Dead, Dezembro de 1989
Passou-se cerca de uma semana e meia desde o incidente do quarto. Eu demorei bastante tempo limpando aquilo pra sumir com o cheiro e com as manchas de sangue seco no chão. Passei o resto daquela noite totalmente envergonhado com a minha atitude, meu ataque de ciúmes fez com que eu, além de perder tempo da minha vida limpando, ganhasse mais cortes em outras partes do corpo... eu estava com tanta raiva que não pensei duas vezes em criar cortes fundos em minha coxa. No momento em que eu fiz isso eu buscava materializar minha raiva, e aquela era minha raiva, eu queria sentir esse sentimento de forma mais real... e o sentimento da raiva, em mim, é acompanhado da dor.
No entranto, a cicatrização deles não está sendo tão legal. Não fiquei de repouso, e mesmo não usando calças justas, ainda assim vez ou outra eu acabo gerando atrito entre o tecido e minha pele, sei lá, quando eu ando.
Os cortes ficaram meio... nojentos. Faz poucos dias que eles começaram a fechar, mas eu continuava não querendo mostrá-los a Øystein... e isso era uma tarefa meio difícil, porque eu precisava achar sempre alguma forma de não deixá-lo pensando que eu não tenho interesse nele. Então, nessa última semana, prestei atenção para notar quando Øystein estava querendo algo mais que beijos, para poder mudar aquilo pra algo que eu não precisasse tirar minha roupa; ou seja, nas últimas vezes eu terminava por simplesmente chupar ele, e ele parecia ok com isso, mas... me pergunto se ele não está irritado comigo por eu não ter feito nada além disso.
Bom, não é como se nós nos pegassemos todos os dias de qualquer forma, então eu posso tirar essa preocupação de nossa cabeça. Apesar disso, estamos bem, eu tive medo do clima ficar estranho depois daquilo, mas para minha felicidade isso não aconteceu. Talvez até tenha nos aproximado.Øystein me contou sobre como foi péssimo o encontro dele com o ex, eu tentei não demonstrar estar incomodado com aquilo, mas acho que não consegui porque ele pareceu perceber que algo estava errado e parou de falar sobre. Eu me sinto mal por ter sentido ciúmes, mas de fato... não somos nada. Mesmo assim eu quero que sejamos, ele mesmo disse que gosta de mim... por que não somos então? Me dói ter que admitir e encarar essa realidade, mas talvez não sejamos apenas por falta de coragem em nós dois de pedir isso, ou simplesmente por puro comodismo de não mudar essa situação.
Hoje é terça feira, o dia menos movimentado da loja, as vendas caiam tanto nas terças que decidimos que terças fechariamos a loja mais cedo, isso pouparia a conta de luz e nosso tempo também; às terças ela ficava aberta apenas até às 14h. Enfim, eu continuo ajudando Øystein com ela, é bem legal fazer isso.
Após Euronymous trancar a porta da loja, saímos para comprar algumas latas de coca-cola e fomos para o lago próximo de casa.
Quando chegamos, me sentei e esperei ele fazer o mesmo para poder deitar minha cabeça no colo dele.- Você me acha muito grudento?
Digo, olhando para ele com apenas um dos olhos abertos, já que tinha uma faixa de luz do sol batendo contra meu rosto, que incomodava minha visão.
Ele olhou para mim, riu e tomou um gole de sua lata.
- Claro, você nem disfarça. Por que a pergunta?
- Ah, porque eu acho que estar assim com você, isso é bem... grudento, você se incomoda com isso?
- Não, eu gosto de ter você perto de mim.
Ficamos calados por alguns segundos, eu continuei deitado ali, encarando o lago.
- Você acha que alguém já escondeu um corpo nesse lago?
- Com certeza, inclusive, eu mesmo estou planejando esconder o corpo de Necrobutcher e de Hellhammer aí.
Nós rimos juntos e eu me sentei para poder tomar meu refrigerante também.
VOCÊ ESTÁ LENDO
dearest
Fanfiction"Meu nome é Per Yngve Ohlin, mas eu prefiro que me chamem pelo meu apelido: "Dead"; ou para os mais íntimos, Pelle. Eu amo Black metal e odeio minha vida. Um dia eu ainda pretendo criar coragem e acabar com tudo isso."