Capítulo 10 - O Prisioneiro

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Nie Mingjue e Wuxian haviam chegado a conclusão que seria melhor manter o ilustre prisioneiro na tenda principal, devido ao grave ferimento, que exigia cuidados constantes, e também porque Wang poderia tentar fugir. Planejavam chegar ao velho castelo Jiang's no dia seguinte.

Naquela noite, o vento uivava enfurecido, chicoteando as árvores, partindo galhos e varrendo folhas em rodamoinhos. A tenda inchava, parecendo querer alçãr vôo, para em seguida murchar em panos drapejantes, batidos contra as estacas. Nie Mingjue acordou e saiu para inspecionar as demais barracas, menos sólidas, e para acalmar os ânimos dos superticiosos soldados.

Wuxian, acostumada à fúria da natureza, dormia sossegada. Súbito, um grito arrancou-a do sono profundo, fazendo sentar-se na cama. Como respondendo aos gemidos da tempestade que se avizinhava, Wang se lamentava e gritava, perdido num sonho agitado, lutando contra batalhas desconhecidas e inimigos invisíveis.

- Shhh, maninho calma. Eu estou aqui, do seu lado. Não precisa ter medo.

Ao mesmo tempo, Wuxian tentava lembrar se no dia seguinte haveria batalha, se os soldados acordariam com os gritos do irmão, se aquilo não seria considerado de mau agouro. Quando, porém, se deitou bem perto de Wang, seus sentidos se puseram agudamente em alertas. Meu Deus, aquele não era Cheng! Arregalou os olhos negros no escuro e, morta de medo de que o prisioneiro acordasse, Wuxian se dispôs a arrastar a cama de volta. Mas um gemido torturado paralisou-a.

Se antes ela achara que o simples toque das mãos de Wang fora atordoante, agora a proximidade do corpo palpitante e quente era equivalente a ver-se atirada de cabeça numa fogueira - ou metida numa armadura completa em pleno verão. Num gesto de defesa instintiva, Wang se achegou ao corpo vibrante que lhe oferecia conforto, e finalmente deslizou para a abençoada calmaria de um sono tranquilo.

Wuxian estava de pé ao primeiro clarão de aurora e atirou-se com vontade aos prepativos para a jornada até o castelo Jiang's. Quando Wang acordou, deu com um pilha de embrulhos e pacotes a um canto da tenda.

O prisioneiro de nada se lembrava; nem mesmo sabia que houvera uma tempestade à noite. Contudo, recordava-se de ter sonhado com Wuxian. Com os lábios de Wuxian, falando palavras carinhosas. Os lábios de Wuxian... tão perto, céus, que chegavam a cheirar mel.

Ele se virou na cama, esfregando os olhos com força, querendo apagar da mente essas lembranças perturbadoras. Mas até a cama parecia cheirar a mel. Ultimamente, Wang vinha associando Wuxian ao llíquido dourado e doce - com demasiada frequência, decidiu. Levantou-se devagar, irritado consigo mesmo, irritado com os ingleses, irritado com o mundo. E, principalmente com Wuxian, cuja presença timbrou em fingir ignorar. Ela, alheia a tempestade que ia dentro da cabeça do prisioneiro, ia e vinha na tenda, arrumando os últimos fardos. E cada vez que passava perto, deixava um rastro de perfume de mel silvestre.

Wang abafou um exclamação desesperada e arrancou-se dali sem dizer bom dia. Correu ao riacho, livrou-se das roupas e mergulhou na água abençoadamente gelada, estremecendo de alívio e prazer. Apanhando alguns seixos, esfregou-se furiosamente com eles pelo corpo todo, incluindo o couro cabeludo, como querendo arrancar da cabeça as imagens cruéis que teimavam em se alinhar ali sem cerimônia.

Pouco depois, mais revigorado e confiante, o corpo brilhando em pequeninas gotas iridescentes, saltou para a margem.

Um estalido de galho partido fê-lo voltar-se vivamente. Era Wuxian, que, assustada com a ausência do Wang, correra á sua procura, com medo de que ele tentasse fugir.

Wuxian já se habituara a ver soldados despidos, pois estes, convencidos de que estavam diante de um rapazola, não se acanhavam de se desnudar á sua frente. Por outro lado, todos achavam natural que ela não se exibisse pelada, uma vez que o próprio duque e Cheng tinham o mesmo hábito.

Honey Of Sin - FinalizadaOnde histórias criam vida. Descubra agora