Descendo para o inferno

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"Tudo que eu fiz, eu fiz por amor"

...

Acordei em um ambiente silencioso, senão pelos 'bips' repetitivos de algum aparelho próximo a mim. Meu corpo todo estava dormente, embora sentisse algo estranho do meu interior.

Abri os olhos lentamente, fazendo uma careta pela alta luminosidade do ambiente. Tudo era branco, e ao olhar ao meu redor me dei conta de que estava em um quarto de hospital. Ao meu lado, um garoto de cabelos loiros estava sentado em um banco, com os braços sobre a cama e dormindo.

- Hanagaki...? Imediatamente o garoto despertou, levantou-se e arregalou os olhos com uma expressão cansada.

- Akira-chan! Eu vou chamar um médico e... - Antes que Takemichi pudesse se levantar eu agarrei seu braço, o olhando nos olhos.

- Aonde tá o meu irmão? - Perguntei transtornada. No entanto obtive apenas silêncio como resposta.

Takemichi se sentou novamente com um olhar vago, suspirou pesadamente com os olhos marejados, e então começou a chorar como uma criança. Debruçou-se sobre a cama segurando as minhas mãos, eu podia sentir como as dele tremiam.

- E-eu sinto muito... Não consegui salvá-lo...

- Do que você está falando...? - Senti um aperto no peito. Sabia perfeitamente o que Hanagaki queria dizer com aquilo, mas me negava a acreditar. O garoto então tirou uma folha de papel dobrada do bolso da calça, com as mãos trêmulas me entregou.

Eu estava tensa conforme abria a folha e espiava seu conteúdo. Na verdade, preferia não saber o que estava escrito ali. Ao examinar melhor, me deparei com uma letra estranha. A folha levemente manchada pela tinta da caneta que provavelmente estourou, e uma letra estranha de aparência 'rabiscada'. Letra essa que eu reconheceria em qualquer lugar, definitivamente a letra do meu irmão.

"Para a minha querida irmã Akira,

"Akira... Eu não gostaria de estar escrevendo essa carta, mas acho que não vou durar tempo suficiente para termos essa conversa. O hanagaki insistiu para que eu apenas ditasse e ele escrevesse por mim, mas eu quis fazer eu mesmo. Enfim... Eu só queria que você soubesse que eu nunca realmente estive do lado deles, tudo que eu fiz foi para eliminar o parasita do Kisaki. Não consigo imaginar o quão ruim foi para você me ver ao lado de quem mais te fez mal, e juro que eu quis socar a cara do Choji várias vezes, mas tinha que manter o disfarce. De qualquer forma, eu espero que você entenda que eu só queria salvar nossos amigos... E principalmente salvar você. Peço perdão pelas decisões que tomei, eu estava dando o meu melhor para ver todos bem e felizes. Sabe, eu sinto que estou ficando pior a cada momento, mas eles continuam dizendo que eu vou ficar bem. Já se passaram dias e você ainda não veio me ver, mas entendo que esteja brava comigo. Eu espero que um dia você possa me perdoar por ter te traído desse jeito... E na verdade eu quero te fazer um pedido. Por favor, saia da Toman. Não tente consertar o que deu errado, apenas se afaste, não quero que você acabe como eu. Eu amo você, irmãzinha, ♡"

Abaixei a folha em silêncio; minha visão estava ficando embaçada pelas lágrimas que se acumulavam ali. Assim que olhei para Takemichi, o garoto passou a manga do seu casaco nos olhos, secando as suas lágrimas.

- Ele não soube que você estava em coma... Nós não queríamos deixar ele preocupado...

- Não pode ser verdade... - Sussurrei mais parar mim mesma do que para ele.

- Escuta, Akira-chan! O Baji-San... Ele morreu como um herói. Ele apunhalou a si mesmo porque o plano do Kazutora-kun era matá-lo, e se isso acontecesse o Mikey-kun ia matar o Kazutora pra se vingar e essa ia ser a perdição da Toman! - Takemichi sacudiu os braços dando ênfase ao que dizia, e naquele estado qualquer um diria que ele estava no mínimo enlouquecendo.

Send Me Orchids - Ran Haitani Onde histórias criam vida. Descubra agora