas ao abrir a porta viu o seu segundo inferno do dia começar.

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⏰ Last updated: Oct 21, 2022 ⏰

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