Doces e luzinhas coloridas

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Acho que se eu tivesse que fazer uma lista das coisas que eu amo, "Natal" seria uma das primeiras coisas que eu iria escrever. Eu sempre gostei muito de festas de fim de ano, de ver os ambientes arrumados com luzinhas coloridas, guirlandas e música natalina tocando. Talvez o Yoongi de dez anos associasse tudo isso com o recesso de inverno, e quem sabe o Yoongi de vinte e nove associasse esses detalhes a muito conforto e tranquilidade. É isso o que a época de Natal me passa. O fato de poder estar longe do trabalho e de poder ignorar qualquer ligação do meu chefe querendo que eu faça algo que até então não estava previsto sempre me trazia uma paz muito grande, e cá entre nós, eu não trocaria isso por nada.

Bem, apesar de as comédias românticas natalinas sempre incluírem o protagonista passando o Natal com alguém especial, romanticamente falando, esse não era o meu caso, e nem nunca tinha sido. Isso poderia ser motivo o suficiente para transformar qualquer outro cara no Grinch, se ele fosse mais encanado com essas coisas, mas a verdade é que eu já não me importava mais tanto assim. Veja bem, eu podia até ter tido um rolo de um dia, aqui, e outro de dois dias, ali, mas eu continuava sendo um cara de vinte e nove anos que também não namorava sério há vinte e nove anos, e convenhamos que isso é tempo o bastante pra eu já ter me acostumado com esse detalhe. Eu não pensava mais nisso tanto assim, a menos que eu estivesse bêbado demais para começar a refletir sobre solidão e outros dramas pessoais.

Quer dizer, talvez eu refletisse mais sobre isso se não tivesse o costume de afogar minhas mágoas com açúcar antes que elas me afogassem primeiro. Era por isso mesmo que todos os dias, depois do trabalho, eu comprava uns chocolates, caramelos e outros docinhos na loja de conveniência que ficava em frente do ponto de ônibus onde eu descia para caminhar até em casa. Então, quando eu chegava no meu apartamento, eu podia simplesmente tomar um banho e me sentar pra assistir alguma série divertida enquanto comia minha dose diária de doces e evitava pensar muito. Eu tinha chocolate pra comer e algo divertido pra ver, então, por que é que eu ia me importar com minha vida amorosa, ou melhor, ou com a ausência dela?

De qualquer forma, eu não costumava passar o Natal sozinho. Não era com ninguém especial de uma forma romântica, porque eu nunca tinha ficado com alguém tão sério a ponto de passar uma data legal junto, mas sim com meus pais. Em todos os anos, eu viajava para a casa deles; ficava numa cidade um pouquinho distante da capital, que ainda era onde eu precisava ficar se quisesse trabalhar como redator num jornal conhecido e ganhar um salário para pagar minhas contas. Então, eu sempre deixava minhas merecidas férias para o fim do ano, que era quando eu podia me ver livre da redação e ir pra casa dos meus pais para passar uns dias fazendo companhia a eles.

Mas, naquele ano, parecia que as coisas iam ser um pouquinho diferentes. Isso porque eu não tinha conseguido tirar minhas férias em Dezembro, já que duas das minhas colegas de trabalho tinham, incrivelmente, tirado licença maternidade quase juntas, e o jornal não poderia ficar sem nenhum redator faltando apenas alguns dias pro Natal. Então, Jin, que é o meu chefe, tinha me escalado para trabalhar dizendo de uma forma um pouco dramática que precisava de mim mais do que nunca, e ele prometeu que eu poderia tirar férias assim que as duas voltassem — coisa que não ia demorar muito para acontecer.

Eu aceitei, porque não tinha outra opção. A única coisa que eu não esperava era que fosse ter que fazer hora extra em pleno 23 de Dezembro, porque Jin, que ao mesmo tempo em que era um querido para me prometer férias, também podia não ser nada querido na hora de me pedir inúmeros artigos sobre as comemorações de Natal pelo país.

O que me confortava ao menos um pouquinho era saber que eu não era o único no escritório, porque tinha outros colegas na mesma situação e, sendo assim, eu não ia reclamar por terminar os artigos às oito da noite, quando deveria ter saído dali, no máximo, às sete. Na verdade, meu horário na redação é até as seis, mas dificilmente você consegue sair da redação no horário que deveria e, para evitar maiores frustrações e aquela sensação diária de sair sempre atrasado, eu já considerava que saía por volta das sete. Isso era certo? Não. Eu gostava disso? Também não. Mas eu tinha que me submeter a isso se quisesse ganhar um salário.

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