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Quinta-feira. Dia do julgamento e o idiota do Evan nem ao menos estava dando atenção para os e-mails que eu mandava para ele sobre o caso. Não almoçamos juntos, nãos tomamos café juntos e nem ao menos nos reunimos na sala de reuniões para debater um único assunto. Greg ficaria muito irritado se perdêssemos essa caso.

Eu ainda não entendia como ele confiava cegamente naquele idiota de olhos castanhos. Comentei isso com Nora, a governanta da casa do Greg, quando fui ao seu apartamento. Ela me pediu para ter paciência e disse que Evan era um garoto doce querendo provar seu valor, então eu rebati sua afirmação dizendo que ele estava provando ser um completo idiota.

Kelly me disse que ele foi muito gentil com ela no elevador e que se sentiu levemente atraída pela combinação dos olhos castanhos e do sorriso maroto dele. Me poupe! Foi o que disse a ela, sem ter mais um pingo de paciência para assuntos que envolviam o Evan.

— O advogado da acusação tem alguma prova de que realmente houve uma fraude ou está apenas supondo?— o juíz não parecia muito convencido de que Evan sabia o que fazia. Eu sabia onde estava a prova e para deixar ele ainda mais irritado eu havia feito uma cópia e a colocado no envelope azul que eu segurava nas mãos.

— Sim, Meritíssimo! Eu vou...— ele fez uma breve pausa enquanto procurava com o olhar as folhas que precisava.

Essa foi a minha deixa para provar a ele que meu trabalho tinha valor e que eu era excelente no que fazia. Greg ficaria furioso se perdêssemos o caso que ele vinha trabalhando a semanas e eu não podia deixar minha vontade de ver o Evan sendo humilhado, ultrapassar meu dever como assistente de um advogado tão importante como Greg.

— Meritíssimo, gostaria de entregar ao advogado a prova necessária. Sou assistente jurídica dele.— eu me levantei e ajeitei minha saia cor lápis. Haviam muitos rostos familiares e até mesmo o juíz me conhecia, tudo por conta do Greg.

Assim que o homem me permitiu levar o papel eu lancei um olhar lascivo para Evan e sorri presunçosamente. Como se quisesse dizer a ele "salvei sua pele". Ele agradeceu sem nem ao menos sorrir e constrangido entregou a prova ao juíz, logo em seguida fez o discurso para dar continuidade ao caso.

Quando tudo acabou eu me aprontei para deixar o grande tribunal, cumprimentei conhecidos e abracei alguns amigos. Greg iria querer que eu continuasse alimentando os vínculos com seus colegas de confiança, então foi isso que eu fiz. Evan, por sua vez, arrumou suas coisas e apenas cumprimentou o advogado adversário. Havíamos ganho o caso, mas ele não parecia muito feliz e seu olhar culpado me fez perceber que meu bom trabalho havia o impactado mais do que eu imaginava.

— Obrigado pela pasta. Eu...— estava no corredor e ele aproveitou que estava mais vazio do que a minutos antes.

— Não precisa agradecer. Eu teria feito isso pelo Greg também.— respondi antes dele continuar enrolando.

— Mas eu não sou o Greg.— ele disse em voz baixa e eu não pude fazer nada além de assentir com a cabeça.— O que faziam quando ganhavam um caso?— sua pergunta foi direta e me deixou um pouco confusa.— Vocês eram cheios de hábitos então eu imaginei que existisse algo para comemorar uma vitória.— ele deu de ombros e eu respirei fundo pensando cinco vezes se deveria dividir esse segredo com ele ou não.

— Temos, mas como você mesmo disse...Você não é ele.— eu engoli a seco e notei seu desconforto.— Então seria bom criarmos outro hábito.— me apressei em criar um clima melhor do que aquela tensão estranha.

— O que tem em mente?— por um milagre ele entrou no clima e eu notei um vestígio bem pequeno de um sorriso nos seus lábios.

— Tem uma lanchonete aqui perto.— ele não pareceu muito animado com minha sugestão.— Eles tem os melhores lanches da cidade. E tem um lanche picante que garante ser o melhor da sua vida.— eu sorri forma convidativa e suspirei não vendo a animação que eu esperava.— Eles tem bons uísques. Além de uma tequila sensacional!— e lá estava o sorriso que encantou as mulheres da nossa empresa.

Todas estavam definitivamente caidinhas por ele e viviam cochichando sobre o fato dele ser muito correto. O corpo malhado decorrente de longos treinamentos na academia, chegava bem cedo para conversar com alguns funcionários mais antigos, sempre ajudava as pessoas quando podia, tinha hábitos extremamente limpos, odiava passar do horário de trabalho e de acordo com suas redes sociais adorava projetos sociais envolvendo crianças.

Eu já sabia bem mais do que queria saber. Aquelas mulheres dos outros andares estava realmente se metendo na vida daquele cara e tinham determinação e tempo para conseguir tantas informações.

— Quando o Greg me falou sobre você eu te imaginava como uma senhora de idade, chata e totalmente desinteressante.— ele virou um shot de tequila e tirou seu blaser.

— O que exatamente o Greg te disse para me imaginar como uma senhora de idade?— eu franzi o cenho e encarei sorridente o copo de uísque duplo na minha mão.

— Disse que era boa no que fazia, que tinha suas manias, contava piadas ruins e era muito fiel a ele.

— E presumiu que por ter tantas qualidades eu fosse uma velha?— bebi tudo de uma só vez e notei seu olhar curioso.

— Uma velha com certeza não beberia assim.— ele riu e pediu mais bebida para nós.— Sabe dirigir?— perguntou subitamente.

— Por que quer saber?— rebati sua pergunta.

— Se essa tequila for tão boa como diz, então eu não vou poder dirigir.— ele agradeceu ao barman pela bebida e virou o copo mais uma vez.— Se o Greg confia em você, então talvez você seja uma boa motorista.

— O Greg tem o próprio motorista.— revirei os olhos e olhei o lugar a nossa volta.— Saiba que não sou um aparelho multifuncional.— resmunguei.

— Não espero que seja. Só quero tentar entender como podemos fazer isso dar certo.— era inegável dizer que ele não era um homem charmoso e diante daquela situação com bebidas envolvidas, eu realmente senti meu corpo esquentar quando ele me encarou.

— Precisa parar de ser tão cabeça dura. Sou excelente no que faço, mas só poderei te ajudar se me permitir e eu não vou ficar implorando para te ajudar. Espero que esteja ciente disso.— eu soei o mais autoritária possível e me senti mais leve quando ele ergueu suas mãos em sinal de derrota.

— Estou ciente disso.— ele confirmou com a cabeça e eu continuei olhando as pessoas se acomodarem nas mesas. Estava começando a escurecer e a área do bar da lanchonete estava ficando cheia por conta do horário, as pessoas estavam saindo do trabalho.

— Posso te pagar uma bebida?— um rapaz apareceu do meu outro lado e se encostou no balcão tentando soar o mais sensual possível. É sério?

— Não, obrigado!— respondi sem animação alguma. Ele iria insistir, mas eu logo tratei de finalizar aquela conversa de uma vez por todas.— Eu estou cansada, com um babaca egoísta do meu lado, que infelizmente é meu chefe, provavelmente terei que levá-lo para casa e não estou com a mínima vontade de flertar com ninguém. Então se puder me dar licença.— eu girei no banquinho e me virei de frente para o Evan.

— Babaca egoísta?— ele arqueou uma sobrancelha e riu.— No fundo você gosta de mim.— ele deduziu e bebeu mais um shot.

— Bem que você queria.— resmunguei.

𝒌𝒏𝒐𝒘𝒊𝒏𝒈 𝒍𝒐𝒗𝒆 • 𝒆𝒗𝒂𝒏 𝒑𝒆𝒕𝒆𝒓𝒔 Onde histórias criam vida. Descubra agora