Aurora

Alvorecer

Essa terra caiu em caos e desgraça, cheia de pessoas vis e corruptas, os Deuses, um a um a abandonaram, até que não havia a quem quem recorrer, mesmo se houvesse, já não faria diferença. O nada e o vazio escolheram seus campeões e entraram numa guerra tão longa, que já não restava vida por canto algum. Quando vitorioso, o campeão do vazio, Apocalipse, recebeu a dimensão para moldar a sua vontade. Ele refez cada parte desse mundo e cada vida que habita nele. Criou novas raças e deu uma nova chance a raças antigas. Mas isso é conhecimento apenas de seus 7 filhos e talvez suas criações.

Para mim o mundo era apenas uma passagem sem sentido. A vida de servidão eterna à raças mais fortes era o que havia sobrado para nós humanos. Minha mãe sempre dizia que todos os seres tem um propósito, um destino e seríamos todos, de alguma maneira, sacrifícios em nome do Pai. Mesmo sabendo que não devia temer a morte, pois ela honraria nosso Deus, lá no fundo eu queria algo a mais.
Éramos escravos, na casa de seres de raça superior, os An'hel, dizem que eles são os anjos do Apocalipse.  Nós, apenas o sangue fraco, sem força ou brilho, aceitavamos nossa condição com dedicação e fé no propósito.
Somos 3 irmãos, eu e meu irmão gêmeo, Apollo e nossa irmã mais nova, Victória. Fomos criados como serviçais, então aprendemos trabalhos simples dos cuidados da casa bem cedo. Carregávamos    coisas pesadas e fazíamos trabalhos manuais. Nossa educação era rígida, sem estudos, eu fui criada para obedecer e servir, meu irmão para ser guarda costas, então desde novinho, como éramos, ele tinha de fazer exercícios e aprender movimentos, para um dia ser um guerreiro. Nós tentávamos poupar Victória para que ela tivesse uma infância minimamente normal.
Um dia acordei em um lugar estranho, mal cheiroso e que tinha o ar impregnado e salgado, havia muitas pessoas que não conhecíamos ali, só sabia que meus 2 irmãos estavam lá também. Sim, por mais que minha mente infantil não quisesse entender, eu sabia que era um navio de escravos, estávamos sendo levados para sermos vendidos como animais inferiores que somos. Foi ali que conheci o propósito de Apocalipse e de seu segundo filho, Nafsu. De alguma forma um rapaz se interessou em nos tirar do lugar, que havia se tornado uma guerra em cima das águas, e nos salvar. O devoto de Nafsu pediu ao pai por seus desejos mais profundos, e saímos ilesos e livres.
Hoje, olho pra trás e lembro do banho de sangue naquele navio, em meio a rebelião de escravos contra os comerciantes, até hoje sonho com os gritos e o vermelho intenso no chão. Mas sei , que cada um daqueles humanos foram sacrifícios dados à Nafsu para que eu pudesse ter o que sempre quis, algo além.
Cheguei nesse continente com apenas 12 anos, mas sempre quis para mim as coisas mais belas que o mundo pudesse me dar, a arte existente na vida, que eu só precisava registrar, músicas e sons maravilhosos que precisavam ser ouvidos ou descobertos. Eu sabia que eu poderia ser mais.
Mesmo estranhando, Arthur, o rapaz que nos salvou, me deu Isso, a chance de ser tratada com alguém que pudesse ter o mundo inteiro.