3 • Escondido

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Sob os berros estridentes do enfurecido marido de Ume, cuja esposa em vão tentava o acalmar bem cedo pela manhã, os dois desbravadores ganham a rua risonhos de satisfação por incomodar quem os odeia. Quando a yokai anteciosa desviou o olhar deles, os dois macaquinhos voltaram a rota do tesouro como planejaram fazer desde o início.

Dessa vez, por estarem mais preparados e devidamente descansados, conseguiram chegar em um povoado de elefantes no mesmo dia. Ao pedir informações sobre algum lugar para passar a noite, um deles muito simpático ofereceu abrigo e comida.

Bartô, o elefante, descobriu que eles estavam atrás da arma mágica. Diante disso, os meninos decidiram se abrir, até por que se sentiam seguros em falar dessa viagem para ele pois elefantes não gostam de armas nem de lutas. Tão pouco são gananciosos. Porém, apreciam magias. Bartô ensinou alguns feitiços aos visitantes.

- A gente sente muito por Yuzu ter perdido um amigo mas não vamos parar por nada neste mundo! - Macaque afirma após terminar sua tigela de sopa.

- Pelo menos ele não morreu - disse o elefante baixinho.

- Ele quem?! - Macaque e Wukong se encaram achando que ouviram errado.

- O amigo de Yuzu - o elefante acaricia a tromba.

- Ele está vivo? - ambos perguntam quase caíndo de seus assentos.

- Bem, sim. O povo de vocês que é exagerado, dando a entender que ele tinha morrido nessa expedição - Bartô meneia a cabeça imaginando os motivos que levaram a tribo a omitir tal informação, os yokais primatas queriam botar medo nos mais hiperativos a fim de protegê-los. - Kinkan está morando em uma praia da ilha, isolado o máximo possível.

- A gente podia passar lá na casa dele, durante a viagem - Wukong sugere e Macaque assente.

- Boa ideia.

O elefante pensou em adverti-los para não fazer tal coisa mas percebeu que estava diante de dois espertinhos que raramente seguiam conselhos, ainda mais em tão tenra idade. Depois de um tempo vivendo entre elefantes e aprendendo parte de suas magias milenares, os desbravadores juntaram suas coisas e partiram mais uma vez. Após percorrerem uma boa distância a pé, chegaram em uma praia e viram uma cabana de palha pequenina, a única dali.

- Quem está aí? Saia agora mesmo! - o velho Kinkan saiu de dentro da cabana e bradou ao ouvir pedrinhas sendo atiradas contra o seu teto.

- Calma ae! - Wukong levanta as mãos no alto de um coqueiro.

- Só queremos conversar um pouco - Macaque surge entre cocos maduros.

- Podem descer? - o velho pede, parcialmente surpreso por ver macacos como ele depois de muito tempo. - Não vai dar para ouvir vocês se estiverem aí em cima.

O velho resmugou bastante, chutando pedras e areia por estar sendo incomodado. Acabou desistindo da ideia de mantêr os dois longe de sua pacata propriedade. Kinkan possui pelos negros sedosos como Macaque enquanto Yuzu lembra Wukong com os pelos amarelos alaranjados.

- Estamos atrás disso! - Wukong estende o mapa sobre uma mesa, dentro da cabana.

- Pode nos ajudar? - Macaque perguntou radiante após a confirmação do velho ser mesmo o Kinkan.

- Ah... desistam, crianças. Isso está além do que podem lidar no momento - ele fecha os olhos. Haviam lhe perguntado tantas coisas e todas elas lhe renderam dolorosas recordações que não ousaria revelar para ninguém tão cedo, espera partir com elas.

- A gente vai assim mesmo - Wukong faz beicinho e cruza os braços.

- A gente queria saber por que o senhor está vivendo aqui sozinho. Brigou feio com o Yuzu? - Macaque questiona com o olhar fixo no ancião.

- Sou antissocial. É isso - o velho dá de ombros e caminha vagaroso sobre as tábuas velhas e rangedoras de sua morada. Todos reparam que algumas estão começando a apodrecer com cheiro de mato pisado. - Vão para casa - Kinkan prossegue com as juntas doendo -, é o melhor que podem fazer.

A contragosto do ancião, os amigos passaram três dias dormindo na casa dele. Quando a vontade de segurar o bastão voltou com força, eles não se sentiam bem em ficar.

- Precisamos de um barco! - Wukong cata alguns pedaços de madeira que encontra pela praia.

- Ou uma jangada - Macaque declara ao ver os pedaços ao lado uns dos outros.

- Ah... - Kinkan balança a cabeça para os lados quando viu seus conselhos de voltar para a tribo sendo ignorados com gosto - já vi que não adianta nem reclamar. Que tipo de pais vocês tem para deixar que vão atrás disso sozinhos? É muita irresponsabilidade.

- Não temos pais...! - Wukong estufa o peito.

- Bom, temos a Lua, o Sol e a Terra como pais. Ninguém acredita mas foram eles que nos deram a vida - Macaque dá de ombros.

- Grandes sábios - Kinkan emite surpreso, conhece lendas de macacos forjados pela força da natureza pelos próprios elementos da natureza. - Acho que já ouvi falar de vocês. É uma excelente ideia ir atrás daquele bastão mas vocês são novos de mais para isso.

- Ah velho! Vai mudar de ideia quando a gente voltar com ele! - Wukong fala na hora e na hora recebe um puxão na cauda pelo seu amigo, uma advertência para ele ter mais respeito pela lenda que retornou de uma viagem bem semelhantes a deles. - Hey!

- Valeu, senhor Kinkan - Macaque agradeceu após o velho ceder uma jangada melhor do que os dois estavam fazendo. O ancião fez questão de ir com eles até a margem da outra ilha. Kinkan se despediu e foi embora.

Ambos macaquinhos não acreditavam nas palavras do Bartô.

- Podia jurar que ele estava morto! - Wukong estremece sentindo seus pelos arrepiarem. Poderia ser um fantasma mas chegou a tocar o corpo dele.

- Também - Macaque vai ajeitando a trouxa de provisões. Por mais adaptados a floresta que fossem, ainda poderiam ficar presos em algum lugar ou encontrar somente frutas venenosas, todo cuidado é pouco. - Se bem que não está tão longe de ser verdade... pobre senhor Kinkan.

Macaque não admitia mas sentiu uma conexão única com aquele yokai. É como se tivesse encontrado alguém tão próximo como um pai.

- Vamos convencer ele de voltar para a tribo quando a missão for cumprida - Wukong menciona coçando o traseiro, como se tivesse consciência do apego repentino do amigo ao yokai escondido.

- Vamos convencer ele de voltar para a tribo quando a missão for cumprida - Wukong menciona coçando o traseiro, como se tivesse consciência do apego repentino do amigo ao yokai escondido

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Wukong & MacaqueOnde histórias criam vida. Descubra agora