CAPÍTULO ÚNICO:Tecidos e floreios.
Sigma é uma mulher e, de alguma forma — igual olhar para cima e dizer que o céu é azul —, ela sempre soube disso, todavia, demorou um tempo para dizer isso em voz alta, e quando o fez não foi para as outras pessoas ouvirem, foi apenas por si mesma.Quando as máscaras não eram mais necessárias, o alívio acariciou seus ombros e o policiamento escapou de suas conversas. Ouvir isso em voz alta fez seus pulmões inflarem e ela riu sozinha na segurança de seu quarto, na penumbra da lua, de pé em frente a um espelho vertical de corpo inteiro.
No entanto, entre quase dois anos que se passaram, diferente do primeiro momento no qual ela sentiu a obrigação de se afirmar visualmente, Sigma nunca teve vontade de usar roupas específicas para mostrar aos outros sua identidade. Ela sabia que não precisava, apenas ela e seus namorados, Nikolai e Fyodor, saberem que apesar de nenhum vestido, saia ou muitos babados e floreios em seus armários ela era definitivamente tão mulher quanto qualquer outra e, do seu jeito, tão feminina, era mais do que o suficiente.
Porém, quando a vontade floresce e Sigma não tem motivos para reprimir, o assunto é trazido à tona de maneira repentina, Sigma não tem certeza de que precisaria de um momento específico ou um aquecimento antes de dizer, então ela apenas espera para que Fyodor e Nikolai estejam na mesa durante o café, um pouco mais acordados do que quando ainda estavam vagando pelo quarto recém despertos.
— Eu quero trocar minhas roupas.
Fyodor ergue os olhos de sua torrada para encarar Sigma, a faca coberta de geleia paira sobre o pão e começa a pingar, mas Fyodor não está prestando a atenção.
Nikolai não para de mastigar, no entanto, engole rápido com um gole de café para dedicar toda a sua atenção a Fyodor e Sigma.
— Oh, — Fyodor murmura ainda um pouco confuso com o assunto repentino, entretanto, ele sorri quando Sigma mantém sua determinação. — Tudo bem.
— Aconteceu alguma coisa com as suas roupas? — Nikolai pergunta.
Sigma se mexe na cadeira, é mais empolgação contida querendo transbordar para além de sua expressão séria do que desconforto.
— Não, eu só quero ter outras — diz Sigma. — Quero dizer, eu quero outras roupas. Roupas novas.
Fyodor pisca e, uma luz parece se acender em sua mente quando seu olhar brilha em compreensão, ele sorri para Sigma.
— Qual tipo de roupa, querida?
Sigma pisca os olhos, morde o lábio enquanto seu olhar vaga entre os dois e sorri timidamente puxando uma mecha de seu cabelo bicolor para trás.
— Blusas, talvez alguns shorts, mas principalmente saias ou vestidos — a voz de Sigma vai se tornando pequena até quase sumir abaixo do ruído abafado da tevê ligada no cômodo ao lado.
Ela nunca quis um vestido ou uma saia com tanto fervor, talvez fosse o medo do julgamento se manifestando nas sombras, mas, de qualquer maneira, Sigma sabia que o momento em que passar por vitrines e apenas admirar o balanço da saia rodada de um vestido e o caimento perfeito de uma lingerie rendada nos manequins deixaria de ser um simples apreciação para se tornar um desejo; e ele chegou, então Sigma atendeu.
Nikolai e Fyodor não hesitaram em acompanhá-la, talvez até mais ansiosos para as compras do que Sigma.
Na terceira loja de suas buscas, espiando entre uma arara e outra, ela percebeu que as peças eram todas tão suaves e delicadas, com aparência frágil e relativamente pequenas.
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Lavender and Velvet
FanfictionSigma nunca sentiu a necessidade de usar roupas específicas apenas para reafirmar sua identidade de gênero, contudo, com a autoconfiança florescendo e o desejo de saber como as peças um pouco mais delicadas ficariam em seu corpo surgindo genuinament...