Após um dia de amor e muitas descobertas, Metin e Clara adormeceram ao entardecer, exaustos, plenos e felizes. Tia Sumru até foi ao quarto, por várias vezes, verificar o que estava acontecendo, mas os gemidos ouvidos lhe esclareceram a situação.
Quando, pela quarta vez no dia, já à tarde, percebeu que não havia sons, abriu com cuidado a porta e viu o casal nu, abraçados, dormindo. Afastou-se silenciosamente, fechando-a com delicadeza e cuidado. Precisava providenciar uma boa ceia para quando acordassem, uma vez que não haviam almoçado durante o dia.
Ela sempre tivera o cuidado de deixar no quarto frutas frescas e fora para verificar isso, se haviam sido consumidas, que se encaminhara aos aposentos pessoais de seu senhor.
Sumru o amava como a um filho que nunca tivera. Fora trazida com ele da Capadócia, quando o príncipe retornava de seu exílio ou "treinamento" como gostava de dizer mestre Nureddin.
A fruteira estava vazia, então os amantes não estavam em jejum, apenas não quiseram sair daquele momento mágico de exploração amorosa um do outro.
Como todas as mulheres de sua tribo, fora educada a jamais pensar em um relacionamento sexual antes ou fora do casamento e aquela atitude do príncipe e da estrangeira a incomodavam, levando-a a fazer seus julgamentos.
Ele era o filho do sultão e podia escolher qualquer mulher do Harém real do palácio para ter prazer, mas nunca o fizera. Nenhuma mulher dormira nos aposentos do príncipe e Metin não tinha o hábito de pernoitar fora de casa, deixando as noites para ler ou estudar em sua biblioteca particular.
Seu menino, aquele que vira chegar à tribo, crescera e se tornava, dia a dia, um homem íntegro, honrado, carinhoso, gentil e generoso. Por que escolhera uma estrangeira para, pelo que tudo indicava, ser sua mulher e esposa?
As jovens da realeza suspiravam por ele e não foram poucas as negociações do sultão para que Metin já tivesse se casado com alguém da nobreza. Em todas as vezes ele negara mesmo no início de negociações de noivado.
Agora, voltando de uma viagem, trouxera uma jovem não muçulmana e de uma terra distante, que não falava a língua deles, não sabia os costumes e quiçá as regras da elite do Império.
Metin havia lhe dito que ela não comia carnes. Devia ser por isso que tinha uma pele tão pálida, como vira no banho. E aqueles arroxeados e arranhões? E as mãos machucadas e inchadas...
Enquanto dava as instruções à cozinheira, mestre Nureddin a saudou, entrando pela porta da cozinha, como sempre fazia.
- Tia Sumru, Assalamualaikum! Muito aprecio o cheiro de seu cozido, mas meu olfato percebeu algo diferente dessa vez.
- Alaikum Salam, mestre Nureddin. - disse a mulher respeitosamente beijando-lhe as mãos e tocando a testa com a mesma. - Dessa vez não há cordeiro no cozido.
- Cem me disse - falou o ancião - que a convidada do príncipe é vegetariana.
Sumru sorriu. É claro que o mestre já havia sido informado por seu antigo discípulo a respeito da jovem. Não estava ali para investigar nada. Era seu costume, naquele horário, vir até o pavilhão de Metin verificar se tudo estava bem ou precisavam de algo.
- Vossa Alteza me pediu para preparar para eles apenas vegetais cozidos e frutas e verduras frescas. Nada de carne. - disse-lhe com um tom de repreensão na voz.
- Não se preocupe tia Sumru. Os mestres mais saudáveis que conheço, muitos dos quais com quem estudei, eram vegetarianos, cheios de vitalidade.
Sumru queria lhe dizer que a aparência da jovem não era muito saudável, mas ele iria vê-la em breve e tiraria as próprias conclusões.
- Diga a Metin para amanhã ir me visitar - solicitou o mestre após, como era seu costume, ter visto que tudo estava bem.
- Fique para a ceia mestre - insistiu Sumru.
- Só diga à Vossa Alteza meu recado - disse sorrindo e piscando mestre Nureddin.
- Eles estiveram no quarto o dia todo - soltou Sumru, surpresa consigo mesma.
Nureddin, o antigo médico real, parou no ar o corpo flexionado que se levantava e, devagar, sentou-se novamente. Pensou por alguns minutos e disse:
- Então Vossa Alteza finalmente encontrou sua sultana! Já era tempo. Tenho certeza de que gostaremos muito dela.
- Ela não fala nossa língua, mestre.
- Posso ensinar a ela se Vossa Alteza permitir.
- Ela é estrangeira.
- Já tivemos sultanas estrangeiras no Império.
Sumru que fora ousada até ali, continuou.
- Ela é uma infiel.
- Provavelmente é cristã católica, pela região em que foi resgatada. - falou-lhe mestre Nureddin desta vez em pé, preparando-se para ir embora.
- Então precisará se converter para ser esposa do príncipe. - Sumru estava surpresa com aquele ressentimento.
O velho médico real não tinha certeza sobre esse ponto. Conhecia Metin bem para saber que aquela não seria uma condição para o casamento. Não deveria ser, uma vez que conversões são de caráter pessoal e, principalmente, espiritual, entre a pessoa e Deus.
- Tenho certeza de que Metin resolverá tudo da melhor forma possível. Que a paz de Deus fique com vocês. Diga a ele para me visitar amanhã.
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O SULTÃO E A PRISIONEIRA
Chick-LitO sultão e a prisioneira é uma história romântica, porque narra o relacionamento ideal e, por isso, fictício, entre um homem e uma mulher. O protagonista é o avesso do homem que encontramos no presente e, a história, como uma ficção, apenas utiliza...