Capítulo 9 - Inimigo Pte II

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Como dois galos de briga, firmaram-se nos estribos e esticaram os corpos esguios, aguardando um deslize qualquer do adversário. A tensão era cortante, quase dolorosa. O cavaleiro esporeou o animal, e Wuxian esperou, o coração batendo. Nesse momento ela percebeu com a velocidade de um raio que o inimigo baixava um pouco a guarda e iria tentar atingi-la por baixo, atrá do escudo. Com um brado frenético de vitória antecipada, Wuxian se aproveitou da perigosa exposição do cavaleiro e atingiu-o com um golpe potente no pescoço, que se achava momentaneamente indefeso.

O inimigo afundou para baixo, quase lentamente, escorregando da cela para o chão. Rápida como um raio, Wuxian apeou e plantou-se em frente do vencido antes mesmo que ele caísse por completo. Ela se abaixou e removeu o elmo do cavaleiro, curiosa. O homem não estava inconsciente, mas encarava-a com um par de olhos incrivelmente dourados. E francos. E diretos.

Os cabelos, revoltos e acastanhados, reluziam. Uma gota de sangue coagulara-se no canto da boca bem talhada e carnuda.

- Valeu, companheiro! - falou enquanto procurava disfarçar uma careta de dor. - Morro em mãos competentes. Você luta como um campeão!

Wuxian encostou a ponta da espada no pescoço do vencido. A pele, fina e macia, cedeu suavemente.

- Ande logo, vamos - pediu o homem, forçando um sorriso irônico. - Não prolongue minha agonia.

- Nada disso, meu valentão. Quando me matar, há de se lembrar para sempre dos meus olhos. E os seus serão minha última visão do mundo.

Wuxian não esperava por essa. Já matara muitos homens numa batalha, mas jamais se defrontara com um guerreiro tão corajoso. - Então feche os olhos - engrolou Wuxian.

- Se eu o poupar, garante que receberei alguma coisa em troca?

- Ora, poupe-o de qualquer modo - falou uma voz grossa.

Wuxian se virou para ver Nie Mingjue, que se aproxima-va num trote ligeiro.

- Os escoceses não tem muito dinheiro, mas podem nos pagar uma bela soma em troca de nosso prisioneiro - continuou o gigante - Apreciei a luta, Wuxian.  Êta briguinha boa! Esse um aí lhe deu um trabalhão, hein? E, Robert Bruce certamente pagará um bom resgate. Ele não deve ter tantos guerreiros iguais a esse, e não pode se dar ao luxo de perder essa espécie rara.

Wuxian afastou a espada, inexplicavelmente aliviada.

Ao avistar um punhado de ingleses que se aproximavam, ordenou:

- Levem-no. E com cuidado! Os escoceses não pagarão por um refém morto.

Os soldados obedeceram e içaram o vencido para o lombo do cavalo. Os olhos dele eram duas poças de dor.

- Não sei se o fato de me poupar foi uma boa para você, rapaz. De qualquer foma, muito obrigado.

- Não me chame de rapaz! - disparou Wuxian, erguendo a viseira do elmo a fim de encará-lo bem nos olhos. - Sou Sir Wuxian Jiang!

Depois, virou-lhe desdenhosamente as costas.

- Levam-no daqui.

Mesmo os ruídos distantes da batalha, que agora se avolumavam em seus ouvidos, serviram para acordar Wuxian do estranho torpor que a invadia. Era como se aquele par de olhos dourados, que a fitaram com dor e admiração, tivessem gravado marcas de fogo em sua alma.

- Tomara que ele nos traga um bom dinheiro de resgate - murmurou, os olhos perdidos no grupo que se afastava.

- Ah, mas com certeza! - riu Nie Mingjue - Esse homem vale algumas pilhas de moedas de ouro, pode estar certo. Ele vale quanto pesa, o danado.

Honey Of Sin - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora