Parte 1

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Prólogo

23 de março, 1601

Reza a lenda que Winifred, Mary e Sarah Sanderson foram três irmãs que viveram em Salem, no século XVII. O trio pertencia a um clã de bruxas declaradamente satânicas dedicadas a rituais, conjuração de feitiços e produção de poções para obter a vida eterna, além é claro, de sugar a alma de jovens moças de uma beleza incrivelmente extraordinária.

Embora as Sanderson não fossem as únicas bruxas do clã, as três foram as únicas que declararam sua devoção ao Demônio publicamente e causaram extremo horror em Salem. Em 1601, o trio de bruxas com roupas esquisitas, risadas malignas e rugas nos rostos, foram acusadas de sequestrar moças e crianças para dar continuidade aos seus desejos de imortalidade, o que fez com que a puritana população de Salem se unissem para um bem maior, destruir as três malditas que colocaram um fim nas vidas de jovens inocentes.

Contudo, enquanto atravessavam a floresta densa e as árvores encurvadas para todos os lados, usando as chamas de suas tochas para iluminar o caminho em meio a penumbra da noite, um jovem filho de fazendeiro estava bem à frente deles, caminhando a passos furtivos e com os pés descalços, ao redor da velha casa das bruxas.

Seu nome era Agnes Bennett e ele estava em busca de sua irmãzinha, Roslyn, desde que percebeu que ela havia sumido depois de procurá-la por toda a fazenda. Seus instintos lhe levaram a acreditar que as velhas bruxas tinham algo haver com o sumiço da garotinha, mesmo torcendo para que aquele seu achismo não fosse real. Adoraria que estivesse errado. No entanto...
Agnes estreitou cautelosamente o olhar pela janela, saltando suas órbitas ao avistar Roslyn do outro lado, sentada em uma cadeira ao redor daquelas velhas nojentas. Por um instante, uma rajada de vento acariciou-lhe a pele, o fazendo estremecer e seus pêlos dos braços arrepiarem. Agnes desviou o olhar para as árvores densas ao redor, percebendo que as folhas não balançavam conforme a brisa glacial passava por ali. Estava absurdamente amedrontado, mas Agnes sabia que precisava de toda a sua coragem para tirar sua irmã dali.

Ele engoliu em seco e resolveu ignorar a névoa densa em tons arroxeados que se esgueirava pela chaminé e circundava a casa. Quando olhou pela janela novamente, percebeu que as bruxas estavam preparando uma espécie de sopa dentro daquele enorme caldeirão cheirando à lula em decomposição.

- Hmm, como é bom cheiro de criança para o jantar! - disse a bruxa baixinha, cínica e risonha. - Mas espere - ela ergueu uma sobrancelha cheia. - Sinto cheiro de criança.

Agnes sentiu seu coração disparar e prontamente se abaixou.

- É mesmo, Mary? - perguntou a bruxa de cabelos alaranjados. - E o que acha que é isto bem ao seu lado, hein? Sua tonta!

O menino suspirou profundamente, sentindo um alívio descomunal.

- Que tonta... - desdenhou a bruxa loira, rindo e se acomodando em uma das cadeiras de couro.

- E você, Sarah? - indagou a ruiva. - Sentou por quê?

- Por favor, Winnie, fui buscar a fedelha até aqui, foi muito cansativo caminhar por essa floresta, sabia? - disse ela, apoiando as mãos enrugadas nas costelas e curvando o corpo para frente, esticando as costas e estalando as articulações.

Enquanto isso, Roslyn que assistia a discussão entre aquelas três, por um momento avistou seu irmão pela janela. Agnes estava com o dedo indicador sobre os lábios, pedindo silenciosamente para que ela não fizesse movimentos bruscos. Em uma fração de segundos, por conta de um leve toque do cotovelo de Agnes contra a janela de madeira, causando um rangido e fazendo ela se abrir, o menino acabou atraindo a atenção das três que olham rapidamente naquela direção. Agnes limpou a garganta e tratou de se manter abaixado, encostando o topo da cabeça no batente da janela e tentando regular sua respiração ofegante. Winnie ergueu uma sobrancelha e se aproximou da janela, vagueando o olhar por entre a escuridão diante das árvores.

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⏰ Última atualização: Nov 02, 2022 ⏰

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