Tinha sido dada a largada. Quando os braços daquela garota se abaixaram junto a fita vermelha que ela segurava, foi como se um tiro tivesse sido disparado. Em um piscar de olhos, eu não estava mais ali, restando apenas a poeira que deixei para trás junto aos carros que eu ultrapassei.
“James Stone, O Inalcançável”. Assim as pessoas costumavam me chamar pelas ruas de Irvine, mesmo que eu demonstrasse o quanto odiava esse apelido. Mas no fundo, para mim, eu era apenas “James Stone”, um corredor quando podia, que dirigia um Mustang vermelho de 64, e que trabalhava no Restaurante Copas, de Edward Houston. Talvez eu fosse conhecido por muitas coisas: pelas minhas tatuagens, pela minha inseparável jaqueta preta ou talvez pelo meu cabelo sempre desarrumado – possivelmente, também, pelos cigarros que eu fumava constantemente, mesmo que não fosse algo pelo qual eu gostasse de ser lembrado.
Eu vi Morgana lá em cima e ela também me viu, mas acho que gostaria que isso não tivesse acontecido. Que tipo de visão ela poderia ter de mim agora? Algum tipo de marginal que participava de corridas ilegais por pura diversão? Não era bem por diversão e sim como uma fonte de renda extra. Não sei se deveria me importar muito com isso porque, na verdade, eu nunca fui o tipo de pessoa que costumava se importar com o que pensavam de mim. Talvez eu fosse mesmo apenas “James Stone”, um cara comum que fazia coisas erradas de vez em quando e que não se orgulhava delas. De qualquer forma, eu não era do tipo “certinho”, mesmo pelo menos não o tempo todo.
Enquanto eu corria, eu era a luz que iluminava a noite, o vento sussurrando e gritando ao mesmo tempo para que as pessoas não ficassem no meu caminho, pois eu não as perdoaria por isso. No calor do momento, meu sangue escorria frio pelas minhas veias. Eu poderia correr a noite toda, sem rumo, sem destino, sem propósito, sem objetivo. Meu coração, que normalmente batia rápido e descompassado em certos momentos, ali, batia como a mais perfeita e sincronizada coreografia, acompanhando a força e potência do meu motor. Eu me sentia muito bem, ah, sim, eu me sentia muito bem.
Aquele lugar costumava servir como uma grande ciclovia, mas lembrava mesmo um grande campo de baseball – me refiro às arquibancadas repletas de verde, cobertas por árvores e banhadas a flores. Se quisesse, poderia fazer um piquenique ali em cima enquanto observa as pessoas andando de bicicleta. Aquele lugar não tinha um nome; era apenas “A Pista”. A nossa pista, o meu refúgio para dias estressantes e nublados, onde eu nunca tinha certeza se gostaria de ver a chuva ou o sol, ou se gostaria de ficar entre os dois.
Às vezes, eu perdia os sentidos. É estranho, eu sei. Às vezes, enquanto corria, não prestava atenção em mais nada à minha volta, incluindo o som. Havia apenas uma vibração, um tipo de zumbido irritante que tomava conta de mim e me trazia de volta a realidade à medida que o barulho parecia diminuir. E à medida que o barulho diminuía, eu percebia que não precisava mais correr. Eu percebia que podia voltar. Que podia dar meia volta e voltar. Ao final da pista, havia um horizonte distante. Eu o observava com atenção e carinho sempre que cruzava a linha de chegada. Ah, sim, sempre. Eu o observava sempre, assim como estava fazendo agora porque, mesmo odiando o apelido, eu ainda era “James Stone, O Inalcançável”.
“James Stone segue invicto!”, gritou o homem no microfone. Eu sorri de canto com o anúncio.
Deixando o horizonte de lado, olhei para cima, me deparando com uma fila de pessoas gritando por mim, comemorando por mim, mais do que eu mesmo. Tenho que admitir que era divertido e até mesmo um pouco contagiante.
Conforme eu me aproximava do ponto de partida, eu procurava um pouco mais por ela. Olhei para um lado, olhei para o outro, tentando encontrá-la no meio da multidão até que finalmente meus olhos encontraram os seus. Seu cabelo escuro e brilhante voava através do seu rosto. Prestei atenção em seus olhos grandes e expressivos e na forma como sua boca entreaberta esboçava surpresa. Morgana Hawking me viu correr. Ela me viu vencer.
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AS BORBOLETAS ENTRE NÓS
RomantikMorgana Hawking esconde um segredo: durante o dia, ela é uma garçonete comum no Valete, um famoso restaurante de sua cidade, mas durante a noite, ela é a grande atração da mais badalada boate de Irvine, a Girl's and Girl's, na Califórnia. Suas desve...