Boa leitura <3
Clarke
Lexa vai embora sem nem olhar para trás, provavelmente feliz que tudo esteja indo de acordo com seus planos de vingança.
Eu deveria ficar aliviada que a cretino desapareça, de modo que posso pelo menos ordenar meus pensamentos. Mas a verdade é que Lexa é só uma parte desse pesadelo. Uma parte grande, claro. E a catalisadora. O fato de que se daria ao trabalho de mandar uma mensagem para Niylah com a única intenção de se vingar faz com que eu me descubra num nível de canalhice que, até então, desconhecia.
Ficar distante dela deveria me dar um tempo para recuperar o fôlego. Mas não consigo respirar.
Reunindo toda a coragem, levanto o queixo e olho para minha antiga melhor amiga. É só a segunda vez que ficamos juntas desde o terrível dia em que Bellamy entrou no quarto de Niylah e viu sua namorada e sua melhor amiga se pegando.
É. A letra escarlate presa com um alfinete à blusa é pouco pra mim. Mereço uma tatuagem. No rosto. Lexa não tem ideia de que me acertou na jugular me forçando a encarar Niylah de novo.
Mesmo assim... Niylah veio. Veio lá de Nova York, por mim, depois que ignorei suas mensagens por semanas. Tenho que saber por que, embora talvez já saiba.
"Por que veio?", pergunto. "Quer dizer, sei que achou que era eu mandando as mensagens, mas mesmo assim... é muito trabalho."
O olhar dela é quente. Desejoso. "Porque me importo com você. E quero que saiba disso."
Meu coração se despedaça. "Não. Não faz isso."
"Tá na hora, Clarke", Niylah diz, entredentes. "Você nunca me deixou explicar." Vejo a dor passar pelos seus olhos castanhos que conheço tão bem.
É a mesma dor que senti quando Bellamy saiu da minha vida sem nem olhar para trás. Niylah e eu estragamos tudo. Quer dizer, estragamos mesmo, não temos nenhuma desculpa. Mas Bellamy nunca nos deu uma chance para explicar. Nunca vamos poder consertar as coisas, mas nunca tivemos a oportunidade de dizer a uma pessoa que amávamos que sentíamos muito.
Tive uma chance no fim do verão, quando fui a uma festa na casa dos pais de Bellamy nos Hamptons, sem ser convidada. Agora percebo que preciso de um encerramento com Niylah também. Assim como ela.
"Depois de tudo o que aconteceu, não posso deixar que pense que era só uma questão de ganhar de Niylah." Ela se aproxima, mas dessa vez deixo que pegue minhas mãos.
"Ele era seu melhor amigo. Seu melhor amigo."
Niylah parece chateada. "Eu sei. Foi muita canalhice."
Abro um sorriso irônico. "O que a gente fez está tão além da canalhice que nem sei se tem uma palavra apropriada."
Ficamos em silêncio.
"Eu sei", Niylah, finalmente, diz.
"E aí? Quer dizer, sei que tenho culpa no cartório, mas você começou. Não estou brava, mas... por quê?"
E, mesmo tendo perguntado, mesmo sabendo que Niylah precisa falar e eu preciso ouvir para que nós duas possamos seguir em frente, não quero ouvir a resposta. Não diz, imploro mentalmente. Por favor.
Mas Niylaha não sabe da minha súplica silenciosa. Por mais que tenha sido uma boa amiga ao longo dos anos, por mais próximas que a gente tenha sido, ela nunca conseguiu ler minha mente. Não assim.
"Porque eu te amava", Niylah diz, e a simplicidade da afirmação quase me destroça. "Ainda amo."
Fecho os olhos. "Quanto tempo faz? Quando começou?"
Niylah dá de ombros. "Sempre."
Minha nossa.
Ela aperta minhas mãos. "Clarke. Tenho que saber. Você... você me ama? Você me ama, Clarke?"
Ah, meu Deus.
Quero mentir. Quero poupar minha melhor amiga da dor excruciante que a verdade traria. Mas não posso. Devo a ela — e a mim mesma — honestidade.
"Não", digo, baixo. "Não amo. Não assim."
E, então, fico esperando que me pergunte por que deixei que me beijasse, se não a amava. E por que a beijei de volta. Mas a pergunta nunca vem. Talvez ela ache que não aguenta ouvir a resposta. Estranhamente, ainda que devesse estar aliviada por não precisar falar disso, quero que ela queira saber.
Porque agora estou pronta para dizer a verdade.
Os olhos de Niylah se voltam para mim. Embora ainda haja dor neles, aparece um pouco de raiva. Tarde demais, percebo que há algo diferente nela. É como se mudasse diante dos meus olhos. Mas também não é isso... ela estava diferente desde que chegou. Se Bellamy era do tipo tranquilão, Niylah era intensa — ambos charmosos, mas o humor de Niylah se mantinha mais no limite. Como o de Lexa, agora que penso a respeito.
Agora, a escuridão parece se assentar em seus traços. Os ângulos de seu rosto parecem mais extremos, o cinismo que sempre usou para fazer graça parece estar mais enraizado e cruel.
Eu fiz isso, me dou conta. Todo esse tempo, estive tão ocupada tentando lidar com a dor que causei a Bellamy que nunca me ocorreu que tinha causado sérios danos em Niylah também.
Tinha dois melhores amigos e tratei os dois que nem lixo: traindo Bellamy e me afastando de Niylah.
Sua mandíbula vai lentamente de um lado para outro, como Niylah faz quando está tentando controlar seu temperamento complicado. Ela solta minhas mãos, se afasta e solta uma risadinha autodepreciativa.
"E pensar que corri pra cá achando que você me queria. Que precisava de mim."
Dou um passo à frente. Não faz isso. Eu não valho a pena.
"Eu não sabia que você vinha", digo depressa. "Mas... acho que fico feliz. Pelo menos as coisas estão resolvidas."
Estico a mão para tocá-la, com o coração apertado, mas ela se afasta mais um pouco.
"Achei que você só precisava de tempo." Sua voz sai rouca. "Te dei espaço, achando que precisava se perdoar, e me perdoar, pelo que aconteceu. Mas pensei... pensei mesmo que, quando abrisse mão de Bellamy, viria atrás de mim."
Fecho os olhos. Será que dá pra piorar?
"Mas você nunca ia fazer isso, né?", ela pergunta.
Quando abro os olhos, as lágrimas correm. "Não", digo, baixo.
Niylah parece endurecer diante dos meus olhos. Ela engole em seco, duas vezes. Então, fazendo um sinal com o queixo, como se fosse a única despedida de que é capaz, vai embora.
Simples assim.
Levo a mão à boca. Não posso deixar de pensar que nunca mais vou ver minha melhor amiga.
E é tudo culpa de Lexa Woods.
...
Situação chata, hein
VOCÊ ESTÁ LENDO
Em Pedaços
RomanceUma garota com segredos corrosivos. Uma ex-soldada com cicatrizes externas e internas. Um amor que pode salvar ambas... ou destrui-las de vez. Aos vinte e dois anos, Clarke Griffin tem Nova York aos seus pés. Por fora, ela é a garota perfeita - lind...