Parte 1 - Draco

115 15 5
                                    

A próxima semana passou de forma tranquila para Laura. A adaptação ao novo emprego estava indo melhor que o esperado, a nova cidade era calma e bonita, e a silhueta do soldado não apareceu mais no reflexo de sua TV.

Ainda assim Laura não conseguia parar de pensar no sonho que teve em sua primeira noite ali. Apesar de acreditar que tudo não passava de uma mistura de coincidência e cansaço, era difícil esquecer a imagem dos dois soldados sangrando no chão. A dor no olhar do homem loiro era quase palpável, e lembrar daquilo fazia com que ela tivesse vontade de chorar também.

O que aquilo poderia significar? Que as superstições dos antigos donos da casa estavam certas? Realmente morreu alguém ali? Por quê?

Laura não era uma especialista em história, mas sabia que uma das maiores batalhas da Primeira Guerra aconteceu em Verdun. Era perto o suficiente para que eles fossem parar ali? Se sim, por que os dois?

Quanto mais pensava nisso, menos tranquila sua semana ficava.

E agora, sentada em seu sofá e desatenta ao que estava acontecendo na TV, Laura se repreendia mentalmente por estar focando em fantasmas inexistentes ao invés de focar em escrever seu livro.

— Preciso de foco, ficar muito tempo sozinha e ociosa vai acabar me deixando maluca — ela disse para si mesma antes de ir em direção ao quarto para ligar seu notebook e trabalhar.

Horas depois de muitos copos de água e pouco progresso, Laura decidiu que era hora de descansar e comer alguma coisa. E foi quando voltava da cozinha com um pacote de biscoitos em uma mão e um copo de suco na outra que ela viu. Sentado em seu sofá, com o rosto molhado de lágrimas e sangue e uma expressão de dor. Era o mesmo soldado do sonho.

O copo de suco caiu no chão e o barulho pareceu chamar a atenção do homem desconhecido, que olhou diretamente para ela.

Sem conseguir se mover ou gritar, Laura observou o soldado com mais cuidado. Seus olhos estavam vermelhos, seu cabelo loiro estava molhado e jogado de qualquer forma em cima de seu rosto. A aparência dele era suja, triste e envelhecida. Mesmo aparentando ser jovem, ele parecia estar ali há muito tempo.

Ela não conseguiu não sentir pena daquela imagem dolorosa.

— Oi? — ela chamou, incerta.

O homem olhou em volta, como se estivesse checando que não havia mais ninguém ali e a moça estava realmente falando com ele.

— Você consegue me ver? — ele perguntou. Sua voz era rouca e cansada, e isso causou calafrios em Laura.

— Consigo? — Sua resposta pareceu uma pergunta, e isso fez com que o soldado a olhasse de forma questionadora. — Quer dizer, eu não deveria conseguir te ver?

— É que isso nunca aconteceu antes. — Ele se levantou, andando em direção a janela e suspirando tristemente.

Laura não sabia o que dizer. Ele era realmente um fantasma? O que estava fazendo em sua sala? Ele poderia machucá-la? Ou lhe fazer mal?

— Você é do mal? — ela finalmente disse depois de alguns minutos, e se arrependendo instantaneamente.

"Que tipo de pergunta é essa, sua idiota?" ela pensou.

O rapaz não disse nada, no entanto. Sequer pareceu ouvir o que ela disse.

Após mais alguns minutos, ele voltou sua atenção para a garota.

— Eu não queria te assustar, perdoe-me — ele disse, olhando para o copo estilhaçado no chão. — Pensei que você não conseguiria me ver, então sentei no sofá como sempre faço, mas prometo ficar fora do seu caminho a partir de agora.

Almas Perdidas || DrarryOnde histórias criam vida. Descubra agora