Elisa
Mesmo com ódio estampado em seus olhos; mesmo suas lágrimas de sofrimento escorrendo por seu rosto machucado, Daniel foi incapaz de me deixar ir. Sua personalidade de salvador não permitiu que Glen me levasse novamente para àquele lugar.
- Daniel. Acho melhor soltá-la, ou então eu serei obrigado a matá-lo.
As palavras saiam embargadas da boca de Glen, não era sua vontade tudo isso estar acontecendo, apenas seu patrão medíocre o comandava.
- Você sabe, Glen - Sem nem forças para levantar-se, mas Dan ainda me segurava enquanto o respondia -. Eu não serei capaz de deixar você levar a Elisa assim - ele limpa o sangue que escorre no canto de sua boca -. Você terá que me matar, se a quiser.
Os dois se entreolhavam, a arma apontada para Daniel, a mão de Glen tremia. Era nítido o seu nervosismos, apesar de não ser sua primeira vez apontando uma arma para alguém, ele sabia que isso o destruiria caso matasse seu melhor amigo.
Eu estava estagnada; mórbida. Minha pernas latejavam pois já tínhamos andado mais de dez quilômetros para fugir daquele lugar miserável; estávamos cansados e machucados. O gosto metálico ainda se fazia presente em minha boca, e o ardor do corte em minha barriga aumentava; eu estava perdendo sangue e sabia que se demorasse um pouco mais, talvez eu mesma morreria ali.
- Solte-a agora!! - Glen grita do outro lado da estrada, se não fosse pela vertigem, eu diria que teria visto seus olhos marejarem ao insistir com a arma apontada para nós.
Daniel se inclina para trás, chegando seus lábios próximo ao meu ouvido, e sussurra.
- Quando eu disser "já", você irá correr e não olhe para atrás. Logo à frente tem uma ponte, se esconda embaixo dela, em meio às árvores.
- Mas e você? - questiono mesmo sabendo da resposta.
- Eu irei mantê-lo distante. Vou assim que puder. Mas se eu demorar mais de dez minutos, não me espere, continue correndo pela mata.
Imbecil. Idiota. Que ideia mais ignorante. O Glen nunca o deixaria ir tão fácil; mas que merda, tudo isso é culpa minha.
- Tudo bem, Glen, você venceu - Daniel levanta suas mãos em sinal de rendição, mas mantendo-se à minha frente. - Você venceu. Eu vou me retirar.
Em passos lentos, Daniel caminha em direção ao Glen. Suas mãos suadas continuam ao alto, e aos poucos seu corpo quente vai chegando mais próximo ao de seu amigo; segurando firmemente a calibre 36, Glen o manda entrar dentro do carro. A distância entre os dois era de pouco mais de três metros, estavam muito próximos. Um passo mal dado. Um movimento brusco e com certeza Glen não hesitaria em apertar o gatilho.
Meu coração palpitava forte, a cada passo que o Daniel dava, minha carne estremecia. Meu corpo estava frio, mesmo com um sol radiante e um calor de 31*C. Minha respiração estava ficando cada vez mais intensa, eu estava com medo - mas que merda, mas que merda, mas que merda -, minha mente estava a mil. Tudo poderia acontecer naquele segundo.
- Calma amigo - Daniel diz ao apropinquar cada vez mais. - Vamos resolver isso numa boa.
Por um segundo, vejo Glen abaixar a guarda, e Daniel não perde a oportunidade. Em um movimento rápido, quase imperceptível, suas mãos vão direto para a arma que Glen segura, a colocando para cima. Daniel o abraça firme e os dois caem no chão, grudados feito fita isolante em fio escapado.
- Vai Elisa!!!! - Daniel exclama com a voz amarrada com o esforço - Corre!!!!
E como um instinto, dou meia volta e começo a correr. Minhas pernas a cada passo que dava, me castigavam com uma dor imensa. Mas aquela altura, eu nem me importava mais. Nem mesmo o corte me doía.
Minhas lágrimas escorriam desesperadamente pelo meu rosto coberto de poeira, meu coração agora parecia que ansiava para sair do meu corpo; meus pulmões trabalhavam 2x mais.
Ao ficar mais àbdito, mas ainda conseguindo enxergá-los, meu corpo cambaleia, minha pernas enfraquecem e minha visão se escurecesse - eu estou... desmaiando? - sem forças para me sustentar, caiu de joelhos, tombando para o lado. Reviro meu corpo em direção à Glen e Daniel, e estendo minha mão em um pedido silencioso de ajuda. Falho miseravelmente.
Antes de perder a consciência, escuto ao longe, um estrondo que ecoa por todo aquele deserto. BOOOMM!!!! Um barulho inconfundível, semelhante a fogos de artifícios, mas mais estrondoso. Com certeza aquele foi o som de um disparo. Sem ver nada ao horizonte, fecho meus olhos.
Daniel. Eu te amo, meu amor.
Minha última lágrima escorre, e então tudo se apaga.
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O Prenúncio
RomanceEnquanto precisa lidar com a faculdade, trabalho e contas, Elisa agora precisa se preparar para encarar um antigo amor. Daniel assume o seu papel com CEO na empresa, após seu pai falecer. O encontro de dois amores passados causam turbulências entre...