Prólogo

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As sirenes e alvoroço vindos da rua não eram bem recebidos pelos vizinhos que trabalharam o turno integral naquela sexta-feira. Alguns saíram de suas camas para checar o que poderia fazer a vizinhança acordar em plenas 3:30 horas da manhã, a curiosidade se baseando em uma possível fofoca para o dia seguinte.

Em alguns minutos, a calçada estava lotada de pessoas que se perguntavam do porquê a casa dos Devine estava cheia de viaturas e policiais.

— Ouvi dizer que alguém tentou matar a Cora. — Uma senhora que morava no sobrado da frente cochichou para outra senhora enquanto os oficiais viraram as costas.

— Mas isso é impossível, não é? Cora é uma flor de pessoa pelo que dizem, nunca ouvi ninguém falar mal a respeito dela. — A segunda senhora respondeu, ainda cética pelo suposto ocorrido.

— De fato, Dona Cora sempre foi bem amiga de todos, porém, não posso falar a mesma coisa de sua filha. — Um homem disse, se aproximando. As senhoras nunca haviam o visto antes, mas se interessaram pela conversa. O homem percebeu isso, então continuou. — Sou diretor do colégio da Rayden, a filha da Cora, moro a duas quadras daqui... — Ele fez uma pausa, procurando as palavras certas. — Eu vou ser bem direto quanto a esse assunto, não gosto de comentar isso por aí, mas estou preocupado com o que pode ter acontecido nessa casa para tantos carros de polícia.

As senhoras se entreolharam assustadas, mas ficaram em silêncio enquanto o homem prosseguia:

— Em todos os meus 10 anos de trabalho, eu nunca havia visto uma garota de 13 anos cometer tantos delitos em uma mesma escola. Vandalismo, brigas, furto... pelos céus, não sei como o Conselho Escolar ainda não a expulsou. O que estou tentando dizer é que se algo aconteceu nessa casa, temo que...

— OLHEM! Os policiais estão saindo!

Os três levantaram a cabeça em direção do homem que gritou, mas logo em seguida a atenção se voltou para a entrada da casa.

Na porta, acompanhada de dois oficiais que seguravam seus braços algemados nas costas, estava ela.

Cora Devine foi escoltada até o carro estacionado na rua, onde leram seus direitos e a sentaram no banco de trás.

O diretor escolar ficou confuso e não entendeu do porquê estavam prendendo aquela mulher, mas quando ele se dirigiu ao guarda instruído a barrar a multidão, a verdade apareceu.

— Cora Devine está sendo acusada de violência e abuso domésticos. Sinto muito, mas não posso falar nada além disso.

E nem precisou, porque assim que terminou a frase, uma menina de estatura média enrolada em uma manta atravessou a porta da residência. Seu olho roxo e lábio cortado explicavam muito mais do que palavras poderiam.

Rayden olhava em volta, parecendo procurar alguém ou algo, mas infelizmente, não pareceu achar. A menina apenas cobriu sua cabeça e seu rosto com a manta que o policial a havia dado e permaneceu em silêncio.


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