6 • Mr. Tang

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Tang Sanzang é um belo jovem aspirante a discípulo do Buda que tirou alguns meses para meditar no deserto. Seus dias transcorriam tranquilos até um dia acabar caindo do teto em uma limpeza minuciosa e machucado o braço. Em seu cavalo, sua única companhia até então, foi para o povoado mais próximo e conseguiu encontrar médicos e remédios. Na volta para casa, após tratar e enfaixar seu braço ferido, encontrou dois macaquinhos andando e conversando. Achou curioso dois garotinhos, mesmo sendo yokais, completamente desacompanhados em pleno deserto.

- Olá pequeninos! Estão perdidos? - saudou e indagou o jovem Tang, com seus negros e lisos cabelos esvoaçando ao vento seco.

- Sim! Estamos! - Wukong logo tratou de responder. Não poderia, de forma alguma, deixar tantas pessoas saberem da busca pelo tesouro. Já há muitos obstáculos em seu caminho, não precisa de concorrentes que poderiam colocar tudo a perder.

- Nossa... - Tang franziu o cenho, sente pena dos dois, ainda mais de Macaque que estava mancando infelizmente por causa da travesia do mais recente obstáculo: havia escorregado ao escalar uma parede de pedregulhos. Tang aquieceu e convidou - parecem cansados, querem passar em minha casa? Prometo ceder abrigo das tempestades de areia e boas refeições.

- Aceitamos! - disseram os garotinhos em uníssono.

A casa de Tang, cuja maior parte é feita de pedras, possui seis cômodos. Três quartos, uma cozinha, uma sala e um banheiro. Cada um de tamanho modesto, com mobílias tão modestas quanto. É um lugar pequeno e cheio de vida. Ao se estabelecer por lá, Tang fez questão de reavivar o lugar que um dia já abrigou uma família de cinco pessoas. Fez um jardim ao derredor e se esforçou para usar o poço com frequência.

- Ah... isso que é vida! - Macaque se espreguiça em uma bacia cheia de água enquanto toma água de coco.

- Não vai se acostumando, não. Ainda temos um looongo caminho pela frente - Wukong boceja e se espreguiça em uma esteira feita de pele de tigre.

- Pelo visto, estão com sorte, ganharam mais um amigo para brincar - Tang sorri doce e apresenta Red Son diante dos dois yokais.

- Você?! - os aventureiros exclamam e ficam de queixo caído, não querendo acreditar no que vêem.

- Já se conheciam? - Tang inclina a cabeça para o lado e desce uma sobrancelha.

- Já... - Red Son responde com feições neutras.

- Bom - Tang endireita a cabeça e aperta levemente o ombro do rapaz de madeixas ruivas -, Red Son vai passar uma temporada morando aqui, foi a própria bodhisattva Kuan Yin que me pediu esse favor.

Os yokais assentem engolindo em seco. Red Son avisa que está com sede e sai, indo direto para a cozinha. Tang volta sua atenção para escrituras antigas na sala e os dois amigos permanecem no quintal. Wukong pega no sono mesmo um tanto preocupado com a aparição repentina do piromaníaco. Ao acordar, a primeira visão que tem é do seu amigo de belos pelos negros rabiscando algo ao seu lado. O yokai amarelinho, ainda esfregando os olhos para despertar completamente, pergunta rouco:

- O que está fazendo?

- Passando a limpo - Macaque suspira. - Não podemos correr o risco de perder o mapa de novo. Foi quase queimado da última vez...

Wukong estava prestes a dizer que não precisava ter medo de Red Son mas desistiu e se levantou. Depois de um banho, viu Tang tateando o chão da copa. Ia perguntar qual era o problema mas se contém quando avista um par de lentes brilhando perto de si. Se abaixa, recolhe o óculos, passa nos pelos para tirar a areia e entrega ao jovem que ainda tateava.

- Aqui.

- Ah muito obrigado, Wukong - Tang coloca os óculos e se levanta, batendo nas vestes para se limpar. - Quer me ajudar a preparar o jantar?

Wukong & MacaqueOnde histórias criam vida. Descubra agora