| Capítulo 02 |

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O casal estava ansioso, iam adotar uma criança, e esse era o motivo de tanta alegria.

Dinah sempre quis ser mãe e ficou sem chão, quando descobriu que não podia engravidar. Desde então, ela e o marido, lutavam para conseguir adotar uma criança.

A idéia era adotar um bebê, recém nascido de preferência, eles achavam que uma criança mais crescida teria dificuldade para se adaptar ao casal.

— Venham comigo – A irmã Célia os acompanhou.

Ela tagarelava sobre algo, que nenhum deles estava prestando atenção, enquanto se encaminharam para o berçário do pequeno orfanato.

Quentin apertou a mão da esposa, tentando acalmá-la. Ela estava uma pilha de nervos, mal controlava a ansiedade e ele notou isso. Fazia tempo que eles sonhavam com aquele momento, em ter uma criança para chamar de sua, e lá no fundo, ele estava tão ansioso quanto ela.

O berçário ficava na parte superior do orfanato, que era destinada as crianças menores. O imenso corredor abrigava dezenas de portas e em cada porta, dezenas de crianças, cada uma com uma história triste de vida.

Isso partia o coração de Quentin.

Todas as portas estavam fechadas, exceto uma, e foi exatamente essa porta, que atraiu a atenção de Quentin.

Ele parou em frente ao quarto, sem nem notar que as mulheres seguiram sem ele, e se esgueirou até a porta.
O quarto enorme só era ocupado por uma cama pequena e uma cômoda, deixando um espaço enorme, o que tornava a cena ainda mais melancólica.

A menina estava parada em frente à janela, olhando para um ponto qualquer, com o olhar perdido.

O vestido florido, não passava nenhuma alegria, assim como o resto do quarto. Seus cabelos loiros estavam presos em uma chiquinha, e seus pés descalços tocavam o chão frio.

Ela estava distraída, agarrada ao ursinho, olhando para o nada. Vez ou outra, ela sussurrava algo para o urso e balançava a cabeça, como se ele a tivesse respondido:

— Essa é a Lara.

Quentin se assustou ao perceber que não estava mais sozinho. Uma outra freira estava em pé ao seu lado, e olhava para a menina com a mesma admiração que ele:

— Ela chegou aqui a um bom tempo – Falou pausadamente – É triste vê-la assim, não é?

Quentin voltou a olhar para a menina, que agora o encarava de volta. Ela era bonita, os traços delicados e belos olhos azuis, porém, algo a deixava feia.
Ele imaginou aquela menina correndo e pulando, como as outras crianças, isso a deixaria muito mais bonita.

— Ela não fala com ninguém, a não ser com Teddy – Ela apontou para o urso – As outras crianças se sentem intimidadas por ela.

Os olhos da menina brilharam em curiosidade, e Quentin pensou ter visto um sorriso em seus pequenos lábios, mas não teve certeza. Ela o encarava em silêncio, como se o desafiasse a entrar no quarto:

— Posso falar com ela? – Perguntou a freira, que o encarou desconfiada.

— Ela não gosta de visitas – Comentou – Mas sinta-se a vontade. Essa é a última semana dela aqui mesmo.

— Ela conseguiu um novo lar? – Se animou por aquela garota que mal conhecia.

— Não – Falou como se fosse óbvio – Ela vai para um hospital psiquiátrico.

Ouvir aquilo tinha abalado Quentin.

O que uma criança poderia ter sofrido, a ponto de precisar ser internada em um hospital psiquiátrico?

Sentiu pena dela.

Uma menina tão linda, tão pequenina e tão cheia de problemas, passando por coisas que não deveria passar.

— Posso entrar? – Ele perguntou a ela, que não tirou os olhos dele por um segundo se quer.

Ela olhou para o urso, como se esperasse por uma resposta, e concordou de leve com a cabeça.

Quentin se animou um pouco mais, e entrou no quarto, sentindo o clima pesado do local.

Ele olhava para ela, e não via uma criança, via uma menina pequena com dores de gente grande:

— Qual é o nome dele? – Apontou para o urso, sentindo que aquela era a chave para abrir a pequena menina.

Ela se sentou ao chão e cruzou as pernas, nos olhos o desafio estava explícito, não seria fácil arrancar uma palavra dela, mas não custava tentar:

— Você é muito bonita – Ele a imitou ao sentar-se no chão – Uma pena que não fala.

Quentin passou quase meia hora ali, sentado ao lado dela, em silêncio, como duas estátuas. Ele esqueceu da esposa e da criança que foram adotar, esqueceu da dor na coluna, que o incomodava um pouco... Esqueceu-se de tudo. Eles estavam presos num mundo deles, um mundo silencioso, mas que fazia sentido para eles.

Era como se eles estivessem conectados, Quentin não tinha uma explicação melhor.

Aquela menina calada e solitária, era a sua menina calada e solitária.

Não podia deixar que aquela menina fosse para um lugar tão pesado, como um hospital psiquiátrico. Ela não tinha nenhum problema, não fosse pela carência e a tristeza, seria uma menina normal. E aos olhos dele, carência e tristeza não era problemas para psiquiatras, e sim para um pai amoroso e compreensivo, era assim que se sentia em relação a ela.

Ela já estava destinada a ele, e vise e versa. Quentin precisava tanto dela, quanto ela dele e mesmo sabendo que seria difícil convencer Dinah, ele decidiu atirar por aquela menina:

— Ei – Chamou a menina, que olhava fixamente para a porta – Você quer que eu seja seu pai?

Revenge | Avalance VersionOnde histórias criam vida. Descubra agora