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*SEIS MESES ANTES *
Noite em que Aura decide seguir Júlio
Já fazia quase vinte minutos desde a saída de Júlio para aquele endereço misterioso que eu vira em seu celular tão logo chegávamos de Búzio.
Havia ligado para a baba de Sofia pedindo que viesse, pagaria o dobro do que costumávamos combinar. Tudo para pode seguir Júlio. .
— Prometo que até meia noite eu retorno! Não deixe Sofia até tarde vendo TV, ok? Se ela pedir leite, evite colocar muito achocolatado! — Eu dizia essas coisas enquanto colocava calçado e buscava pelas chaves do carro.
— Fique tranquila, Aura. Vá em paz. Qualquer coisa me ligue!
— Nem sei como agradecer, meu bem! De verdade!
Dentro do carro eu selecionei o GPS na tela do painel do carro. Colocava o endereço que vira no celular de Júlio naquela noite. Eu iria segui-lo e descobrir de uma vez por todas o que fazia pelas minhas costas todo aquele tempo.
Mas antes de dar partida , abri o porta luvas e peguei um pequeno envelope de papel pardo. Dentro dele havia quetamina desidratada — um pó branco semelhante a cocaína no aspecto. Quetamina é um tipo de sedativo. Eu conseguia as ampolas no hospital, sem que ninguém soubesse.
Abri o envelope e esparramei um pouco da droga no dorso da mão em uma carreira improvisada. Olhei para o resíduo sobre a pele e inalei como pude. Meu corpo chegou a se tremer todo de um prazer indescritível. Talvez mais pela ação que pelo efeito da droga — pois não havia tempo para qualquer efeito da quetamina no corpo em tão curto espaço de tempo.
Havia preparado quetamina por meio de desidratação há uma semana no forno de casa. Aproveitava os momentos quando Júlio estava no trabalho e Sofia na ecola.
Inúmeras vezes repeti esse processo, mas sempre desistia de usá-la e ter uma recaída com as drogas. Conseguia me manter forte, sem coragem para retornar a usar tais substâncias.
Contudo, esse contexto em que perseguia meu marido infiel, me pareceu uma situação mais que justa para usar a quetamina que havia preparado. Não sei se aguentaria lidar com tudo estando completamente sóbria.
Como era um doningo a noite — e já bem tarde — não peguei qualquer engarrafamento. As ruas estavam desertas.
Logo saía do flamengo rumo ao aterro, tomando a direção do centro do Rio.
Talvez aquele trajeto não fosse o melhor, mas era o que o GPS me indicava. E pelo horário eu preferi não tomar qualquer rota por conta própria e cair em uma comunidade desconhecida.
Saí do aterro para pegar o sentido dos Arcos da Lapa, cruzando toda a rua Mem de Sá , que para variar, estava abarrotada de gente. Nesse trecho peguei um pequeno engarrafamento, tomando todo cuidado para não atropelar os jovens barbados que atravessavam a rua por entre os carros.
Passados alguns poucos quilômetros, eu estava no cruzamento rumo a Avenida Presidente Vargas, reparando ao meu lado esquerdo o grande hopsital Salgado Filho.
Era uma baita ironia, pois fora onde Júlio me pedira em namoro, quando eu ainda trabalhava como interna de medicina na unidade — estava em uma das rodadas do internato no final da graduação.
Nas minhas ideias eu pensava que todo começo de relacionamento é um verdadeiro conto de fadas, mas basta o casamento passar por alguns anos e o primeiro filho surgir, para as coisas parecem desandar.
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APENAS UM TRAIDOR - ALERTA!
Mystery / ThrillerAura, Vick e Hanna são amigas de longa data. Trabalham como médicas em um hospital. As três parecem inseparáveis. Mas tudo pode mudar quando o marido de Aura passa a trai-la com alguém mais próximo do que a médica gostaria. Além de lidar com a c...