Da marquise, Clara via seu amor iluminado pela luz do sol que atravessava as altas janelas da mesquita. Vendo-o ajoelhado ali, sozinho, a esposa do príncipe, percebia a solidão e enormidade das preocupações e responsabilidades sobre os ombros fortes de seu amado. Ele tinha um temperamento que preferia ocultar as tormentas que abalavam seu interior, mas o rosto másculo irradiava tensão.
Ela amara sair do Topkapi e explorar, mesmo escoltada, os arredores do palácio. Após seu primeiro encontro com o sultão, na noite de seu também primeiro encontro com mestre Nureddin e sua esposa, ficara ainda mais curiosa com as observações do pai de Metin.
Entrara na sala de audiências de mãos dadas com o príncipe, com a guarda real, Hakan, irmão de Vossa Majestade e vizir, o médico Cem e outros nobres a observá-la com cuidado. Não tivera coragem de levantar os olhos até que, após ajoelhar-se e beijar as mãos do sultão, ele lhe disse:
- Olhe para mim, minha querida.
Clara fitou o homem mais importante do Império Otomano e não reconheceu nele nada que lembrasse Metin. Mas, viu uma luz triste e curiosa em seu olhar.
- Ora, ora... - iniciou bem humorado o monarca - você minha jovem, me fez lembrar de uma deusa egípcia. Sekhmet. Deusa da destruição e cura.
Clara ficou curiosa e sem pensar muito perguntou:
- Quem é ela? - disse e sentou-se em frente ao sultão, com Metin logo atrás em pé com uma expressão de tensão.
O sultão riu e explicou.
- Eu gosto muito de um povo conhecido como Egípcios. Eles tiveram uma grande civilização e acreditavam em muitos deuses. Um deles, é a deusa leoa Sekhmet e olhando em seus olhos eu me lembrei dela.
Metin tinha o rosto fechado. Aquela descrição era de um possível perigo que Clara representava para o Império. E, sinceramente, não gostara das primeiras palavras do monarca.
- Eu gostaria de saber mais sobre esse povo - exclamou Clara mais para si do que propriamente para o sultão que mantinha as mãos dela entre as suas.
- Se o príncipe autorizar - iniciou o sultão - posso levá-la a um monumento egípcio que está na praça ao lado da mesquita azul.
- Eu mesmo a levarei majestade - interrompeu Metin, interessado em cortar qualquer laço entre sua futura esposa e seu pai.
Clara não disse nada. Apenas desvencilhou suas mãos das do sultão e levantou-se para ficar ao lado de Metin.
Vossa Majestade sentiu o coração partir. O filho sempre o tratava com uma formalidade excessiva e dificultava qualquer aproximação. Ele gostara da estrangeira e a observação era um elogio aos belos, grandes, rasgados olhos felinos da amada do filho.
- Clara Hatun - chamou-a a senhora Bahar - Vossa Alteza já se levantou da oração.
Ela e a esposa do mestre Nureddin desceram as escadas e rapidamente se juntaram ao príncipe que as esperava no andar inferior.
Assim que os olhos de ambos se encontraram, sorriram. Amavam estar perto um do outro e a vontade da jovem era enlaçar seus braços em seu pescoço e cobrí-lo de beijos. Mas não o fez porque não estavam sozinhos.
Tia Bahar seguia o casal enquanto deixavam a nave principal.
- Hoje você irá até a casa do mestre Nureddin? - perguntou Metin com sua expressão triste e séria, mas com a gentileza de sempre.
- Eu acho que você tem razão. - iniciou Clara. - Talvez devêssemos convidar meus professores para ficar em seu pavilhão no Topkapi. Seria mais seguro para todos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O SULTÃO E A PRISIONEIRA
ChickLitO sultão e a prisioneira é uma história romântica, porque narra o relacionamento ideal e, por isso, fictício, entre um homem e uma mulher. O protagonista é o avesso do homem que encontramos no presente e, a história, como uma ficção, apenas utiliza...