Recomeço

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LUÍSA MONTEIRO

Já se passaram três longas semanas desde que meu pai partiu deste mundo, deixando-me com um fardo insuportável em meus ombros. A responsabilidade que ele me legou é tão esmagadora que sinto que jamais conseguirei carregar.

Nos últimos dias, minha vida tem sido dominada pela incessante especulação sobre eu assumir a presidência do clube. Não importa onde eu vá, seja online ou offline, a discussão sobre essa possibilidade me persegue. Até mesmo em casa, a única coisa que minha mãe fala comigo é sobre essa oportunidade única. Esse tema tem se infiltrado em todas as esferas da minha vida, preenchendo meus pensamentos e levando-me constantemente a refletir sobre as implicações e as responsabilidades envolvidas nessa posição de destaque.

-Hoje é o último dia para se candidatar - A secretária do meu pai adentrou a sala, proclamando.

-Eu sei, Elisa, mas honestamente não estou interessada nisso neste momento. Minha mente está ocupada com outras coisas - Suspirei - Por favor, feche a porta ao sair e, caso alguém venha a perguntar, diga que estou ocupada.

A mulher coloca com cuidado uma pequena pilha de papel na mesa que está bem em minha frente. Ela sai da sala, fechando a porta suavemente atrás de si, e eu fico sozinho no espaçoso escritório.

Aqui, no escritório do meu pai, eu tenho passado inúmeras horas ao longo dos dias. O ambiente é preenchido pelo aroma característico de papel novo, que parece impregnar cada canto da sala. O som suave e cadenciado dos dedos, que habilmente digitam no teclado do computador do lado de fora, cria uma trilha sonora familiar.

É curioso como, mesmo no meio de todas as obrigações e responsabilidades, eu me sinto reconfortado por esse lugar familiar. Talvez seja a combinação única do aroma agradável de papel com o som tranquilizador dos dedos percorrendo as teclas do teclado. Ou talvez seja a simples sensação de estar envolto em um espaço que representa segurança e apoio.

Independentemente da razão, o escritório do papai sempre foi meu refúgio pessoal, um local onde posso me esconder do mundo agitado lá fora e encontrar um pouco de paz. Enquanto olho para a pequena pilha de papel diante de mim, sei que haverá trabalho a ser feito, mas isso não me assusta. Ao contrário, sinto-me confortável por ter algo ocupando meu tempo.

Prestei uma rápida olhada na pilha de papéis recentemente deixada sobre a mesa, mas nenhum deles despertou minha curiosidade. Decidi então revirar algumas das gavetas, numa tentativa desesperada de encontrar algo que pudesse ocupar meu tempo e fazer com que as horas passassem mais rápido. Após esse breve exercício frustrante, me entreguei à grande poltrona, acomodando meus pés sobre ela e dirigindo meu olhar para o teto. Permaneci assim, imersa em meus pensamentos, por alguns preciosos minutos.

Eu entendo, compreendo perfeitamente que deveria ao menos me lançar como candidata à presidência. Foi o último desejo do meu pai, uma espécie de legado que ele me deixou. No entanto, não é isso que realmente almejo para minha vida. Sinto um receio profundo, uma insegurança em relação ao meu preparo e habilidades para assumir tal responsabilidade. Tenho medo de não ter a capacidade necessária para lidar com os desafios e as pressões que acompanham esse cargo. Tenho medo de tomar decisões equivocadas e colocar tudo a perder. Não quero, de maneira alguma, prejudicar o bom funcionamento da equipe que está por trás de mim. Afinal, não gostaria de ser a responsável por fazer o time afundar em direção ao fracasso.

Não importa, estou decidida a tentar. Se eu não der esse passo, nunca saberei se tenho chances de sucesso. É verdade que existe a possibilidade de dar errado, mas pelo menos poderei me orgulhar de ter me arriscado. Talvez seja melhor não arriscar, pois certamente haverá problemas. No entanto, tenho confiança em minhas habilidades e conhecimento adquiridos durante o curso, além de ter observado meu pai desempenhando essa função ao longo de minha vida. Sinto que estou preparada para enfrentar qualquer desafio que possa surgir. Claro, há o risco de tudo sair errado, literalmente tudo. Pensando bem, prefiro não encarar essa possibilidade e acreditar que as coisas darão errado. Não estou disposta a enfrentar todos os obstáculos que surgirem no caminho, pois acredito que o sucesso é improvável e não vale a pena correr o risco.

A PresidenteOnde histórias criam vida. Descubra agora