Uma semana depois…Numa ilha do rio Sena, tendo como pano de fundo a silhueta noturna de uma catedral antiquíssima, os moradores de Paris saem para se divertir. Rangi caminha em meio a engolidores de fogo, batedores de carteiras e chanteurs de rue. Ziguezagueia através de tribos de góticos cobertos por capuzes pretos que enchem o pátio da Notre-Dame como se a catedral fosse a sua nave-mãe gótica chamando-os para entrar em casa. Mesmo assim, ela atrai a atenção.
Os espécimes masculinos da raça humana diante dos quais ela desfila giram
a cabeça lentamente à sua passagem, sobrancelhas unidas, sentindo algo no ar
que não identificam. Provavelmente uma memória genética de muito tempo atrás; algo que lhes sinaliza que ela é a sua fantasia mais selvagem ou os seus pesadelos mais obscuros.Rangi não é nada disso.
É uma simples aluna recém-formada na Universidade de Tulane, sozinha em Paris e morrendo de fome. Cansada de mais uma busca infrutífera por sangue, joga-se sobre um banco rústico debaixo de uma cerejeira, os olhos grudados numa garçonete que serve espressos num café em frente. Se o sangue corresse assim tão facilmente, pensa Rangi. Ahhh… Se ele saísse sempre quente e encorpado de uma torneira inesgotável, seu estômago não se contorceria de fome diante dessa ideia.
Faminta em Paris. E sem amigos. Poderia existir apuro pior?
Os casais que circulam de mãos dadas pelo caminho coberto de cascalho parecem zombar de sua solidão. Somente ela acha isso, ou os amantes realmente
parecem trocar olhares mais apaixonados nessa cidade? Especialmente na primavera. Morram, desgraçados!Suspira. Não é culpa deles o fato de serem desgraçados que um dia morrerão.
Rangi tinha sido levada até ali e entrado naquela furada graças aos ecos no seu quarto de hotel e à ideia de que poderia encontrar algum traficante de sangue na Cidade Luz. Seu antigo contato tinha ido para o sul; literalmente, voara de Paris para Ibiza. Dera poucas explicações para sua atitude, dizendo apenas que, devido à “ascensão iminente do novo rei”, uma “merda absurdamente épica” estava se formando em “gay Paree”. O que quer que isso significasse.
Na qualidade de vampira, ela era um membro do Lore, o grupo de seres que
conseguira convencer os humanos de que só existiam na imaginação deles. Apesar de o Lore estar bem representado ali, Rangi não tinha conseguido encontrar um outro fornecedor de sangue. Todas as criaturas que sondava em busca de informações fugiam na mesma hora, só pelo fato de ela ser uma vampira. Corriam apavoradas sem descobrir que ela nem mesmo era uma vampira de raça pura; não passava de uma fracote que nunca tinha mordido outro ser vivo. Como suas cruéis tias adotivas gostavam de dizer: “Rangi é uma tola que derrama suas lágrimas cor-de-sangue até quando esbarra em asas de
mariposa.”Rangi não tinha realizado nada de bom na viagem que insistira tanto em fazer. Sua busca por informações sobre os pais falecidos – sua mãe, uma Valquíria, e o vampiro desconhecido que era seu pai – tinha sido um fracasso completo. Uma derrota que culminaria em breve com o telefonema que daria para suas tias, pedindo-lhes que viessem buscá-la. Porque a verdade é que nem mesmo conseguia se alimentar de forma apropriada. Que situação patética! Suspirou longamente. Seria zoada por causa disso por uns 70 anos, pelo menos…
Ouviu um estrondo e, antes de ter tempo de sentir pena da garçonete que viu ser atingida por algo, ouviu mais outro estrondo, seguido de um terceiro. Virou a
cabeça de lado, curiosa, no instante em que uma mesa era erguida do chão com
o guarda-sol e tudo, para em seguida ser lançada cinco metros acima e descer
suavemente sobre o rio Sena como um paraquedas que se abria. Um barco
apitou com fúria e vários palavrões encheram o ar.
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Desejo Insaciável (Rangshi)
RomanceA lenda de uma feroz lobisomem e uma encantadora vampira - improváveis almas gêmeas cuja paixão testará os limites da vida e da morte. Adaptação do livro Desejo Insaciável escrito por Kresley Cole. Avisos: Literatura erótica, linguagem imprópria, so...