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Os talheres tilintavam sob a mesa de Palpehan naquela manhã. Era hora do café. Frutas de todas as espécies se distribuiam em cima do móvel madeirado e fazia qualquer um admirar a fartura que nem mesmo lorde Ansemund costumava desfrutar. Acompanhado de sua esposa, Adelaide, o banqueiro se deliciava de maneira detalhista, sempre dando foco ao seu paladar que era tão refinado. "Comer de qualquer jeito essa refeição é o mesmo que jogar meu dinheiro fora" pensava, assim, o homem. Para Palpehan, alimentar-se era mais do que uma necessidade humana. Era uma arte de prazer culinária. Sua mulher o observava mastigar um pedaço de pão que fora cortado em muídos. Sua expressão era de um âmino um pouco nervoso. Ela lança um sorriso de canto antes de falar com o seu marido.
- Estou pensado de ir com você até o banco hoje. - disse a mulher já sabendo a resposta de seu marido, mas querendo ouvi-la com seus próprios ouvidos. Ele pousa o garfo sob o prato levemente.
- Bem, você pode ir amanhã. O fluxo de clientes é menor. - os olhos de Palperhan fixam nos de Adelaide sem pestanejar. "Já imagino o que ela está planejando" pensou o banqueiro.
- Tem algum problema ir hoje, querido? - "querido" soou de sua boca com um pouco de sarcasmo. O homem suspira, fechando os olhos e alisando a testa com a mão esquerda de cotovelo sobre a mesa.
- Não teria se você ficasse no seu canto sem interferir nos meus negócios. - respondeu Palperhan. Seus olhos voltam para Adelaide novamente. Ele estava sério. - Toda vez que eu recolho os impostos anuais da província, você sempre fica observando para ver se não estou cobrando juros indevidos aos clientes. Meu trabalho eu sei como fazer!
- Sendo corrupto!? É assim que você sabe fazer seu trabalho!? Mostrando para o seu filho, que tanto desejou ser um cavaleiro da Armada Real, lutar pela honra, ser um banqueiro muquirana e ambicioso!? Tenha dó, senhor Vermander! - disse a mulher chamando-o pelo sobrenome. O banqueiro sabia que ela estava perdendo a paciência com aquilo, mas não queria sair como derrotado daquela discussão.
- Você tem todo esse casarão comprado com juros indevidos! A comida que você come, a cama que você dorme, a roupa que você veste... Ainda quer discutir comigo!? Não era isso que você sempre quis na sua vida!? Ter essas regalias!? Agora tem mais do que o suficiente! - disse Palperhan levantando-se bruscamente da cadeira, apoiando as duas mãos sob o móvel, encarando sua esposa franzindo o cenho.
- Nunca pedi que você me desse alguma coisa! Sempre vivi como uma florista nessa cidade mesmo depois de casada! Lembra de todos os presentes que você me deu quando me cortejava? Quantas das vezes aceitei algum? - disse Adelaide levantando-se e o encarando da mesma forma.
- Nenhuma. - o semblante do banqueiro começava a murchar, ficando mais envergonhado do que irritado.
- E você sempre achou que eu era orgulhosa demais para aceitar seus presentes. Mas o que foi que eu lhe disse quando você desabafou para mim tudo isso que sentia?
- Disse que quando recusava os meus presentes, não era porque me detestava, mas sim porque apenas o meu amor por você era importante. - disse Palperhan olhando para o copo de suco sob a mesa. Seu semblante mudou e ficou sereno. Ele estava corado e deu uma leve risada. - Você até me deu um presente.
- Só quero que pare com tudo isso, tudo bem!? - Adelaide toca no delicadamente no queixo de seu marido, inclinando-o levemente até ficarem face a face. - Não precisamos ter essas regalias todas para viver. Nunca pedi por isso. Ser honesto e mostrar para o nosso filho que seu pai é agora um bom homem já é muito. Mesmo que venhamos perder tudo, o que importa é o amor que você tem por mim e o amor que tenho por você. Promete que vai parar com isso?
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Pentandade Lendária: A Estigma Divina
FantasíaNo grande reino de Garfinia, uma jovem chamada Estrith vivia junto com seu pai desfrutando de uma vida humilde. Porém, após um certo incidente, Estrith se encontra sozinha para, a pedido dos monges do templo da providência de Hagasashima, recuperar...