Capítulo 16

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— Aí está a mais nova manipuladora. — Richard disse ao me ver, abrindo os braços para mim.

Dei-lhe um sorriso tímido e me aproximei do centro da arena.

— Você está ficando famosa, sabia? As pessoas têm me enchido de perguntas a seu respeito. — Richard me informou.

— Hum-hum. — Mark coçou a garganta.

Estreitei meus olhos para Mark e ele desviou o olhar.

— Mark, você não me contou sobre isso.

Ele fez um movimento com os ombros ao tempo que pegava uma adaga esmeralda da mesa lateral e analisava o seu fio de corte.

— Não era importante.

Virei-me novamente para Richard, que nos encarava com um olhar curioso. Suas íris castanhas brilhavam em divertimento.

— Por favor, esclareça-me melhor sobre a minha fama. — Pedi. — O fato de eu ser filha de Vicenti gerou tanta repercussão assim?

Richard olhou para Mark, como que pedindo sua autorização, e Mark confirmou com um gesto de mão.

— Não só isso. A descoberta de que você era a filha secreta de Vicenti já é um escândalo e tanto. Juntando isso ao fato de você ser uma manipuladora. fez com que você virasse o assunto das reuniões e das rodas de fofocas nos últimos dias.

Ah, que ótimo. Era só o que me faltava. Não bastava a súbita atenção que recebi na Anne Stuart School como tortura o suficiente nessas últimas semanas? Parecia que o universo conspirava contra mim. O que eu havia feito?

Observei Richard tirar a agulha e o frasco da maleta e analisar o líquido esverdeado sob a luz.

— Por quê? — Eu perguntei. — As pessoas têm medo que eu invada as suas cabeças?

Senti a picada da agulha em meu braço direito e fiz uma careta.

— Exatamente. — Richard me respondeu com a maior serenidade. — As pessoas ficam apavoradas. É bem provável que as crianças já tenham até criado histórias de terror sobre você.

Parei em meu lugar e me virei para Mark. Eu não esperava que Richard fosse realmente confirmar o que eu havia dito. Mark evitava o meu olhar a todo custo.

— Você não está falando sério, está? — Voltei-me novamente a Richard.

Richard parou o que estava fazendo e me olhou.

— Estou sim. Os manipuladores são raros e perigosos. Se você quisesse, poderia agora mesmo fazer Mark e eu nos matarmos com a maior facilidade do mundo.

Congelei. A morte de Thomas veio à minha memória: seu corpo morto, ainda quente, estendido no chão; a poça escura de sangue que se formara ao seu lado; a tesoura enfiada em sua traqueia. Um gosto amargo surgiu em minha boca, e eu tinha certeza de que não era por conta do soro.

Richard me olhou com a testa enrugada.

— Você está bem?

— Nós precisamos iniciar agora. — Mark interviu. — O soro já foi aplicado e já deve começar a fazer efeito.

— Oh sim, você tem razão. — Richard assentiu, se esquecendo de mim por um momento, e saiu para deixar a maleta na sala de observação.

Nesse instante, Mark se aproximou e segurou uma de minhas mãos. Seus dedos faziam movimentos circulares em meu dorso, que tinham um efeito calmante para mim. Respirei fundo tentando me esquecer das memórias indesejadas sobre Thomas.

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