Chega. Eu não aguento mais.
Eu a amo.
Amo mais do que qualquer outra coisa.
E lá está ela, na minha casa, de mãos dadas com outro cara.
Me levanto o mais discretamente possível e ando em direção aos fundos do terreno. Respiro fundo. Uma vez. Outra. Outra. Outra.
Agora estou longe da visão deles. Apoio minhas costas na parede e fecho os olhos. O que começou com uma puxada de ar profunda agora se tornou uma hiperventilação enquanto luto contra as lágrimas doídas que imploram para sair.
Me assusto com o som de passos e desencosto da parede. É só meu irmão. Sou tomado por um início de sentimento de alívio, mas que se dissipa facilmente quando vejo a tristeza e a pena em seus olhos.
As lágrimas vencem sua batalha contra mim e eu coloco minhas mãos no rosto. Choro de forma barulhenta e feia enquanto meu irmão me abraça.
Queria ser mais silencioso.
Eu deveria, com certeza, já que o motivo da minha dor está logo ali e, se ela ouvir, se ela aparecer aqui... não sei o que vou dizer.
Como vou explicar que eu estou, ridiculamente, e não mais do que ridiculamente, me debulhando em lágrimas por culpa de minha própria covardia.
Meu irmão me aperta.
"Vai passar" - ele me diz, no auge de sua sabedoria aos 25 anos.
Não respondo. Se abrir a boca agora não sei o que vai sair. Talvez eu concorde, talvez eu lamente, talvez saia algo incompreensível. O que não seria de se surpreender considerando o estado deplorável em que me encontro neste momento. Porém, uma pequena parte de mim, lá no fundo, sabe que, talvez, o que eu houvesse de dizer poderia muito bem não ser nada agradável. Eu amaldiçoaria a todos pela injustiça da situação, por eu amá-la tanto e não ser correspondido. Por eu fazer tudo que posso, desde os meus 12 anos, para conquistá-la e nunca ter conseguido nada além do posto de melhor amigo. Sei de tudo isso.
Então, fico em silêncio.
Como tenho estado há cinco anos.
E como vou continuar, aparentemente. Se ela continuar segurando a mão daquele idiota, vou ser obrigado a segurar minha língua e sofrer calado.
Como tenho estado há cinco anos.
Indo dormir e acordando pensando nela. Em seu sorriso. Em seu cheiro. Em sua voz. Sonhando com um dia em que ela vai olhar pra mim de verdade. Sonhando.
Como tenho estado há cinco anos.
Com meu coração sangrando em uma hemorragia imparável, esperando por mais uma migalha de amor que eu sei que não é do tipo que eu gostaria.
Ela me chama de irmão. Eu a vejo como mulher.
Ela me abraça apertado. Eu quero beijá-la.
Acima de tudo, amá-la.
Mais do que eu já amo.
Mais do que qualquer outro homem seria capaz.
Eu só queria que ela me permitisse.
Chega. Eu não aguento mais.
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i want to be with you
Short Story221102 há relatos que ainda hoje ele espera por ela